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Escritora mirim

Sorocabana Maria Beatriz se inspira na avó e inicia carreira de escritora

O manuscrito mostra a importância da inclusão e do respeito

07 de Dezembro de 2024 às 21:00
Vinicius Camargo [email protected]
Maria Beatriz, escritora mirim de 8 anos
Maria Beatriz, escritora mirim de 8 anos (Crédito: ARQUIVO PESSOAL)

As vezes, falar sobre uma dificuldade pode ajudar a lidar melhor com ela. A sorocabana Maria Beatriz Tomé Tonelli, de 8 anos, seguiu esse caminho e escreveu um livro sobre a falta de um dos dedos da mão esquerda. Produzir “Todas as mãozinhas são diferentes. Será que são só as mãozinhas?” a auxiliou não só a entender que ser “diferente” é normal, mas também a enxergar muitas outras diferenças ao seu redor. O trabalho ainda destaca a importância da inclusão e do respeito a todas as pessoas. Ao propagar essas mensagens, Maria mostra não existir idade certa para falar de temas tão necessários e relevantes.

Quando começou a frequentar a escola, a escritora mirim sofria piadas de muito mal gosto de colegas — e isso não se faz. Aquela situação a entristecia. Ela, então, teve uma ideia para resolver esse problema. A avó da garota, a professora e psicóloga Lucimeire Prestes de Oliveira Tomé, 54, já publicou três livros. Um deles — chamado “Conversando sobre Crianças” — chamou a atenção de Maria Beatriz, pois a capa tem fotos de toda a família dela.

Como sempre foi apaixonada por literatura, a menina decidiu escrever o próprio livro, para contar sobre a sua diferença. “Desde pequenininha, ela pega o livro, quer saber quem o escreveu, quem desenhou. Para ela, passeio é livraria. Nós vamos ao shopping e, enquanto os irmãos estão querendo brincar, ela quer ir na livraria”, conta Lucimeire. “Quando vamos ao mercado, ela vai no corredor dos livros, pega um e senta no chão”.

A pequena começou a produção em 2022, aos 6 anos. Logo no início, percebeu não ser tão fácil fazer um livro como aqueles que adora. Como ainda não sabia escrever, ela gravava áudios com as suas ideias e avó as colocavam no papel. Quando aprendeu essa habilidade, ela mesma revisou as anotações da avó e fez alterações, para deixar mais de acordo com a sua personalidade. Também passou a redigir sozinha as novas páginas.

Surgiram mais dificuldades nessa etapa. A primeira foi passar as informações da cabeça para os capítulos de maneira organizada. “A página ficava com as ideias todas embaralhadas”, relembra. Conciliar o projeto com a escola foi outro desafio. A fase das ilustrações — todas feitas por ela e pela irmã — também foi complicada.

Mudança no meio do caminho

No meio do caminho, se não bastassem esses obstáculos, a autora corajosa decidiu ampliar o conteúdo da obra. Inicialmente, ela abordaria apenas a sua história. Mas, morando em Portugal com a família desde 2021, identificou mais colegas diferentes na escola. Havia crianças de vários países, raças e com outras deficiências.

Depois, a sorocabana começou a notar pessoas com alguma particularidade em todos os lugares, não só na escola. Percebendo essa riqueza de pluralidades, quis incluí-las no livro também. E, aonde ia, observava se havia alguém com uma nova particularidade, para inserir no trabalho e torná-lo, assim, cada vez mais inclusivo. “Eu prestava muita atenção, anotava as minhas ideias, as separava e formava uma página”, detalha.

Todo esse processo — incluindo escrita e ilustrações — durou dois anos e terminou em 2024, quando Maria completou 8 anos de idade. Após a finalização de “Todas as mãozinhas são diferentes. Será que são só as mãozinhas?”, Lucimeire enviou para uma editora avaliar. A empresa gostou e o publicou.

Planos

Com a materialização do manuscrito, a menina entendeu ser única e especial justamente por não ter um dedo. Com essa constatação, além de passar a não ligar mais para o preconceito, começou a combatê-lo nos seus círculos sociais. Agora, quer ampliar essa luta colocando o livro à venda, para levar um ensinamento central de inclusão e respeito ao maior número de pessoas possível. Para tanto, a intenção é lançá-lo oficialmente em 2025. “Eu quero dizer que não é porque uma pessoa é diferente que ela tem de ser tratada de forma diferente”, informa a autora.

Outro plano dela é seguir os passos da avó e tornar-se escritora profissional. Inclusive, já está escrevendo a segunda obra. “A Terra Grita por Nós”, trata da importância de proteger o meio ambiente e do combate à poluição. O seu foco é seguir realizando manuscritos sobre assuntos de interesse social. “Quero passar uma mensagem sempre”, conclui.

A geração de escritoras na família não deve parar em Maria Beatriz. Inspirada por ela, Aurora Tomé Tonelli, 6, também está com um livro em produção. Após gostar de ajudar a irmã nas ilustrações do projeto dela, a pequena iniciou o seu. O tema? Diversidade. “O Arco-Íris das Crianças” faz uma analogia entre o fenômeno que surge depois da chuva e os diferentes tons de peles das crianças. “As crianças são de cores diferentes. Isso é que faz o arco- íris delas”, explica a futura autora. 

 

 

 

 

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