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Um lugar para acolher refugiados e imigrantes que chegam a Sorocaba

Instituto Kayton em Ação, com sede na Vila Rica, já deu amparo a mais de 450 pessoas

19 de Outubro de 2024 às 21:00
Vinicius Camargo [email protected]
A entidade foi criada após Carla Mota conhecer haitianos com dificuldades para se adaptar em Sorocaba
A entidade foi criada após Carla Mota conhecer haitianos com dificuldades para se adaptar em Sorocaba (Crédito: VINICIUS CAMARGO (30/9/2024))

Imigrantes e refugiados costumam deixar seus países, na maioria das vezes, para fugir de dificuldades. A chegada a uma nova nação pode, sim, significar o fim dos obstáculos anteriores. Mas, ao mesmo tempo, há a possibilidade de surgirem outros. Para ajudar estrangeiros a interromper esse ciclo de adversidades e realmente conseguir uma vida melhor no Brasil, a assistente social Carla Cristina Portela de Jesus da Mota criou o Instituto Kayton em Ação. Fundada em 2019, a instituição já atendeu mais de 450 pessoas em Sorocaba e região.

Carla teve a ideia de criar a entidade após conhecer haitianos com dificuldades para se adaptar em Sorocaba. Percebendo os problemas, ela os auxiliou a conseguir emprego, aprender português e ter acesso a recursos básicos, como alimentação, educação e moradia. A assistente social ficou contente com o resultado alcançado, mas não se deu por satisfeita em amparar apenas aquelas pessoas.

Percebendo que a situação daquele grupo era a mesma de muitos outros imigrantes e refugiados, a idealizadora decidiu ampliar o seu trabalho. Primeiro, fazia tudo sozinha e sequer tinha um espaço físico para o seu projeto. Com o tempo, a iniciativa foi ficando mais sólida. A conquista da sede veio em 2022, quando a Prefeitura de Sorocaba cedeu um prédio na Vila Rica. Os avanços continuaram com a chegada de cinco voluntários. O instituto atua em algumas frentes principais. São elas: encaminhamento para o mercado de trabalho, alfabetização em língua portuguesa, captação de doações e suporte na emissão de documentos para permanência no País.

Falta de políticas públicas

De acordo com Carla, refugiados são os que mais precisam de assistência. Isso porque, geralmente, são forçados a sair de sua terra natal. “Eles vêm buscar uma oportunidade, pois, infelizmente, tiveram que deixar toda a sua história e cultura para trás por algum conflito, por causa de terremoto, de guerra”.

Eles costumam chegar sem a mínima estrutura para se estabelecer em terras brasileiras. E também não encontram subsídios para isso aqui, pois o País carece de políticas públicas voltadas a essas pessoas. “A nossa própria Constituição diz assim: todos são iguais perante a lei, brasileiro e estrangeiro. Mas, quando eles chegam aqui, as coisas são diferentes”, diz.

Com o intuito de não deixá-los totalmente desamparados e promover a igualdade social, o Kayton tenta preencher ao menos um pouco dessa lacuna. Para tanto, oferece condições para os atendidos viverem, de fato, no Brasil, e não apenas sobreviverem. “Quero que eles tenham melhor qualidade de vida, isso é importante. Dar cesta básica para uma pessoa não é dignidade. A dignidade é ela ter um emprego e comprar o que quer comer”, considera Carla.

 

‘Tudo me deixa feliz... aqui, está bem melhor que o Haiti’

 

O haitiano Jocelin Dorcine, de 50 anos, mudou-se para Sorocaba em 2014, devido à falta de trabalho no seu país. Segundo ele, irregularidades na política são a causa do desemprego de grande parte da população. Quando morava lá, o que ganhava como sapateiro mal dava para comprar comida.

Dorcine teve a ajuda do Instituto Kayton para aprender português e conseguir um emprego formal — no início, trabalhava esporadicamente como pedreiro. Ele já fala bem o idioma e atua como operador de máquinas em uma fábrica da cidade há mais de um ano. O imigrante conta não ter do que reclamar da sua realidade atual, pois, com o seu salário, consegue se sustentar e também amparar a família que ficou no Haiti.

Para se sentir totalmente realizado, só falta conseguir trazer os dois filhos, ambos de 14 anos, ao Brasil. Mas, enquanto isso não acontece, o pai oferece mais conforto aos jovens de longe, mandando dinheiro e pagando os estudos. Outro plano é sair do aluguel e construir uma residência no terreno comprado em Votorantim. Dorcine também sonha em estudar e tornar-se cientista político. Os seus objetivos são despertar o desejo de mudança no povo haitiano, mostrando-lhe as falhas na política do país caribenho, para, assim, formar uma corrente capaz de transformar o cenário daquela nação. “Meu país precisa disso. Eu quero muita gente comigo para mudar o meu país.”

Felicidade

“Tudo me deixa feliz”, diz a haitiana Marlne Pierre Sylva, de 33 anos, quando perguntada sobre qual é a melhor parte de viver em Sorocaba. Ela chegou em 2018 — quatro anos depois do marido —, com as três filhas, de 3, 9 e 15 anos. Também imigrou por causa da escassez de emprego e não pensa mais em voltar para a terra natal. Enquanto lá parecia quase impossível conquistar uma vaga de emprego, aqui, ela é auxiliar de limpeza em uma fábrica mesmo sem falar português fluente. Ela diz que o seu salário é suficiente para ter bem-estar e ajudar familiares no Haiti.

A oportunidade foi obtida com o auxílio da instituição. A Organização Não Governamental (ONG) ainda a ajuda, desde 2023, a aprender o idioma local, para ela ter mais autonomia. Na chegada à cidade, a imigrante também contou com o suporte da entidade para matricular as filhas na escola e obter os documentos para poder ficar no País. Além disso, recebeu doações de comida, roupas e sapatos até arranjar trabalho e ter condições de comprar tudo isso.

Para o futuro, Marlne planeja adquirir a casa própria e trazer a mãe. Ela é bastante tímida, mas, quando fala dessas metas e dos progressos já alcançados, por menos que sejam, sorri facilmente. E o motivo dessa alegria é resumido em uma frase. “Aqui, está bem melhor que o Haiti”. 

 

Instituto aceita doações e trabalho voluntário

 

O Instituto Kayton em Ação aceita doações tanto financeiras, quanto de alimentos, roupas, sapatos, brinquedos, móveis, eletrodomésticos, entre outros itens. Os interessados em contribuir ou em ser voluntários podem entrar em contato pelo telefone (15) 99666-1743, e falar com Carla Mota. 

 

 

 

 

 

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