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Microscopia

Criaturas misteriosas (ou nem tanto) inalcançáveis a olhos humanos

Microscópio Eletrônico de Varredura da Uniso é diferente dos microscópios tradicionais

12 de Abril de 2023 às 09:45
Microscopia
Microscopia (Crédito: Microscopia Laboratório de Processamento de Imagens e Sinais - Lapisus/Uniso)

E se houvesse um mundo em miniatura em cada grão de poeira, ou de pólen? Pois é exatamente essa a premissa de um clássico da literatura infantil intitulado Horton hears a Who!, de 1954, assinado por Theodor Seuss Geisel (1904—1991), mais conhecido como Dr. Seuss. Em 2008, o livro foi adaptado para o cinema — sendo traduzido, no Brasil, para Horton e o mundo dos Quem. A narrativa acompanha um elefante chamado Horton, que, num certo dia, ouve uma voz falando com ele a partir de um grão de poeira. Ele descobre, então, que existe um mundo complexo naquele grão de poeira, habitado por criaturas tão diminutas que se tornam invisíveis aos seres macroscópicos. Diante de tal descoberta, Horton põe-se a encontrar formas de proteger o grão de poeira e seus habitantes.

Respeitada a liberdade poética da literatura infantil, uma reportagem publicada na edição de número 4 (dez./2019), da revista Uniso Ciência seguiu por lógica semelhante ao reunir uma galeria de 16 imagens produzidas pelo microscópio eletrônico de varredura (MEV) da Universidade de Sorocaba (Uniso), as quais foram definidas como “paisagens misteriosas inalcançáveis a olhos humanos”. Nessas imagens, foram incluídas tanto ampliações de itens cotidianos (como uma folha de árvore ou um fio de cabelo) quanto de materiais tecnológicos pesquisados e desenvolvidos na Universidade (como esporos bacterianos, nanopartículas, nanocristais etc.), gerando imagens semelhantes a paisagens surrealistas, ou a pinturas abstratas.

Na edição comemorativa de 5 anos da revista, outras dez imagens, todas novas e igualmente produzidas pelo MEV, foram incluídas entre as reportagens. São, principalmente, ampliações de plantas e insetos comuns que podem ser encontrados na Cidade Universitária, o maior câmpus da Uniso, ou na região de Sorocaba, mas vistos tão de perto que suas aparências se tornam tudo menos ordinárias. A exemplo do mundo em miniatura descoberto por Horton na obra de Geisel, essas imagens nos convidam a usar a ciência para olhar com atenção — e muito de perto! — os mundos em miniatura que nos cercam.

Microscopia Eletrônica de Varredura

O professor mestre Denicezar Angelo Baldo, responsável pelo Lapisus, opera o MEV da Uniso; na tela do computador, pode-se ver os detalhes de um grão de pólen. - Fernando Rezende
O professor mestre Denicezar Angelo Baldo, responsável pelo Lapisus, opera o MEV da Uniso; na tela do computador, pode-se ver os detalhes de um grão de pólen. (crédito: Fernando Rezende)

Microscópios eletrônicos de varredura, diferentemente dos tradicionais microscópios óticos, não usam lentes para ampliar os objetos a serem visualizados, nem feixes óticos de luz (ou luz infravermelha); em vez disso, eles bombardeiam as amostras com feixes concentrados de elétrons (partículas subatômicas de carga negativa). O professor mestre Denicezar Angelo Baldo, coordenador do curso de graduação em Engenharia da Computação da Uniso e também responsável pelo Laboratório de Processamento de Imagens e Sinais (Lapisus), que operou o MEV durante a produção de todas as imagens publicadas nesta edição, explica que os elétrons são lançados sobre as amostras por meio de um filamento de tungstênio (um canhão de elétrons), para “ricochetear” ao atingi-las. Então, esses mesmos elétrons são captados por detectores espalhados ao redor, que reconstroem tridimensionalmente a topografia das amostras, ou seja, as diferenças de elevação em suas superfícies. Também é possível, nesse processo, caracterizar os elementos dos quais os objetos são compostos, além de outras particularidades, dependendo dos objetivos da pesquisa que esteja sendo realizada.

O professor doutor Nobel Penteado de Freitas, do curso de graduação em Ciências Biológicas da Uniso, manuseia uma flor de hibisco  - Fernando Rezende
O professor doutor Nobel Penteado de Freitas, do curso de graduação em Ciências Biológicas da Uniso, manuseia uma flor de hibisco (crédito: Fernando Rezende)

Confira, ao longo desta edição, uma nova coleção de imagens produzidas no MEV da Uniso, acompanhadas por textos introdutórios em que os professores doutores Nobel Penteado de Freitas (botânico) e Heitor Zochio Fischer (entomólogo), além do estudante de graduação André Ruiz Marra, do curso de graduação em Ciências Biológicas, comentam os detalhes de cada uma delas.

Sobre a imagem desta reportagem

Detalhe de um dos espinhos que os vermes parasitas do filo Acanthocephala usam para se fixar nas paredes dos intestinos de seus hospedeiros. Esse indivíduo específico foi encontrado no intestino de uma onça-parda - Puma concolor
Detalhe de um dos espinhos que os vermes parasitas do filo Acanthocephala usam para se fixar nas paredes dos intestinos de seus hospedeiros. Esse indivíduo específico foi encontrado no intestino de uma onça-parda (crédito: Puma concolor)

A imagem de abertura desta reportagem é de um helminto (um verme parasita) do filo Acanthocephala. Esse indivíduo específico foi descoberto no interior do intestino de uma onça-parda (Puma concolor) encontrada atropelada na região de Sorocaba, que foi conduzida ao Hospital Veterinário da Uniso para necropsia pelo professor doutor Rodrigo Hidalgo Friciello Teixeira, que ministra diversas disciplinas relacionadas a animais selvagens nos cursos de Medicina Veterinária e Ciências Biológicas da Universidade. A imagem foi produzida por meio do MEV em novembro de 2021. Segundo a professora doutora Andrea Cristina Higa Nakaghi, que leciona componentes relacionados à parasitologia veterinária e foi uma das profissionais que participou da necropsia, a identificação do parasita foi possível devido à visualização dos espinhos (ou ganchos), semelhantes a dentes, usados para se fixar no intestino dos hospedeiros. Uma ampliação ainda mais detalhada desses espinhos pode ser conferida nesta imagem. No caso da onça-parda, o mais provável é que sua contaminação tenha se dado por meio da ingestão de carne de tatu-galinha (Dasypus novemcinctus), que é a principal presa desse carnívoro. A hipótese é sustentada pelo fato de terem sido encontradas partes do animal predado em seu estômago.

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