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Sob suspeita

Acatada denúncia sobre imóvel comprado para ser sede da Educação

Justiça aceita provas em mais um capítulo do imbróglio da compra da nova sede da Secretaria da Educação

17 de Janeiro de 2023 às 00:01
Wilma Antunes [email protected]
Vista aérea do Campolim, um dos bairros mais valorizados de Sorocaba
Vista aérea do Campolim, um dos bairros mais valorizados de Sorocaba (Crédito: DIVULGAÇÃO/SECOM SOROCABA)

O imbróglio da compra possivelmente superfaturada de imóvel para ser sede da Secretaria da Educação (Sedu) de Sorocaba ganhou um novo capítulo. Isso porque a Justiça recebeu ontem (16) uma denúncia oferecida pelo Grupo de Atuação Especial de Representação ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), contra os envolvidos na aquisição do imóvel.

Duas pessoas que prestavam serviço para a Prefeitura Municipal foram citadas no processo: o secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo (Sedettur), Paulo Henrique Marcelo, e o ex “supersecretário” Fausto Bossolo, que chegou a acumular diversas pastas ao mesmo tempo no governo de Rodrigo Manga (Republicanos).

O que está em investigação é o valor da nova sede da Sedu, que fica na rua Romeu do Nascimento, 247, no bairro Campolim. O prédio foi avaliado em R$ 19,5 milhões antes da compra do Executivo e, para fins de desapropriação, foi declarado utilidade pública. A aquisição da propriedade pela administração municipal, no entanto, custou R$ 29,8 milhões aos cofres públicos.

A investigação gira em torno dos R$ 10 milhões cobrados a mais no contrato de compra e subtraídos em favor da empresa AFF Empreendimentos Imobiliários e Participações Ltda., que vendeu o imóvel. O laudo de avaliação do prédio, elaborado anteriormente por uma engenheira civil do setor de avaliações e perícias do município, trazia o preço de R$ 19.500 milhões.

De acordo com os autos processuais, entre os dias 12 e 19 de novembro de 2021, Bossolo ofereceu R$ 20 mil para que o engenheiro Areobaldo Negreti, que na época compunha a Secretaria de Planejamento e Projetos, emitisse um laudo de avaliação de preço maior. O pagamento teria sido feito em cédulas de R$ 100, entregues em um envelope a Negreti. Na ocasião, Bussolo era titular da Secretaria de Administração.

Em meados de outubro e novembro do mesmo ano, Paulo Henrique, secretário de Urbanismo e Licenciamento na época, e Bossolo teriam se reunido com os empresários Arthur Fonseca Filho e Renato Machado de Araújo, sócios da AFF, para colocar o plano em prática
“Areobaldo esteve com o denunciado Paulo Henrique Marcelo, no interior da Prefeitura, que o conduziu ao gabinete do também denunciado, Fausto Bossolo. Nessa oportunidade, Fausto informou ao engenheiro da necessidade da avaliação do imóvel objeto da desapropriação em R$ 30 milhões. Confidenciou, ainda, que ‘o negócio já estava acertado, por isso o valor deveria ser aquele’”, diz trecho da denúncia do MP.

Além do preço exorbitante, no contrato da compra do prédio consta itens que o imóvel não possui. Alguns deles são os elevadores de alta velocidade, heliponto e ampla área de estacionamento. Nada disso é encontrado na nova sede da Sedu.

Para a juíza Margarete Pellizari, que assinou o despacho, há indícios da materialidade e da autoria do crime. “Estamos no campo do Juízo da probabilidade, e não no juízo da certeza necessária à condenação, nem de mera notícia da infração. Há indícios de autoria e ficou demonstrada a materialidade dos crimes”, escreveu. Os citados no processo tem o prazo de dez dias para oferecem resposta à acusação.

Outro lado

O Cruzeiro do Sul entrou em contato com todos os envolvidos na compra do prédio da Sedu, somente Fausto Bossolo respondeu. “Não sei do que se trata a acusação, pois sequer fui intimado sobre qualquer denúncia ou processo a respeito”, disse. A reportagem, então, encaminhou a decisão da Justiça ao ex-secretário. Bossolo visualizou a mensagem e não retornou mais.

A Prefeitura, por sua vez, informou que já existe um procedimento administrativo aberto para apurar os fatos. “A Administração continuará colaborando com a Justiça nos esclarecimentos que se façam necessários, de modo que todos os questionamentos sobre o caso sejam devidamente esclarecidos”, finalizou. (Wilma Antunes)