Cinema
Fernanda Torres após receber o Globo de Ouro: ‘Esse prêmio não é meu, é nosso!’
Atriz também foi festejada por companheiros do filme e por sua mãe Fernanda Montenegro
“Eu estou muito feliz, mas não só por mim, também pelo que esse filme virou no Brasil, pela maneira como as pessoas foram ao cinema e, acima de tudo, pela importância que ele tem para uma família chamada Paiva, que nunca teve o direito de sequer enterrar seu pai, o Rubens. Através desse filme, de alguma maneira, a gente está promovendo uma forma de reparação para eles. O meu amor ao Marcelo por ter escrito esse livro, ao Walter por ser o parceiro que ele é para mim e para a minha mãe. Estou muito feliz com as reações que eu tenho visto pelo Brasil, então esse prêmio não é meu, é nosso!”, enfatizou a atriz Fernanda Torres, logo depois de ter se tornado a primeira brasileira a vencer a categoria de Melhor Atriz em Filme de Drama no Globo de Ouro, no início da madrugada de ontem (06), em Los Angeles, nos Estados Unidos.
A atriz foi premiada por sua atuação em “Ainda Estou Aqui”, filme de Walter Salles em que ela interpreta Eunice Paiva, viúva de Rubens Paiva, então ex-deputado, torturado e morto em 1971, durante o regime militar.
Walter Salles, diretor do filme, também celebrou a vitória. “Tão feliz pela Fernanda, tão feliz pelo cinema brasileiro, pelo Marcelo! Viva Nanda e Eunice Paiva, viva Fernanda Montenegro, viva cada pessoa da equipe maravilhosa desse filme, viva o público que o abraçou e fez a diferença. É muito emocionante viver isso 26 anos depois de Central do Brasil.” Central do Brasil chegou ao Globo de Ouro em 1999, representado por Fernanda Montenegro, na categoria de Melhor Atriz e venceu o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro.
Reações de Selton Mello
Selton Mello, que protagoniza o filme ao lado de Fernanda, foi outro a prestar homenagem à colega e amiga. “Minha parceira Fernanda Torres ganhou o prêmio máximo de uma atriz em performance dramática esse ano. Mas foi mais do que isso, foi também a vitória do cinema brasileiro como um todo, a vitória de tantos atores brasileiros que sonham em se expressar na tela grande do cinema”, disse.
“Eunice Paiva foi honrada com essa premiação, Rubens Paiva foi igualmente enaltecido. Marcelo Rubens Paiva nos abriu generosamente a memória de sua família e esse prêmio também é dele. Por fim, foi premiado também nosso mestre sensível Walter Salles, que conseguiu filmar um sentimento, filmou a dor, tornou-a palpável, com a grandeza humana que somente os grandes cineastas alcançam. Hoje vou dormir feliz por me sentir absolutamente representado diretamente pela vitória de minha amiga brilhante”, exaltou Selton, que interpreta Rubens Paiva em “Ainda Estou Aqui”.
Selton Mello também publicou um vídeo em seu Instagram mostrando sua reação após presenciar Fernanda Torres vencer o Globo de Ouro na cerimônia realizada em Beverly Hills, na Califórnia, nos Estados Unidos. “Não sei o que falar, não. Estou esperando a Nanda para dar um beijo nela, um abraço. Que coisa histórica. Eu vi isso ao vivo! Eu estava com ela em cada dificuldade! Foi tão lindo e representa tanto o nosso filme. Sei lá, gente. Isso é muito emocionante, muito. Brasil!”, disse o ator.
Fernanda Montenegro vibrou muito
Quando o nome da atriz foi citado entre as concorrentes na categoria de melhor atriz dramática, por seu trabalho em “Ainda Estou Aqui”, sua mãe, aos 95 anos de idade, ergue um dos punhos em sinal de torcida ao ouvir seu nome. Com o anúncio da vitória, Fernanda Montenegro ergue os dois braços e vibra muito, em vídeo publicado nas redes sociais. Permanecendo sentada em uma poltrona na sala de sua casa, ela recebe abraços de diversos familiares e amigos, que também acompanhavam a premiação pela TV.
Em 1999, por conta de sua atuação no filme “Central do Brasil”, Fernanda Montenegro chegou a ser indicada ao Globo de Ouro. Na ocasião, porém, o prêmio ficou para Cate Blanchett, do longa Elizabeth. O longa de Walter Salles, porém, foi escolhido como melhor filme estrangeiro na ocasião. Agora em 2025, “Ainda Estou Aqui”, do mesmo diretor, não venceu o prêmio de melhor filme em língua não inglesa, mas Fernanda Torres sagrou-se vencedora como melhor atriz dramática.
Reconhecimento mundial
O filme segue sendo reconhecido pela crítica internacional. Na última semana, o longa entrou para a lista dos pré-indicados na categoria de Melhor Filme em Língua Não Inglesa do BAFTA, que acontece no dia 16 de fevereiro. “Ainda Estou Aqui” também está na shortlist de longas que podem concorrer ao Oscar de Melhor Filme Internacional e concorre na mesma categoria no Critics Choice Awards 2025, que revelará os vencedores no dia 12 de janeiro. Na maior premiação do cinema espanhol, disputa o Prêmio Goya de Melhor Filme Ibero-Americano.
Fernanda Torres, por sua vez, em entrevista logo depois de receber o Globo de Ouro, falou sobre a sensação de ter recebido o prêmio e as motivações que a levaram a ser escolhida como melhor atriz dramática.
Palma de Ouro
Embora a estatueta dourada do Oscar seja o objeto de maior desejo de qualquer cineasta, a Palma de Ouro é considerada o prêmio mais importante do mundo do cinema. E foi essa a última grande premiação da indústria cinematográfica mundial recebida pelo Brasil, antes do Globo de Ouro de Fernanda Torres.
Troféu máximo do Festival de Cannes, realizado anualmente na França, sempre no mês de maio, a Palma de Ouro é entregue ao melhor filme exibido no tradicional e prestigiado evento.
Em toda a história de quase 80 anos do Festival de Cannes, criado em 1946, apenas um brasileiro já teve o privilégio de ganhar a Palma de Ouro: o cineasta Anselmo Duarte, natural da vizinha cidade de Salto, local onde se encontra o troféu atualmente. A conquista ocorreu com o filme “O Pagador de Promessas”, de 1962, protagonizado por Leonardo Villar e Glória Menezes . Anselmo Duarte é também, até hoje, o único sul-americano a alcançar essa façanha.
A obra-prima do diretor brasileiro também concorreu ao Oscar de 1963, sendo a primeira produção da América do Sul a ser indicada ao prêmio de melhor filme estrangeiro da famosa premiação americana. “A primeira vez que me defrontei com uma câmera, num set de filmagem, foi no filme que o Orson Welles veio fazer no Brasil. “It’s All True” (É Tudo Verdade)] virou um filme mítico, até porque nunca foi concluído pelo Welles. Fizeram depois uma versão, recuperando o material que o Welles havia filmado, mas a montagem não era dele e eu duvido que o Welles fosse gostar do resultado”, diz Anselmo Duarte, no livro “O Homem da Palma de Ouro”. (Da Redação, com informações do Estadão Conteúdo)