Nas antigas e desgastadas pedras da Vila Hortência, ainda é possível ouvir ecos dos aplausos oferecidos, nas cadeiras do Cine Eldorado, para grandes filmes, de Mazzaropi a Olivia de Havilland. Sussurros da era de ouro do cinema. Hoje, em processo de leilão, o velho prédio parece pedir que o encantamento volte para suas colunas.

Localizado em um dos bairros mais tradicionais de Sorocaba, o antigo Cine Eldorado foi inaugurado em 25 de março de 1939. Na ocasião, o jornal Cruzeiro do Sul descreveu como “colossal e estupenda, a inauguração do melhor cinema da cidade”.

Naquele dia, uma sessão dupla do filme “Amando sem Saber”, produção norte-americana de 1938, dirigido por Michael Curtiz e estrelado por Errol Flynn e Olivia de Havilland - uma das maiores estrelas da época - vencedora de dois Oscars anos mais tarde - marcava a inauguração do cinema, que movimentaria as noites sorocabanas por 44 anos.

O local foi modelado para seguir uma inovação arquitetônica da época, a “Art Déco”. O movimento artístico influenciou múltiplas áreas, como a escultura, o cinema e a arquitetura.

Prédios similares

A fachada do cinema ostenta um balcão centralizado e grandes pilastras na parte de baixo. Diversas cidades brasileiras assumiram a novidade em seus edifícios. Em Sorocaba, ela também foi aplicada a diversas estruturas do centro da cidade, como o prédio dos Correios, o Mercado Municipal e o conjunto residencial Jardim Bertina.

Segundo o historiador Sandro Aranha, o cinema, que era propriedade de Jorge Caracante, teve sua planta assinada pelo arquiteto Julio Bierrenbach, e a decoração produzida pelo pintor e decorador Guilherme Cossermelli.

Antônio Miguel Isquierdo Attem relembra, com saudade, do movimento do Cine Eldorado. Da porta de seu pequeno comércio, Isquierdo parece fazer parte de outra época. Cumprimenta todos que passam, sempre pelo nome - a história viva da Vila Hortência. Ele conta que as filas do cinema se estendiam pela frente de sua tradicional banca de jornais e revistas, na esquina das ruas Nogueira Padilha e Santa Maria.

O Cine Eldorado tinha cadeiras de madeira e capacidade para 400 pessoas, mas a chegada da televisão e dos cinemas mais modernos fez com que o público diminuísse, tornando o grande palácio obsoleto e esquecido.

Reforma e encerramento

Em 1981, o prédio passou por uma grande reforma, na tentativa de recuperar sua antiga glória, mas não foi suficiente. A decadência chegou, o cinema fechou suas portas em 1983, deixando funcionários e cinéfilos desolados.

Em 1995, o prédio passou pelo processo de tombamento, tornando-se patrimônio sorocabano. Um imóvel tombado se torna parte do patrimônio histórico da cidade e é protegido contra obras de reforma que possam transformar suas características principais.

Leilão

O imóvel agora está sendo leiloado. O lance mínimo é de 3,7 milhões. O certame está sendo realizado por empresa particular e será encerrado no dia 6 de maio, às 15h. Até o encerramento desta reportagem, não havia sido apresentados lances. (Vernihu Oswaldo)