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Aprendendo na prática sobre os índios

Encontro com integrantes de tribo tupi-guarani ensina crianças sobre os povos originários do Brasil

06 de Maio de 2023 às 23:01
Thaís Marcolino [email protected]
Crianças tiveram a pele pintada com a semente do urucum -- fruto utilizado como tinta vermelha pelos índios
Crianças tiveram a pele pintada com a semente do urucum -- fruto utilizado como tinta vermelha pelos índios (Crédito: FÁBIO ROGÉRIO (25/4/2023))

Temos quase certeza que você já aprendeu sobre os povos indígenas na escola. E, devido a característica da nossa região e Estado, é até difícil imaginar que ainda existam tribos por aqui, né? Mas e se a gente te disser que sim, encontrá-los é possível? Pense só, se você tivesse a chance de aprender e ver ao vivo o modo de viver e entrar numa oca -- a casinha do índio --, por exemplo...

Pois uma turminha bem especial teve essa experiência. Cerca de 50 crianças de dois a seis anos foram à chácara Palmare, no bairro Caputera, no final do mês passado, para um encontro com integrantes de uma tribo tupi-guarani que vive no Vale do Ribeira. Lá, elas conheceram as maneiras com que os índios se alimentam, vestem, se pintam, dançam e cantam, entre outros. Muitos dos aprendizados têm a ver com a tradição indígena que ultrapassa séculos e, não necessariamente, é vivida por todos os indígenas ou descendentes hoje em dia. Até porque, com o avanço da civilização, os índios foram ocupando novos espaços.

Tribo de Miracatu, no Vale do Ribeira, vem a Sorocaba para compartilhar tradições - FÁBIO ROGÉRIO (25/4/2023)
Tribo de Miracatu, no Vale do Ribeira, vem a Sorocaba para compartilhar tradições (crédito: FÁBIO ROGÉRIO (25/4/2023))

Para se ter uma ideia, o território brasileiro tem 266 povos, falando mais de 150 línguas diferentes. O último cálculo feito pelo governo foi em 2010 e, com base nesses dados, são quase 897 mil indígenas, sendo 324 mil vivendo em cidades e 572 mil em áreas rurais. Mas como já se passaram 13 anos, agora, os números podem estar um pouquinho diferentes.

Voltando para a atividade das crianças, o diretor da escola Catavento, que planejou a visita dos alunos à chácara, nos contou o que motivou essa ida até lá pela segunda vez. “Trabalhamos muito a cultura com eles e falar sobre os índios é mais do que necessário, já que fazem parte da nossa história como povo. A importância que a gente sente é de que eles possam ter noção da relevância dos povos indígenas e depois que saem daqui contam para familiares e o conhecimento e vivência só aumenta”, disse o pedagogo Marcos da Silva.

Lorena Alves, de 5 anos - FÁBIO ROGÉRIO (25/4/2023)
Lorena Alves, de 5 anos (crédito: FÁBIO ROGÉRIO (25/4/2023))

Com tanta coisa pra observar, o que chamou mais a atenção da Lorena Alves, de cinco anos, foi a casa do índio. “Eu não sabia como era e não se parece com a nossa não. Ainda sim achei bem legal”, contou. E a nossa pequena não está errada. O que ela chama de casa do índio é conhecida como oca e o material dela é, muitas vezes, bambu e palha -- materiais bem naturais e que têm tudo a ver com as tradições.

Vicente dos Santos, de seis anos, aprendeu a assoprar a zarabatana - FÁBIO ROGÉRIO (25/4/2023)
Vicente dos Santos, de seis anos, aprendeu a assoprar a zarabatana (crédito: FÁBIO ROGÉRIO (25/4/2023))

Já o Vicente Rodrigues Moraes dos Santos, de seis anos, ficou mais impactado com a zarabatana. Não parece, mas ela é uma arma, usada para ajudar a caçar ou acertar alvos. Ela tem o formato de um tubo de madeira e é “ativada” com o sopro. “Não entendi no começo, mas os índios me ajudaram a assoprar direitinho e gostei bastante”, comentou o estudante.

Heloisa Mota tem 5 anos - FÁBIO ROGÉRIO (25/4/2023)
Heloisa Mota tem 5 anos (crédito: FÁBIO ROGÉRIO (25/4/2023))

Antes disso tudo, as crianças tiveram a chance de brincar, ver a pesca, conhecer o artesato indígena, cantar e dançar em volta das ocas, como fazem os índios em momentos de comemoração. E também, viveram uma experiência única: tiveram a pele pintada com a semente do urucum (um fruto utilizado como tinta vermelha para os povos originários) e pigmento preto. Tais desenhos são representativos de cada tribo e simbolizam situações e sentimentos, por exemplo.
Quem entendeu direitinho o significado delas foi a Heloísa Padilha Mota, de cinco anos. “Achei bem legal porque agora eu sei que é a marca da aldeia, pra mostrar quem eles são e adorei conhecer mais sobre isso”, explicou.

Ação ajuda a preservar as tradições

O responsável por trazer os índios a Sorocaba e coordenar as visitas na chácara é o Luis Martins, de 59 anos. Ele nos contou que são poucos que, realmente, viram índios pessoalmente. Por isso, considera que esse contato é tão importante. “Sai aquele mistério que existe, aquela barreira que acabaram criando sobre o índio, que, na verdade, é uma pessoa como nós, só apresenta alguns costumes de muitos anos.”

Quem também se dedica ao ensino das tradições indígenas é a Sara Silva Rosário Kunhã Ratsy, de 41 anos. Segundo ela, os povos originários foram os mais castigados ao longo dos anos e, com a mistura com os não-indígenas, algumas características foram se perdendo. “O índio também vive na cidade e tá tudo bem, mas a gente gosta de manter a raíz, a tradição que nossos antepassados nos ensinaram e, por isso, permanecemos na aldeia.”

Sara Kunhã, 41 anos: origem tupi-guarani - FÁBIO ROGÉRIO (25/4/2023)
Sara Kunhã, 41 anos: origem tupi-guarani (crédito: FÁBIO ROGÉRIO (25/4/2023))

E para quem está achando que a internet não chegou nesses lugares, está muito enganado. A Sara disse que, mesmo com escola e computadores, as crianças são ensinadas e estimuladas para a parte cultural, que explica muito sobre o povo indígena. De origem tupi-guarani, ela e sua tribo fazem questão de vir de Miracatu a Sorocaba para passar adiante os conhecimentos.

Como conhecer

Achou legal a experiência e ficou com vontade de conhecer? Para conversar com o Luis e agendar uma visita, basta ligar para o número (15) 99702-2124. Se necessário, os educadores indígenas vão até às escolas e proporcionam essa vivência num espaço menor, mas com grande aprendizado. (Thaís Marcolino)

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