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Violência contra as mulheres

26 de Fevereiro de 2020 às 00:01

O último final de semana, que coincidiu com o início do Carnaval, teve um grande número de casos de agressões contra mulheres em Sorocaba e Votorantim.

Todas as ocorrências acabaram sendo atendidas pelos policiais que trabalham no projeto Carnaval Mais Seguro, uma mobilização da PM para garantir a segurança da população e que termina nesta quarta-feira. Em alguns casos, houve ação da Guarda Civil Municipal (GCM).

Ao todo foram cinco casos registrados em Sorocaba e um em Votorantim. E o primeiro registro aconteceu na noite de sábado, quando uma mulher residente na zona leste de Sorocaba acionou a polícia, pois estava sendo ameaçada de agressão pelo filho que também dizia que colocaria fogo na casa, versão confirmada pela vizinhança.

No domingo, outro caso semelhante ocorreu no Parque Esmeralda. A mulher estava sendo agredida pelo companheiro que também ameaçava atear fogo na residência. A GCM atendeu uma mulher que além de agredida foi mantida em cárcere privado e, em outro caso, um homem foi acusado de ameaçar a ex-mulher e foi preso após ela acionar o botão de pânico.

Mas o caso mais violento aconteceu em Votorantim, mais precisamente no Jardim Tatiana, onde uma discussão entre o casal em um bar evoluiu para a agressão. O comportamento extremamente agressivo do homem chamou a atenção de outros frequentadores que passaram a agredi-lo.

Seu corpo foi encontrado pouco depois na calçada com marcas de espancamento e tiro, um crime que ainda precisa ser esclarecido, pois a mulher vítima de agressão fugiu do bar e não presenciou o espancamento. Todos os casos foram encaminhados às Delegacias de Defesa da Mulher (DDMs).

No último dia 8 de fevereiro começaram as ações de conscientização sobre a violência contra a mulher em Sorocaba promovidas pelo Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (CMDM), um mês antes de 8 de março, quando é celebrado o Dia Internacional da Mulher.

Nos últimos anos, além do trabalho de esclarecimento entre as mulheres sobre seus direitos, foram criadas delegacias especializadas, dispositivos tecnológicos como o botão do pânico e outras tecnologias para dar proteção à mulher. Mesmo assim o número de registros de agressões e maus tratos só cresce. O aumento de registros policiais não significa obrigatoriamente que agressões desse tipo sofreram aumento repentino.

Para muitos especialistas, essas novidades tecnológicas e o atendimento policial especializado nas DDMs podem ter desinibido muitas vítimas de maus tratos que passaram a denunciar seus problemas. A violência contra as mulheres, principalmente no ambiente doméstico, sempre foi grande. Mas o fato é que o número de casos é muito alto, um aspecto doentio de nossa sociedade.

O CMDM de Sorocaba segue a linha de que o apoio masculino é importante para acabar com esse tipo de violência. A mulher agredida, lembra uma representante da instituição, mesmo com os avanços dos últimos anos e com a criação de delegacias especializadas, é vítima mais de uma vez por conta do sistema.

Além da agressão física ela sofre com a falta de compreensão tanto quando vai prestar queixa em uma delegacia de polícia comum, como no Judiciário, quando muitas vezes seu depoimento é desclassificado. São comuns situações vexatórias para a vítima provar o que ocorreu.

Essas questões, que fazem parte do plano de luta das mulheres, serão abordadas em uma audiência pública que será realizada no dia 2 de março, quando as autoridades serão cobradas sobre esses casos. Há inclusive um movimento que pede a mudança da atual DDM para que fique em local mais central, para facilitar o acesso das mulheres vítimas de agressão.

A atual sede da delegacia especializada fica no Jardim América, um local considerado de difícil acesso. O fechamento do IML durante o final de semana também será debatido na audiência pública, pois o órgão é fundamental para atender vítimas de violência sexual.

Outro assunto que preocupa na questão da violência contra as mulheres é a imprecisão ou mesmo falha nas estatísticas da Secretaria de Segurança Pública.

No site da SSP consta que no ano passado 182 mulheres foram assassinadas, sendo que 104 casos ocorreram no interior. Sorocaba teve quatro casos de mulheres assassinadas no ano passado e nenhum caso está registrado nas estatísticas da SSP.

Sem constar das estatísticas, é como se os crimes não tivessem acontecido. Esse tipo de falha atrapalha a criação de políticas públicas para combater o problema justamente no país que é considerado por organismos internacionais o 5º mais violento do mundo para as mulheres.