João Alvarenga
Crônica de Natal

Domingo passado, destaquei, aqui, os múltiplos sentidos da palavra “presente”, o quanto ela ganha relevo, nesta época, principalmente entre as crianças. Afinal, esperam que o Papai Noel se faça presente, através do mimo que tanto desejam ganhar na noite de Natal. Pleonasmos à parte, hoje, embalado pelo clima natalino, seguirei na mesma toada. Porém, que o leitor não estranhe se, por acaso, o enfoque tiver mais jeito de crônica do que artigo de opinião. Já que todo professor tem mania de explicar tudo, observo que crônica e artigo, embora escritos na primeira pessoa do singular, são gêneros textuais distintos. Ou seja, cada um tem seus aspectos particulares, tanto na forma quanto no conteúdo. Aliás, é isso que os torna diferentes entre si, cada qual com sua função comunicativa. Assim, é mister frisar que, no artigo, o autor se vale de um posicionamento crítico, para defender seus argumentos, para tentar convencer o leitor de que sua tese é assertiva.
E a crônica? Como bem observa o meu amigo, Davi Deamatis que, nos anos 80, integrou a equipe de repórteres do Cruzeiro do Sul, o cronista se expressa de um modo mais solto, mais leve e até poético. Ou seja, sem o compromisso com a defesa de um ponto de vista. Logo, a ideia, aqui, é fugir do racional para mergulhar no emocional, a fim de promover uma reflexão, para que você, leitor, tire as suas próprias conclusões sobre os seguintes questionamentos: Afinal, o Natal está perdendo a sua essência? Por que as novas gerações não preservam as tradições natalinas? Será que as “inteligências artificiais” estão tirando o encanto de um momento que já foi mágico às gerações passadas?
Confesso que essas perguntas povoam a minha mente, sempre que chega essa época do ano. Faço uma retrospectiva dos muitos natais que vivi, estabeleço algumas comparações e fico mais confuso. Assim, pretendo fazer, com você, leitor, uma reflexão sobre essa data tão importante para o mundo cristão, na qual as pessoas, por um determinado momento, deixam de pensar apenas em si mesmas, para praticar a solidariedade. Além disso, passam a olhar a realidade com outros olhos: o do amor ao próximo.
Sei que muitos vão dizer que esse tema está saturado. Ou seja, não há mais o que dizer, porque tudo já foi dito, pelos escritores e poetas. Também dirão: olha, senhor cronista, o Natal não mudou, as pessoas é que mudaram! Ou seja, tornaram-se mais egoístas. Há, também, quem diga que os filmes, séries e programas de fim de ano (nos canais abertos e pagos), é uma forma de manter viva a tradição natalina. Tudo bem, nisso eu até concordo; mas, e as novas gerações? Será que elas sabem, de fato, o real motivo das ruas e casas ficarem enfeitadas, montarem presépios e árvores cheias de luzinhas coloridas? E como elas veem a figura de um velhinho de barbas e cabelos brancos que usa uma roupa vermelha esquisita? O que pensam as crianças sobre tudo isso? Você que tem filhos pequenos explica que há um sentido maior para tudo isso?
Afinal, quem já viveu muitos natais, principalmente a geração 60+ (que é o meu caso), tem a nostálgica impressão de que, a cada ano, esse momento vem se tornando, para muitos, apenas um motivo a mais para extrapolar o limite do cartão de crédito. Ou seja, comprar tudo que o prazer hedonista desejar. Isso sem falar nas fartas ceias que despertam nosso instinto de “glutão”. Por isso, se você for, agora, aos supermercados, certamente, enfrentará um congestionamento de carrinhos abarrotados de boa comida junto aos caixas. É nessa hora que devemos pensar naqueles que não degustarão um mísero panetone. Nos que não terão Natal nem perspectivas de um ano novo diferente do que foi este que se finda.
Para finalizar, não desmerecendo a figura do “bom velhinho” (posso estar enganado), mas parece que, graças à Coca-Cola, o Papai Noel se tornou a principal celebridade da festa. Por favor, não se esqueçam do aniversariante! Bom domingo!
João Alvarenga é professor de redação.