Press Enter and then Control plus Dot for Audio
Sorocaba, Quinta-feira, 1 de Maio de 2025

Buscar no Cruzeiro

Buscar

Editorial

Abismo entre promessa e realidade

26 de Abril de 2025 às 20:00
placeholder
placeholder

O abismo entre promessa e realidade frustra qualquer relação, seja ela qual for. Vamos nos ater a uma específica. O que foi dito na campanha eleitoral de 2022 — que elegeu Lula para o terceiro mandato como presidente do Brasil — e a realidade, de que pouco se fala publicamente.

Vamos aos fatos: Durante a campanha eleitoral, as declarações de Lula e Marina Silva sobre o desmatamento da Amazônia refletiram a urgência de uma pauta que há décadas desafia o Brasil. Ambos com discursos que buscavam equilibrar desenvolvimento econômico e preservação ambiental, destacaram a necessidade de ações concretas para frear a devastação da maior floresta tropical do planeta. Lula, em seus discursos, prometeu retomar o compromisso com políticas ambientais mais rígidas, reforçando a importância de fortalecer os órgãos de fiscalização e de implementar um modelo de desenvolvimento sustentável. Marina Silva, por sua vez, sempre defendeu a preservação como prioridade.

Uma vez eleito, Lula colocou Marina para cuidar disso tudo, dando a ela o Ministério do Meio Ambiente. O que se vê na prática é uma decepção. Dados recentes indicam que o desmatamento na Amazônia voltou a níveis alarmantes, atingindo números que não eram vistos há anos. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o desmatamento aumentou significativamente nos últimos meses, impulsionado por uma fiscalização que não funciona como prometeram Lula e Marina. A flexibilização de regras ambientais, a redução de recursos e o enfraquecimento de órgãos como o Ibama e o ICMBio têm contribuído para um cenário de retrocesso na proteção da floresta.

A prova disso é que a Amazônia Legal teve um aumento de 18% no desmatamento acumulado de agosto de 2024 a março de 2025, em comparação ao período anterior — de agosto de 2023 a março de 2024 —, segundo dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) divulgados na quinta-feira (24) pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

A área desmatada, de 2.296 quilômetros quadrados, se aproxima à da cidade de São Paulo somada aos municípios do ABC, e é a sexta maior da série histórica para o período, segundo o Imazon. A tendência de alta indicada pela ferramenta pode ser especialmente preocupante no ano em que o Brasil recebe a COP30, que será realizada em novembro, em Belém (PA).

E não é só isso. Enquanto o desmatamento consiste na remoção total da cobertura vegetal, a degradação florestal, também em alta, é ocasionada pelas queimadas e extração madeireira, que impactam a biodiversidade, a produção de água e o estoque de carbono da floresta, mesmo quando parte dela permanece em pé, e facilita a entrada de novos incêndios na mata.

Segundo o Imazon, a área degradada da Amazônia foi de 34.013 quilômetros quadrados no período de agosto de 2024 a março de 2025, uma área 329% — ou seja, mais de quatro vezes, na comparação com o acumulado de agosto de 2023 a março de 2024.

O instituto relaciona a alta exponencial na degradação às queimadas que atingiram grandes áreas da floresta amazônica em 2024. De outubro de 2024 a março de 2025, a área degradada na Amazônia se estabilizou, mas se mantém em um patamar historicamente alto. Ao longo de 2024, a Amazônia teve a maior taxa de degradação em 15 anos.

O acumulado considera os primeiros oito meses do “calendário do desmatamento”, período de agosto a julho, definido em função da estação chuvosa do bioma (de novembro a maio). Historicamente, as maiores taxas de desmatamento acontecem no período mais seco (de junho a outubro), por ser mais difícil desmatar, queimar e extrair madeira com chuva). Para a comparação ser justa, o monitoramento mensal compara os números ao mesmo mês do ano anterior.

E como atestar se isso tudo realmente está acontecendo na Amazônia Legal? O Imaton monitora mensalmente o ritmo do desmate e da degradação florestal na região por meio do Sistema de Alerta de Desmatamento, que se baseia em imagens dos satélites Landsat 7 e 8, da Nasa, e Sentinel 1A, 1B, 2A e 2B, da Agência Espacial Européia (ESA). Portanto, essa é a realidade: falar ao vento é muito mais fácil do que agir efetivamente.