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Qualidade da água do rio Sorocaba cai para ruim, indica Cetesb

O estudo é o mais recente disponível. Até 2019, o índice era regular

30 de Novembro de 0001 às 00:00
Rio Sorocaba.
Rio Sorocaba. (Crédito: Fábio Rogério / Arquivo JCS (4/8/2021))

Após 22 anos do início da recuperação rio Sorocaba, a qualidade da água do manancial caiu para ruim em 2020. A informação consta no relatório Qualidade das Águas Interiores no Estado de São Paulo, elaborado pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). O estudo é o mais recente disponível. Até 2019, o índice era regular.

Segundo o relatório, em relação ao rio em geral, o Índice de Qualidade das Águas (Iaq) se manteve na categoria boa em 2020. O indicador também permaneceu inalterado em 2019 e nos últimos cinco anos. Contudo, no trecho de Sorocaba, a qualidade piorou e passou para a categoria ruim. O motivo é o aumento “nas concentrações de DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio, usada para medir o consumo de oxigênio na água), E. coli (bactéria), fósforo total (indicador de excesso de fósforo), turbidez e queda nos níveis de oxigênio dissolvido (medida relativa da quantidade de oxigênio dissolvido na água)”, informou a Cetesb.

Histórico de poluição

Durante séculos, esgotos residenciais e industriais foram depositados no rio. No século XIX, roupas de hospitais também eram lavadas no manancial.  A retirada das matas ciliares ao redor do reservatório natural, dando lugar a barrancos, é outro problema. Tudo isso prejudicou a fauna e a flora, bem como tornou a água imprópria para consumo.

Para reverter essa situação, no ano 2000, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) iniciou o Programa de Despoluição do Rio Sorocaba. A iniciativa consiste na coleta, afastamento, bombeamento e tratamento de todo o esgoto produzido na cidade. Segundo a autarquia, o objetivo é livrar o leito dos córregos e do rio do despejo de esgoto.

Ainda conforme o Saae, todas as obras previstas foram concluídas em 2016, com a instalação total da estrutura para tratar 100% do esgoto gerado na cidade. A autarquia informou que o investimento foi de R$ 180 milhões, entre recursos municipais e federais. Os trabalhos incluem, principalmente, a construção e início da operação das Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) S-1, S-2, Pitico, Itanguá, Quintais do Imperador, Ipaneminha e Aparecidinha. Englobam, ainda, a instalação de 17 estações elevatórias responsáveis pelo bombeamento do esgoto para as ETEs.

Além disso, foram implementados três quilômetros de coletores tronco e auxiliares no córrego Supiriri e 12 quilômetros do coletor-troco do córrego Pirajibu. Outra medida foi a colocação de 28 interceptores de esgoto duas margens do rio Sorocaba, no trecho entre a Raposo Tavares (SP-270) e o Parque Vitória Régia. “As ações permitiram recuperar, de forma mais rápida, a qualidade da água do rio, registrando a elevação do nível de oxigenação da água e a recuperação do ecossistema, com o repovoamento de peixes, aves e animais aquáticos”, informa o Saae, em material divulgado à imprensa.

De acordo com a autarquia, por meio dos sistemas, 99,19% do esgoto produzido no município é coletado e afastado. A meta é atingir 100%. Já os volumes tratados nas ETEs equivalem a 97,5% do esgoto captado em toda a cidade. A eficiência de remoção da carga orgânica das estações registra índice perto de 90%. “(O índice está) acima do estipulado pelo Decreto Estadual 8.468/76)”, afirma.

Poluição difusa

A despoluição do rio Sorocaba por meio das ações de saneamento básico foi eficiente. A avaliação é do professor de hidrologia e recursos hídricos Manuel Enrique Gamero Guandique, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Sorocaba. Para ele, nesse ponto, o Poder Público agiu com eficácia, pois o índice de tratamento de esgoto atingiu bom patamar. “O índice nunca será de 100%, porque a cidade cresce. Então, vão tendo novas demandas nos bairros, novas indústrias”, explicou.

Porém, conforme o especialista, o que ainda prejudica a água e impede o nível de qualidade de avançar para bom é a poluição difusa. “É aquela que não se sabe de onde vem, que vem da agricultura, da indústria, da própria cidade, quando chove”. De acordo com Guandique, para acabar ou ao menos reduzir essa poluição, os órgãos ambientais competentes têm de ampliar a fiscalização, porque a prática é ilegal. "Tem que monitorar as indústrias, o pessoal que usa a água na agropecuária, na produção de cana, de laranja, por exemplo, para qualquer coisa”, sugeriu.

O professor ainda cita a conscientização da população como outra medida necessária. Ele reforça que a população deve fazer a sua parte e deixar de poluir o rio. “As pessoas continuam poluindo o rio, jogando lixo, garrafas, papel, tudo na rua, que, quando chove (o lixo) vai para o rio”. Segundo o docente, os outros municípios da região pelos quais o manancial passa também devem se preocupar em limpá-lo e preservá-lo.

Para Guandique, a recuperação do manancial é importante por diversos motivos. O primeiro é a oferta de mais um local de lazer para a população. O outro trata-se da contribuição para o reaparecimento da fauna e da flora. “Quando se recupera o rio, os animais têm condições, além de oxigênio e temperatura menor, para voltarem ao seu habitat natural.” Ainda conforme o docente da Unesp, com a água mais limpa, o custo para tratá-la cai.

O que diz o Saae

Em nota, o Saae informou que realiza análises dos principais parâmetros de potabilidade da água de saída das estações de tratamento, além das coletas diárias em vários pontos das redes de distribuição em toda a cidade. Todos os parâmetros se encontram dentro do estabelecido pela Portaria GM/MS N° 888, de 4 de maio de 2021. A autarquia também faz atendimento imediato de quaisquer eventuais reclamações de desconformidades relatadas pelos munícipes.

A implantação do sistema produtor de água do Vitória Régia, que capta água do rio Sorocaba para tratamento e distribuição, tem contribuído para a garantia do fornecimento, com toda qualidade, à população. Na ETA Vitória Régia, destaca-se o tratamento avançado da água à base de ozônio, empregado por meio de tecnologia inovadora e pioneira na América Latina. O avançado sistema permite absorver e corrigir qualquer variação da qualidade da água do rio.

A análise da qualidade da água nos mananciais paulistas é feita pela Cetesb, tendo como base uma série de fatores e variantes. Um deles é o IAQ e amostras coletadas no trecho urbano de Sorocaba, na altura da ponte Pinga-Pinga, apresentam, todas elas, índices satisfatórios de 2015 a 2020 (estudo mais recente até o momento), igual àquele identificado na altura da barragem da represa de Itupararanga.

O único ponto que não está nesse mesmo índice de IQA em 2020 foi nas proximidades da ponte na estrada municipal que liga Sorocaba à rodovia Castelo Branco, no bairro Itavuvu, ou seja, bem após o ponto onde a ETA Vitória Régia faz a sua captação de água. (Vinicius Camargo)