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Editorial

Como Nadine chegou ao Brasil

22 de Abril de 2025 às 21:30
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Mesmo sem resolver os problemas domésticos, que afetam diretamente a vida cotidiana dos nacionais, o governo brasileiro resolveu assumir uma bronca que vem do Peru. O presidente Lula concedeu proteção político-diplomática à ex-primeira-dama peruana Nadine Heredia Alarcón, condenada em caso de corrupção envolvendo a Operação Lava Jato.

Nadine, esposa do ex-presidente Ollanta Humala (2011-2016), foi condenada pela Corte Suprema de Justiça do Peru em dois processos ligados ao financiamento ilegal das campanhas presidenciais do marido. Os recursos teriam sido provenientes da construtora brasileira Odebrecht (atual Novonor) e do governo do ex-presidente venezuelano Hugo Chávez. As condenações somam 15 anos de prisão.

Ollanta está preso no Peru, pelos mesmos crimes, mas Nadine está no Brasil. Ela foi trazida para cá em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), que aterrissou na base aérea de Brasília na quarta-feira (16). Agora está em São Paulo, na companhia do filho de 14 anos. Antes de chegar por aqui, Nadine havia ingressado na embaixada do Brasil em Lima. Ela solicitou asilo evocando a Convenção de Caracas de 1954. Isso aconteceu horas antes de a Corte Suprema do Peru proferir a sentença condenatória.

A atitude de Lula gerou desgaste político imediato ao petista. O asilo político, seguido de um pedido de refúgio, que na prática bloqueia a extradição dela, rendeu quatro frentes de cobrança da oposição no Brasil.

Parlamentares sugeriram a abertura de investigações pela Procuradoria-Geral da República e pelo Tribunal de Contas da União e requisitaram informações por escrito ao Itamaraty.

Ao todo, a Câmara dos Deputados já registrou seis propostas legislativas relacionadas à atuação diplomática e política de Lula, em socorro a Nadine Heredia. A defesa nega qualquer irregularidade.

Ontem (22), a Comissão de Relações Exteriores do Senado convidou o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, para prestar esclarecimentos sobre a concessão de asilo político à ex-primeira-dama peruana, mas a audiência deverá acontecer somente em maio.

Além da concessão do asilo, outro ponto questionado pela Comissão do Senado é o uso de uma aeronave da FAB.

Sobre o caso, o senador Sergio Moro disse: “Fomos surpreendidos, na semana passada, por essa inusitada concessão. Esse tipo de asilo deve ser concedido em casos de perseguição política, para casos em que assistimos, na América Latina e em outros países, nos quais opositores de um regime são perseguidos por razões que não têm relação alguma com crimes comuns. É necessário compreender os fundamentos legais adotados pelo Itamaraty, os critérios humanitários invocados e as razões para o uso de recursos públicos nesse contexto”.

Ollanta Humala, marido de Nadine, é o último ex-presidente do Peru a ser preso implicado por seu papel na Lava Jato. Em 2019, o ex-presidente Alan Garcia se matou com um tiro quando a polícia foi até sua casa para prendê-lo por suposta corrupção relacionada à Odebrecht.

No ano anterior, Pedro Pablo Kuczynski foi forçado a renunciar após apenas dois anos no cargo. Presidente do Peru entre 2001 e 2006, Alejandro Toledo foi condenado a 20 anos e 6 meses de prisão, por ter aceitado propina da empreiteira brasileira. No julgamento que durou um ano, Toledo negou as acusações de lavagem de dinheiro e conluio.

Toledo teria recebido US$ 35 milhões em suborno, em troca da licença para que a construtora fizesse parte da estrada Interoceânica, que liga a costa sul do Peru a uma área amazônica do Brasil.

Ele foi preso nos Estados Unidos, após se entregar à Justiça, e foi extraditado em 2023 para o Peru. Ex-executivos da Odebrecht disseram em um tribunal peruano que a empresa financiou quase todos os candidatos presidenciais do país por um período de quase 30 anos.

Aqui no Brasil, onde a condenada Nadine está protegida por uma intervenção de Lula, a força-tarefa de procuradores da Lava Jato foi encerrada pelo Ministério Público Federal em fevereiro de 2021. O órgão tinha na chefia o então procurador-geral da República Augusto Aras, crítico da operação. Antes, à Lava Jato havia levado Lula a prisão — por 1 ano, 7 meses e 1 dia — até ele ser liberado pela Suprema Corte daqui. Hoje, ele preside o País e pode abrigar Nadine, condenada por esquema semelhante.