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Meio ambiente

Água do rio Tietê fica escura novamente nesta semana em Salto

Prefeitura de Salto diz que a lama é causada por esgoto não tratado da Grande São Paulo

30 de Setembro de 2022 às 00:01
Vinicius Camargo [email protected]
Ambientalista diz que lama é tóxica e pode afetar a fauna e a própria população
Ambientalista diz que lama é tóxica e pode afetar a fauna e a própria população (Crédito: ARQUIVO JCS (19/09/2018))

A cor da água do rio Tietê no trecho que corta a cidade de Salto ficou novamente escura nesta semana. Conforme a Prefeitura, a lama é proveniente de esgoto não tratado da Região Metropolitana de São Paulo (RMPSP), formada por 39 municípios. A municipalidade diz que os dejetos se acumulam no fundo da represa da Usina de Rasgão, em Pirapora do Bom Jesus. A diretora de políticas públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro, confirma.

O material pode afetar a fauna e a própria população, pois pode desencadear problemas de saúde, segundo a especialista ouvida pelo Cruzeiro do Sul e a própria Prefeitura de Salto.

De acordo com Malu, a sujeira é oriunda da poluição cotidiana e se amontoa na barragem, principalmente, durante o período de seca. Assim, na época de chuvas, escoa para todos os reservatórios da RMPSP. “Quando enche de sedimentos, lodo e sujeira, em vez de tirar (o material), eles abrem a barragem, porque, se não abrir, pode ter enchente e até arrebentar a represa”, explica ela.

Malu afirma que a lama é altamente contaminada e tóxica. Isso porque é composta de matéria orgânica e inorgânica em alta decomposição, oriunda de esgoto tratado e não tratado. Também contém bactérias e coliformes fecais. pode prejudicar a fauna do rio. “A lama forma algas que consomem esses rejeitos e o oxigênio, e isso mata peixes”, alerta. Segundo a Prefeitura de Salto, desta vez, não há, ao menos por enquanto, registro de mortandade de peixes.

Por conta da toxicidade dos dejetos, os munícipes também podem desenvolver doenças, caso tenham contato com a água. Segundo a especialista, problemas na pele, diarreia e até outras mais graves, como hepatite, são algumas delas. Por isso, deve-se evitar ter contato com a água enquanto ela estiver escura. É importante ficar longe até mesmo das margens, já que os poluentes se propagam, igualmente, pelo ar. “Quando respiramos essa brisa, inalamos, também, contaminantes”, diz ela. Além disso, os tutores devem impedir animais de estimação de se aproximar do rio, pois, uma vez contaminados, eles transmitem patologias para os humanos.

Além de tudo isso, a própria cidade sofre as consequências dessa situação.“O prejuízo ao meio ambiente, turismo e à própria população das cidades do Médio Tietê, como é o caso de Salto, é incalculável”, aponta a administração municipal.

Outro problema

Outro problema frequente no trecho do rio Tietê em Salto é o aparecimento da espuma. Geralmente, a baixa vazão do rio, atrelada à presença de substâncias surfactantes, encontrados em produtos de limpeza, causa esse tipo de poluição. Isso acontece, sobretudo, em estações mais frias, nas quais a estiagem é maior, como outono e inverno. Nessa época, o tempo seco favorece a concentração de poluentes e, consequentemente, a aparição do material.

Ambientalista aponta soluções

A ambientalista Malu Ribeiro explica que, como possui corredeiras, o trecho do rio Tietê em Salto tende a se livrar da lama mais rapidamente do que em outras cidades onde a correnteza é mais calma, como em Laranjal Paulista e Barra Bonita. Dessa forma, a lama se acumula mais no fundo. Segundo a Prefeitura de Salto, com a vazão maior, a mancha já está, inclusive, se dissipando e o rio vai apresentando melhores condições.

Para solucionar esse problema que é recorrente em quase todos os anos, a especialista aponta três medidas principais. A primeira é a limpeza da barragem de Pirapora de Bom Jesus antes do período de chuvas. Assim, impede-se a dissipação do material armazenado na represa. Conforme Malu, no início de 2021, o Governo do Estado de São Paulo iniciou esse trabalho, mas não com a intensidade necessária. Ela ainda considera essencial associação essa ação a mudanças tecnológicas no processo de coleta e tratamento de esgoto.

Para ela, os aprimoramentos têm de começar a partir do avanço nas metas do Projeto Tietê, desenvolvido pelo governo estadual. A iniciativa prevê a ampliação das redes coletoras na Região Metropolitana de São Paulo. O governo saltense atribui o problema da mancha justamente ao tratamento de esgoto inadequado em cidades vizinhas. “Embora Salto trate quase 100% de seu esgoto, é diretamente afetada pela negligência de outras cidades”, alega.

Outra providência citada pela representante da SOS Mata Atlântica é a despoluição e a recuperação das matas ciliares no entorno do Tietê. Para tanto, ela sugere  a criação de áreas verdes e parques como uma opção. De acordo com Malu, elas ajudam diretamente no combate à poluição. “Elas ajudam a conter o solo e essa sujeira. quando a chuva ocorre. Sem elas, com tudo asfaltado e ocupado por solos permeáveis, é a calha do rio que recebe tudo isso”, explica. (Vinicius Camargo)