Editorial
Lula pede ‘esperteza’ a Zelensky

A retórica de Lula e Zelensky marcou o início da 79ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. O presidente da Ucrânia questionou na quarta-feira (25) o “verdadeiro interesse” de Brasil e China em acabar com a guerra entre seu país e a Rússia, dizendo que os países “não vão impulsionar seu poder às custas da Ucrânia”.
A Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022. Nove meses depois, Zelensky anunciou um plano de paz de 10 pontos para pôr um fim ao conflito com base na Carta da ONU e no direito internacional. Moscou rejeitou o plano.
“A fórmula de paz já existe há dois anos, e talvez alguém queira um Prêmio Nobel para sua biografia política, para uma trégua congelada, em vez de paz real, mas os únicos prêmios que Putin lhe dará em troca são mais sofrimento e desastres”, disse Zelensky à organização de 193 membros, referindo-se ao presidente russo, Vladimir Putin.
“Quando alguns propõem alternativas, planos de acordo sem convicção, os chamados conjuntos de princípios, isso não apenas ignora os interesses e o sofrimento dos ucranianos... não apenas ignora a realidade, mas também dá a Putin o espaço político para continuar a guerra. Quando a dupla sino-brasileira tenta se transformar em um coro de vozes — com alguém na Europa, com alguém na África — dizendo algo alternativo a uma paz plena e justa, surge a pergunta: qual é o verdadeiro interesse?”, disse Zelensky.
A China e o Brasil têm tentado convencer outros países em desenvolvimento a aderir ao plano de paz de seis pontos que os dois países apresentaram em maio. O documento contém seis pontos: 1) Não escalada de ambos lados; 2) a realização de uma conferência internacional de paz; 3) assistência humanitária e troca de prisioneiros de guerra; 4) não utilização de armas de destruição em massa; 5) não atacar alvos nucleares; e 6) garantir a estabilidade das cadeias industriais e de abastecimentos globais.
Em resposta a Zelensky, Lula afirmou não existir a possibilidade de uma solução militar para o conflito e defendeu uma saída diplomática destacando o plano em seu discurso na ONU. O presidente brasileiro disse que o líder ucraniano disse apenas o óbvio dentro de sua obrigação presidencial, mas que ainda assim ele não está conseguindo alcançar a paz.
“Eles não precisam aceitar a proposta da China e do Brasil, porque não tem proposta, tem uma tese de que é importante começar a conversar”, disse Lula. “Ele (Zelensky), se fosse esperto, diria que a solução é diplomática, não é militar. Isso depende da capacidade de sentar e conversar, de ouvir o contrário e tentar chegar ao acordo, para que o povo ucraniano tenha sossego na vida”.
A guerra entre Rússia e Ucrânia é um dos principais conflitos armados na atualidade e responsável por causar uma importante alteração nas relações entre as principais potências globais. Uma das principais causas do conflito é a aproximação da Ucrânia com o Ocidente, tida pela Rússia como uma ameaça à sua soberania. As consequências são o grande número de mortes, de refugiados e graves prejuízos financeiros.
As relações entre Brasil e Ucrânia privilegiam as parcerias estratégicas que cooperam em comércio, tecnologia espacial, educação, energia, cuidados de saúde e defesa. O desenvolvimento recente de uma articulação de indústria espacial tem fortalecido os laços entre os dois países. A Ucrânia considera o Brasil seu parceiro comercial chave na América Latina.
As relações entre Brasil e Rússia têm visto uma melhora significativa nos últimos anos, caracterizada por um aumento das trocas comerciais e a cooperação em matéria de tecnologia militar e segmentos. Atualmente, o Brasil possui uma importante aliança com a Federação Russa, com parcerias em áreas como tecnologia espacial, militar e telecomunicações.