Dúvida
Divergência de idade para realizar mamografia divide opiniões e causa confusão

O câncer de mama é a doença que mais causa a morte na população feminina do Brasil. Embora seja muito frequente (é o segundo mais comum do País, ficando atrás apenas do câncer de pele não melanoma), novos entendimentos das autoridades médicas do País apontam para outros critérios de idade para se fazer o exame de mamografia de rastreio. Ministério da Saúde e Instituto Nacional do Câncer (Inca) dizem que o ideal é que a mamografia seja feita a cada dois anos por todas as mulheres entre 50 e 69 anos. No entanto, algumas entidades médicas, como a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), recomendam exame anual a partir dos 40 anos.
As divergências começam a ganhar notoriedade ainda mais depois que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) fez uma consulta pública sobre as atualizações do Manual de Boas Práticas em Atenção Oncológica. Para a Liga Sorocabana de Combate ao Câncer — entidade sem fins lucrativos criada em 1975 e que dedica cuidados voluntários e colaborativos para pessoas com a doença — a medida “é contrária ao estudo da ANS que pondera aumentar a idade mínima para a realização de mamografia de rastreio, passando de 40 anos para 50 a 69 anos, além de aumentar o período de controle de 1 para 2 anos”, diz a presidente da entidade, Érica Cannavan Mora. “Acreditamos que seja um retrocesso nas conquistas alcançadas na área da mastologia, visto que o câncer de mama é o que mais acomete mulheres no Brasil.”
Érica afirma que a Liga Sorocabana, que costumava atender mulheres em idade de menopausa, hoje tem assistidas na casa dos 30 anos. “Percebemos que, ao longo dos anos, fomos recebendo pacientes cada vez mais jovens, o que prova que a prevenção é a melhor saída para que o tratamento seja iniciado quando a doença ainda está no começo”, comenta.
Câncer de mama
“Em março, conhecido como o Mês da Mulher, ressaltamos a importância de que todas procurem seus médicos para que façam os exames anualmente, pois a prevenção é a melhor ferramenta na luta contra o câncer, tornando possível um tratamento mais eficaz. Exames em dia, alimentação saudável e prática de exercícios físicos devem fazer parte da rotina de toda mulher”, recomenda Érica Mora.
De acordo com informações médicas disponibilizadas pela Liga Sorocabana de Combate ao Câncer, todos os nossos órgãos são constituídos por células. O câncer ocorre quando estas células passam a crescer de forma desordenada e incontrolável. Como consequência deste crescimento, há a formação de massa de tecido denominada tumor. Os tumores benignos não são considerados câncer. Já os tumores malignos são considerados câncer e têm a capacidade de invadir outros órgãos, vizinhos ou a distância. A disseminação do câncer é denominada metástase.
Encontrar tumores em mulheres que ainda não apresentam sintomas do câncer de mama se chama rastreamento. A melhor forma de fazer isso é pela mamografia, um exame que procura por tumores por meio de raios-x. Este exame está disponível, gratuitamente, nas unidades básicas de saúde.
Mulheres com nódulo na mama, secreção nos mamilos, alteração da pele na região das mamas e/ou nódulos nas axilas devem procurar imediatamente a equipe de saúde para investigação e diagnóstico, independente da história familiar, da idade ou do tempo da última mamografia.
Divergências
Entre os critérios para que as operadoras de planos de saúde sejam certificadas, está a realização de exames de rastreamento de diversos tipos de câncer, o que contribui para o diagnóstico precoce. No caso do câncer de mama, a minuta elaborada pela ANS estabelece o rastreamento organizado, com a convocação de todas as beneficiárias dentro da faixa etária para fazer a mamografia e outros exames complementares que forem necessários. Até esse ponto, há consenso. “A melhor maneira de desenvolver a linha de cuidados do câncer é tentar fazer o diagnóstico da doença o mais precocemente possível. Porque quanto mais precoce for o diagnóstico, o tratamento é mais efetivo e é menos dispendioso”, diz o diretor-geral do Inca, Roberto Gil.
A ANS decidiu, entretanto, seguir em sua minuta o protocolo do Inca, que também é adotado no Sistema Único de Saúde (SUS), e preconiza a realização de mamografia de rastreio apenas a partir dos 50 anos, com intervalo de dois anos entre os exames, caso nenhum problema seja encontrado. “O rastreamento do câncer deve ser direcionado às mulheres na faixa etária e periodicidade em que há evidência conclusiva sobre redução da mortalidade por câncer de mama e em que o balanço entre benefícios e possíveis danos à saúde dessa prática seja mais favorável”, diz a minuta.
Quando a discussão chegou às redes sociais, muitos usuários começaram a dizer que a ANS pretendia mudar as regras de cobertura, impedindo mulheres mais jovens de fazer a mamografia pelos planos. Atualmente, o rol garante direito à mamografia bilateral para mulheres de qualquer idade, conforme indicação médica, e mamografia digital, dos 40 aos 69 anos. Até a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República divulgou nota enfatizando que os planos de saúde não podem negar mamografia, sob pena de multa.