E, então?!
Nem tudo é aquilo que parece
Nosso papel é cobrar daqueles que remuneramos com nossos impostos uma atitude mais responsável com o dinheiro público

Um vídeo com os jogadores da seleção brasileira acompanhados do ex-jogador Ronaldo Fenômeno comendo carne folheada a ouro causou indignação nas redes sociais. Críticas choveram de todos os cantos. Vários comentaristas e figuras públicas foram às redes sociais para mostrar indignação diante dos atletas que defendem a nossa “amarelinha”. Só que nem tudo é como parece.
Bastava a esses críticos uma simples busca na internet para descobrir que o preço da folha de ouro comestível, de 24 quilates, custa cerca de R$ 9,80. Um valor nada espantoso diante de outros produtos que são amplamente aceitos por essas mesmas pessoas.
É claro que, nesse caso específico, não estamos falando de um “chef” qualquer. Os jogadores foram convidados, em alguma ação promocional paga por uma empresa, para comer na churrascaria Nusr-Et, recém-inaugurada no Catar, de propriedade do chef Salt Bae, um excêntrico preparador de carnes que roda o mundo divulgando sua arte.
Brasileiros como o humorista Fábio Porchat e o cantor Nego do Borel também estiveram no mesmo restaurante e a repercussão não foi tão odiosa. Outras personalidades já frequentaram as mesas do chef Salt Bae na filial de Londres. O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, foi um deles. O ministro da Segurança do Vietnã, um país reconhecidamente comunista, também.
O uso da folha de ouro em alimentos não é novo e representa um custo minúsculo diante do luxo que muitas pessoas aprenderam a gostar de usufruir.
Os jogadores foram criticados também pelo padre Júlio Lancelotti, um defensor dos moradores de rua da cracolândia, em São Paulo. O combativo religioso chegou a chamar a atitude dos atletas de vergonhosa.
Pena que ele não utilize essas mesmas palavras para afrontar os traficantes de drogas responsáveis pela destruição de milhões de pessoas no Brasil e no mundo todo. Traficantes que ganham muito explorando a fraqueza humana. Segundo dados da polícia, um quilo de cocaína vale no submundo do crime cerca de R$ 180 mil e o do crack, R$ 45 mil. Muito mais que as meras folhinhas de ouro que serviram para enrolar os bifes. Nem tudo é como parece.
A hipocrisia, em alguns casos, salta aos olhos. Podemos aceitar políticos que gastam do nosso dinheiro milhões de reais em diárias de hotéis de luxo, jatinhos e jantares regados a enormes lagostas e bebidas caras. Mas aceitamos calados as críticas contra jogadores de futebol, que simplesmente tiveram a oportunidade de se divertir num jantar um pouco mais caro, pago pela iniciativa privada.
São dois pesos e duas medidas. O nosso papel é cobrar daqueles que remuneramos com nossos impostos uma atitude mais responsável com o dinheiro público. Esse sim é o nosso dever, zelar pelo bom uso dos recursos produzidos pela população. A festa dos jogadores da seleção, que pode incomodar num primeiro momento, não é nada perto do que a corrupção consome todo o dia em nosso país. Essa é a maior vergonha nacional e não uma fatia de carne envolta numa folha de ouro que custa pouco menos de dez reais.