Em meio às chuvas fortes e recorrentes alagamentos, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Sorocaba tem implementado uma série de intervenções para combater as enchentes no município, com foco na melhoria da rede de drenagem. No entanto, especialistas atestam que, embora as obras realizadas até agora tragam avanços, os problemas ainda não estão totalmente resolvidos.

Entre as principais ações em andamento está a construção do Reservatório de Detenção de Cheias (RDC) no Parque dos Italianos, uma estrutura destinada a reter as águas da chuva e reduzir os alagamentos, especialmente em áreas como a avenida Afonso Vergueiro e a Praça da Bandeira, locais que, frequentemente, enfrentam alagamentos.

A primeira etapa das obras do RDC, que inclui a ampliação do leito do Córrego Supiriri, foi realizada com o objetivo de aumentar a vazão e melhorar o escoamento de água da chuva. Tomando como base as recentes chuvas, a Prefeitura de Sorocaba alega que os resultados já começaram a ser observados, mas os estudos continuam para ampliar a capacidade do reservatório.

Desassoreamento de córregos

Além disso, o Saae tem investido em outras obras, como o desassoreamento de córregos e a substituição de travessias para permitir maior escoamento das águas pluviais. Em locais como o Jardim Magnólia e Jardim Mathilde, por exemplo, novas travessias são instaladas, enquanto outras obras de drenagem já foram concluídas em bairros como Éden e Vila Haro. No entanto, a eficiência das intervenções continua sendo questionada por especialistas.

O Saae também anunciou que as melhorias na microdrenagem da Praça da Bandeira estão em andamento e destacou que não houve mudanças no traçado do Córrego Supiriri. O canal antigo, que passa sob a avenida Afonso Vergueiro, continua a ser utilizado, enquanto os estudos de engenharia para mais melhorias de macrodrenagem seguem em andamento. O objetivo dessas intervenções contínuas é minimizar os impactos dos alagamentos na região.

Importantes, mas não suficientes

Em entrevista ao Cruzeiro do Sul, o professor William Dantas Vichete, especialista em engenharia ambiental da Universidade Estadual Paulista (Unesp), explicou que as obras, como o RDC e o desassoreamento dos córregos, são importantes, mas não suficientes para eliminar o risco de alagamentos. Segundo ele, o aumento das chuvas intensas na região de Sorocaba exige uma abordagem mais abrangente.

“A utilização de reservatórios de detenção como o do Parque dos Italianos é eficaz, mas a eficiência dessas estruturas depende de um planejamento integrado que envolva ações de drenagem convencionais e não-convencionais, além de medidas sustentáveis como o aumento de áreas permeáveis e sistemas de alerta para as enchentes”, explica William.

Ele também destacou que a expansão das galerias de drenagem, como o trabalho recente de ampliação da rede na avenida Afonso Vergueiro, pode agravar a situação ao aumentar a vazão do Córrego Supiriri, que já enfrenta problemas de capacidade devido à urbanização. “O Córrego Supiriri já sofre com a redução de suas várzeas e com as travessias que dificultam o fluxo das águas”, alerta o especialista.

Estrutura verde e azul

Especialista em engenharia ambiental da Universidade Estadual Paulista (Unesp), o professor William Dantas Vichete ressalta que a integração de infraestruturas verdes e azuis, como o plantio de mais áreas permeáveis, telhados verdes e a preservação de córregos a céu aberto, é essencial para reduzir os impactos das chuvas e ajudar na infiltração da água no solo em Sorocaba. Conforme ele, essas medidas complementam as soluções tradicionais e aumentam a resiliência das cidades frente às mudanças climáticas.

Apesar de reconhecer que as soluções convencionais como os Reservatórios de Detenção de Cheias (RDCc) são eficientes para chuvas médias, William alerta que, para eventos de chuvas intensas, é necessário que o município continue investindo e expandindo suas estruturas de drenagem, além de incorporar práticas de drenagem sustentável. (João Frizo - programa de estágio)

Prefeitura garante trabalho em várias frentes

A Prefeitura de Sorocaba garante que tem trabalhado em várias frentes, como a limpeza regular dos bueiros, o desassoreamento de córregos e a manutenção das bacias de contenção. A meta é reduzir o impacto das enchentes. Em 2023, o Saae iniciou um trabalho emergencial de ampliação da rede de esgoto na avenida Afonso Vergueiro, visando prevenir sobrecarga e entupimentos.

Segundo a prefeitura, as ações de drenagem, como o remanejamento de redes de esgoto e a ampliação da capacidade de drenagem nas áreas mais críticas da cidade, são prioridades. A limpeza anual de 4.500 bocas de lobo e a remoção de oito mil metros cúbicos de resíduos contribuem para melhorar o escoamento das águas.

Um olhar para o futuro

A prefeitura afirma ainda que as obras de drenagem e as melhorias nas redes de esgoto são uma resposta necessária às demandas históricas de Sorocaba e que os investimentos continuarão a ser feitos para mitigar os impactos das chuvas e melhorar a qualidade de vida da população. A integração de novas soluções, como as sugeridas pelo professor William Dantas Vichete, deve ser parte de um planejamento contínuo, que leve em conta tanto as infraestruturas tradicionais quanto as soluções sustentáveis.

Embora as obras realizadas até o momento tragam alívio para áreas mais afetadas, o professor William Vichete acredita que “a questão das enchentes em Sorocaba ainda precisa de um olhar mais atento e de intervenções cada vez mais eficazes para garantir a segurança dos moradores da cidade.” (João Frizo - programa de estágio)