Com mais de 75 mil volumes, a Biblioteca dos Jovens da Colônia Pinhal, localizada em São Miguel Arcanjo, a 86 quilômetros de Sorocaba, possui o maior acervo do Brasil de livros escritos em japonês. Mesmo com a explosão de culturas asiáticas no País, principalmente com a coreana nos últimos anos (a chamada k-pop), a procura pelas obras não aumentou, infelizmente.

“A gente está tentando manter a nossa cultura. Hoje em dias são idosos que vão mais (à biblioteca). Tem famílias que levam crianças também, mas os jovens já estão mais no digital”, disse a professora Midori Nishida, que ensina japonês na escola da Colônia.

Mesmo há tantos anos no Brasil (ela veio para o país com sete anos), a professora tem forte sotaque em sua fala e, com doçura nas palavras, explicou a história da biblioteca, totalmente entrelaçada com a da comunidade local. Em 1960, o japonês Tetsuhito Amano veio ao Brasil e se apaixonou pelo país, onde decidiu se estabelecer. Ele conheceu Katsuharo Ochi, hoje já falecido, mas que administrava a biblioteca até pouco tempo atrás.

“Senhor Amano conheceu Ochi no Brasil e estava pesquisando um terreno bom para plantar uva, depois ficou sabendo que a Colônia Pinhal era boa para plantação dessa fruta. Naquela época Amano tinha programação de abrir uma biblioteca no Japão, então resolveu abrir uma aqui também”, contou.

Os primeiros imigrantes japoneses começaram a chegar na Colônia Pinhal em 1962, segundo Midori Nishida, e, por volta de 1978, a biblioteca começou a ser construída, levando cinco anos até a obra ser finalizada. Hoje ela só funciona aos sábados e, com a pandemia de Covid-19, somente está aberta a quem mora perto, com todos os empréstimos gratuitos, em um espaço de 650m².

O acervo é variado, com maioria em mangás, que vão de infantil até adultos, até com conteúdo erótico. Para além disso, há romances, enciclopédias e livros sobre artes, culinária, filosofia e outras áreas de conhecimento. Vídeos também estão disponíveis. A biblioteca é mantida com doações e qualquer um pode ajudar, lembrando que a maioria dos livros foi doado na inauguração, em 1985, quando a colônia recebeu um contêiner direto do Japão com as obras.

“O senhor Amano tem uma placa na entrada da biblioteca, que está escrito: ‘o povo que esquece da palavra, um dia perderá o seu dinamismo’. Ele pensou que, se esquecer a cultura da gente, então esquece tudo, língua, cultura, tudo. Fica vazio”, finalizou a professora.

Leitura de trás para frente?

A professora de japonês Midori Nishida, que ensina o idioma na Colônia Pinhal, explicou que, no Japão, são utilizados diferentes sistemas de escrita, sendo que, entre eles, estão o hiragana, o kanji e o katakana.

Hiragana e katakana são símbolos fonéticos que representam sílabas, enquanto os kanji são ideogramas que têm seu próprio significado. Por conta disso, tanto a escrita quanto a leitura podem ser feitas em dois estilos: o tategaki e o yokogaki.

No tategaki, os caracteres são escritos de cima para baixo e da esquerda para a direita, como se pode ver em alguns livros da Biblioteca dos Jovens da Colônia Pinhal, bem diferente do que estamos acostumados. Já o yokogaki é lido na horizontal, da esquerda para a direita, como com o português. (Marina Bufon)