Foi em uma sexta-feira, dia 18 de abril de 1873, em um sobrado localizado no centro de Itu, que aconteceu a primeira reunião oficial do movimento republicano: a Convenção de Itu. Neste dia, Carlos de Vasconcelos de Almeida Prado recebeu em sua casa 133 apoiadores do regime republicano com seus acompanhantes e, no andar superior, era fundado o Partido Republicano Paulista (PRP). Após 16 anos, em 15 de novembro de 1889, foi proclamada a república, ato que resultou na derrubada da monarquia.

O prédio, atualmente, leva o nome de Museu Republicano da Convenção de Itu e se tornou um ponto histórico da cidade, por isso considerada o Berço da República. Com um acervo amplo, preserva a memória e artefatos tanto da Convenção de Itu e seus convencionados, quanto da Primeira República (1889-1930), também conhecida como República Velha.

“Da Convenção de Itu nós não temos nenhum registro em fotografia, gravuras ou pinturas. Portanto, a reconstrução desse momento foi feita a partir de relatos históricos e pesquisas”, explica a historiadora Anicleide Zequini, doutora em antropologia. “Há relatos, em jornais da época, de que Carlos de Vasconcelos de Almeida Prado estava com receio que o piso do andar superior afundasse, de tantas pessoas subindo e descendo”.

Estima-se que, além dos 133 convencionados representando os demais municípios paulistas e de outros Estados, estavam presentes outras 170 pessoas, entre acompanhantes e curiosos. “Os convencionados eram pessoas importantes e os únicos com poder de votos que, posteriormente à Proclamação da República, vieram a ocupar cargos na política”, esclarece a historiadora.

O número exato de convencionados é possível saber graças ao livro-ata, no qual constam as 133 assinaturas.

Importância

Na época, duas cidades se destacaram para sediar a reunião: Campinas, que já se mostrava muito ativa no movimento, e a própria cidade de Itu. O fator decisivo aconteceu no dia anterior à Convenção, a inauguração da estação ferroviária de Itu, em 17 de abril de 1873.

Apesar de não ser um projeto republicano, Anicleide explica que a malha ferroviária representava, de modo indireto, uma bandeira do partido: a civilização e o progresso econômico. Além de também melhorar o acesso à cidade, que até então vivia isolada.

“A estação ferroviária permitiu a ligação de Itu a Jundiaí e, assim, dava saída para Santos”, explica Anicleide. “E para além do comércio e exportação, a malha também significou uma ebulição cultural e a vinda de novas ideias com os imigrantes, principalmente ingleses e franceses, que vieram para trabalhar”.

Atualmente em Itu, após 150 anos da Convenção, o momento histórico continua lembrado pelas ruas da cidade, em placas com nome dos convencionados, e, também, em estabelecimentos como farmácia, rádio, escola e até mesmo refrigerante. “Tudo aqui em Itu é Convenção!”, diverte-se Anicleide.

O acervo

Localizado na rua Barão de Itaim, na região central da cidade, o Museu Republicano Convenção de Itu foi inaugurado no dia 18 de abril de 1923, sob a gestão do então governador Washington Luís Pereira de Souza, em comemoração aos 50 anos da reunião.

Atualmente, o acervo do museu é composto por cerca de 950 peças de variada tipologia, desde mobília, porcelana e instrumentos de trabalho até telas a óleo, aquarelas, medalhas e condecorações. Muitos dos artefatos foram doados pelos membros do Partido Republicano Paulista e pelos seus familiares e datam entre a segunda metade do século 19 e a primeira metade do século 20.

Outras peças foram reconstruídas para eternizar o momento histórico, como aconteceu com a terceira sala do andar superior, intitulada de “Sala da Convenção”, onde estiveram presentes os 133 participantes da reunião.

“Entre os anos de 1930 e 1940 foi feita uma grande campanha nos jornais das cidades e com as famílias dos convencionados, com a intenção de resgatar fotos para que o museu as transformassem em telas a óleo”, relata Anicleide. Hoje, as telas estão expostas na primeira sala do andar superior e estão sendo restauradas.

Outras exposições que se destacam é o acervo do primeiro presidente eleito por voto popular, o ituano Prudente de Morais, e do último presidente da Primeira República, o próprio Washington Luís Pereira de Souza, figura importante para a história do museu. Ambos os acervos foram doados por seus familiares.

Há também exposições itinerantes e, hoje, a que mais chama atenção dos visitantes é a do “Miguelzinho Bordado”, em homenagem ao aquarelista ituano Miguel Arcanjo Benício da Assunção Dutra, mais conhecido como Miguelzinho Dutra. A exibição reúne 26 bordados e um arraiolo desenvolvidos a partir de um conjunto de aquarelas do artista, da primeira metade do século 19.

Além proporcionar as exposições, o prédio também recebe visitantes para pesquisas, mediante agendamento. Mais informações, conteúdos e artigos podem ser acessados no site: https://museurepublicano.usp.br/.

Semana da República

Em comemoração à Semana da República, o museu conta com diversas atividades, entre elas a apresentação da Orquestra Ituana de Viola Caipira, hoje (15), no auditório do Centro de Estudos, às 11h, e logo após a abertura da 18ª Exposição de Presépios do Espaço Fábrica São Luiz, às 12h.

A semana de comemorações se encerra na sexta-feira (17), com o lançamento do novo Tour Virtual, contemplando as exposições que estão em cartaz. (Beatriz Falcão - Programa de Estágio)

SERVIÇO

Museu Republicano da Convenção de Itu
De terça-feira a domingo, das 10h às 17h
Entrada gratuita
Site: https://museurepublicano.usp.br/