Editorial
A culpa é da estrela

Na quarta-feira (29), em sua primeira reunião sob o comando de Gabriel Galípolo, indicado ao cargo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou em 1 ponto percentual a taxa básica de juros para 13,25%, retornando a Selic ao mesmo nível de setembro de 2023. A decisão foi unânime e seguiu a indicação feita na reunião de dezembro de 2024, que apontava para mais duas altas da Selic da mesma magnitude neste mês e em março.
Em dezembro de 2024, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central era presidido pelo economista Roberto de Oliveira Campos Neto, indicado pelo governo de Jair Bolsonaro e alvo de duras críticas do presidente Lula. Por exemplo, em 1º de julho de 2024, Lula disse em entrevista à rádio Princesa, de Feira de Santana (BA), que “você não pode ter um Banco Central que não está alinhado com o desejo da nação. Nós não precisamos ter política de juros altos nesse momento. A taxa Selic está exagerada”.
Lula aguardava ansiosamente o fim do mandato de Campos Neto (2019-2024) e a posse de Gabriel Galípolo, acreditando que isso marcaria o fim da fase “exagerada” da Selic, como se essa decisão fosse um ato político e exclusivo do presidente do Banco Central. No entanto, a dinâmica da política monetária não funciona dessa maneira.
Em seu comunicado, o Copom afirmou que a elevação da Selic é “compatível” com sua estratégia para trazer a inflação de volta à meta. O Banco Central destacou que o cenário atual exige uma política monetária mais contracionista, com juros mais altos. “O cenário mais recente é marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, elevação das projeções de inflação, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho, o que exige uma política monetária mais contracionista”, declarou o comitê. O Copom manteve a perspectiva de um novo ajuste de 1 ponto na Selic na reunião de março, mas ressaltou que, para as reuniões seguintes, a “magnitude do ciclo será ditada pelo compromisso com a convergência” das taxas de inflação.
Simplificando, o Copom decidiu elevar a taxa Selic para 13,25% ao ano devido à inflação persistente, que acumulou 4,5% nos últimos 12 meses, acima da meta oficial de 3%.
Outro fator determinante para a alta dos juros foi a desvalorização do real frente ao dólar, que encarece produtos importados e pressiona os preços internos. Além disso, o aquecimento da economia e do mercado de trabalho tem impulsionado o consumo e aumentado as pressões inflacionárias.
Com essa medida, o Banco Central busca reduzir a demanda na economia, tornando o crédito mais caro e, assim, controlando a inflação. Além disso, a decisão visa restaurar a credibilidade da política monetária e conter riscos fiscais. A expectativa do mercado é de que novos aumentos possam ocorrer nas próximas reuniões, caso a inflação continue acima do esperado.
Há, ainda, outros fatores que podem levar ao aumento da Selic. A inflação alta e persistente é um exemplo. Se os preços dos produtos e serviços estão subindo muito rápido, o Copom pode elevar a Selic para conter essa alta.
A pressão do câmbio também é relevante. Se o real estiver se desvalorizando muito, o Banco Central pode subir os juros para atrair investimentos estrangeiros e fortalecer a moeda nacional.
Também se considera o cenário externo instável: se outros países, como os Estados Unidos, aumentam seus juros, o Brasil pode fazer o mesmo para evitar fuga de capitais.
Somado a tudo isso, há o risco fiscal. Se o governo estiver gastando muito e aumentando a dívida pública, os investidores podem exigir juros maiores para continuar financiando o País. Isso tem sido recorrente no Brasil desde o início do terceiro mandato de Lula na Presidência. No fechamento de 2024, as contas do Governo Central registraram um déficit primário bilionário. No ano passado, a diferença entre as receitas e as despesas ficou negativa em R$ 43,004 bilhões, equivalentes a 0,36% do Produto Interno Bruto (PIB). Sem contabilizar os gastos com o Rio Grande do Sul e outras despesas excluídas do cômputo da meta, o rombo ficou em
R$ 11,032 bilhões, correspondente a 0,09% do PIB. Isso incomoda o mercado e demanda ações efetivas do governo para conter esse déficit. É preciso saber gastar o dinheiro público se quiser ver a taxa básica de juros reduzida.
Ontem (30), em entrevista a jornalistas, Lula disse que o governo pode vir a discutir, ao longo de 2025, novas medidas de corte ou contenção de gastos, mas deixou claro que essa não será uma prioridade deste ano. O recado está dado. Agora, resta ver a reação do mercado.