Editorial
Ele disse não a Lula

Mais uma tropeçada de um governo que não caminha bem e se comunica mal. Na ânsia de consertar as coisas de maneira apressada, as decisões são anunciadas sem critério, nem cuidado. No dia 8 de abril, Juscelino Filho (União Brasil), que respondia pelo Ministério das Comunicações de Lula, pediu o seu desligamento do cargo, após ter sido denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por supostos desvios em emendas parlamentares quando era deputado federal.
Dois dias depois, portanto em 10 de abril, Gleisi Hoffmann, ministra da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência, anunciou que o novo ministro das Comunicações seria o deputado federal Pedro Lucas Fernandes (União Brasil-MA). Gleisi foi enfática: “O União Brasil apresentou o nome do Pedro Lucas para substituir o ministro Juscelino nas Comunicações. O presidente aceitou e fez um convite também ao líder (da bancada do União Brasil na Câmara dos Deputados), para assumir [o cargo]”, informou a ministra de Lula a jornalistas no Alvorada, logo após a reunião entre Lula e Pedro Lucas, ocorrida no fim da tarde desta quinta-feira (10), no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente no fim da tarde daquele 10 de abril. Detalhe: o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), além do próprio Juscelino Filho, participaram da conversa.
A indicação de Pedro Lucas já havia sido sinalizada 24 horas antes, no dia 9 de abril, pelo próprio presidente Lula, durante viagem a Honduras. Na ocasião, ele ressaltou que não estava trabalhando com novas substituições na equipe naquele momento, e que decidirá quando e como elas iriam ocorrer.
Segundo Gleisi, a nomeação e posse de Pedro Lucas deveriam ocorrer após o dia 21 de abril, depois dos feriados de Páscoa e Tiradentes, para que o deputado acertasse os detalhes da licença no mandato e a indicação de um novo líder da legenda.
Pois bem: tudo certo, tudo conversado, tudo caminhando “bem”. Só que não. Na terça-feira, dia 22 de abril, Pedro Lucas recusou o convite para ser o novo ministro das Comunicações de Lula.
Portanto, o anúncio de Gleisi não se confirmou. Em nota publicada nas redes sociais, Pedro Lucas disse que pode contribuir mais com o País como líder da bancada do União Brasil na Câmara dos Deputados do que integrar o governo Lula. “Sou líder de um partido plural, com uma bancada diversa e compromissada com o Brasil. Tenho plena convicção de que, neste momento, posso contribuir mais com o País na função que exerço na Câmara dos Deputados”, escreveu o parlamentar.
Segundo ele, a liderança de um partido permite dialogar com diferentes forças políticas, construir consensos e auxiliar na formação de maiorias em pautas importantes para o desenvolvimento do País. Pedro Lucas pediu desculpas pela recusa a um enfurecido Lula, que não gostou nem um pouco da nova derrapada em seu governo.
O que verdadeiramente levou o deputado maranhense a não ingressar no governo Lula como ministro nunca será dito explicitamente. É assim que as coisas acontecem na política. Mas, a atitude dele — tomada após tudo acertado — permite descrever outros possíveis motivos. E o principal é 2026, ano eleitoral.
Hoje o União Brasil possui uma das maiores bancadas na Câmara, com 59 deputados. É um importante aliado de Lula, mas também seria se o presidente fosse outro, seja lá quem fosse. Está no DNA do partido estar em meio ao poder. A sangria da popularidade de Lula, apontada a cada pesquisa divulgada — inclusive no Estado de Pedro Lucas — pode se somar aos motivos de sua decisão. Ele, então, não trocaria o certo (líder de um partido com votos importantes na Câmara para o bem ou para o mal, portanto com poder de barganhar o que quiser) pelo duvidoso (integrar um governo que se derrete a cada dia).
Como ministro das Comunicações, Pedro Lucas seria responsável por definir e implementar as políticas nacionais de telecomunicações, radiodifusão e serviços postais, supervisionar e acompanhar as atividades da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), regulamentar a publicidade oficial do governo e gerenciar a inclusão digital. Muito pouco ele poderia fazer efetivamente num governo enfraquecido. Como líder de um partido com representatividade forte, o poder é infinitamente maior.