Mercado
Falta mão de obra no comércio de Sorocaba
Há duas mil vagas abertas nos supermercados; lojistas também estão com dificuldades para contratar

Ao caminhar pelas ruas do Centro de Sorocaba é comum encontrar papéis de contratação colados nas paredes das lojas. Muitos permanecem ali por meses, reflexo da dificuldade dos lojistas em encontrar mão de obra. De acordo com eles, faltam candidatos. Alguns até conseguem contratar, mas logo o funcionário deixa a empresa e a busca por um novo trabalhador recomeça. Segundo uma especialista da área, o problema está relacionado a diversas questões, entre elas estão a falta de qualificação profissional e a exigência de horários. Outro ponto seria o perfil das novas gerações, que buscam mais flexibilidade e autonomia no trabalho.
Jurandir José Duarte, gerente supervisor de uma loja de sapatos do Centro de Sorocaba, conta que está com dificuldade para contratar há cerca de 3 anos, mesmo com o setor aquecido. O comércio contabilizou em 2024, segundo dados do Caged, saldo positivo de 2.210 vagas. Já em fevereiro de 2025 — mês do último balanço divulgado — 20 novos postos foram criados. No entanto, segundo Jurandir, as vagas não são preenchidas e, quando são, há alta rotatividade. Ele destaca também que muitos estão preferindo trabalhar com vendas pela Internet.
“Nas lojas hoje tem um monte de vaga de emprego só que o pessoal entra, trabalha um, dois meses e pede a conta. Eles não querem ter um compromisso sério e essa dificuldade não é só aqui, é em qualquer setor da economia, porque você vai em supermercado está assim, qualquer loja de departamento está uma dificuldade danada”, diz Jurandir.
Situação que gera gasto para a empresa. “Isso tem custo. Você registra o funcionário, faz exame médico, para ficar trocando toda hora. Agora mesmo vai chegar o Dia das Mães, Dia dos Namorados, e o comércio requer bastante gente pra trabalhar e não está tendo, hoje eu quero contratar até freelancer e o pessoal não quer. Está complicado”, completa o gerente.
Gustavo Ferreira é gerente de uma loja de roupas, também localizada no Centro, e tem a mesma dificuldade. Ele conta que um dos empecilhos é encontrar profissionais qualificados, que saibam se comunicar para atender bem os clientes. Outra questão é a falta de interesse de algumas pessoas. Para não correr tantos riscos, ele procura selecionar candidatos com mais de 28 anos.
“A maioria das minhas vendedoras tem em média 28, 30 anos, e uma vendedora tem 60 anos. Elas têm comprometimento, responsabilidade, força de vontade, querem fazer a coisa acontecer. Muita gente olha com pouco caso pela idade, mas ao contrário do que muitos pensam, eu prefiro e sempre são as pessoas que me entregam mais resultados”, afirma Gustavo.
Desafios
Ofertas de vagas não faltam no comércio de Sorocaba, principalmente em períodos sazonais, como o início do ano letivo, Dia das Mães, Dia dos Namorados, Black Friday e Natal. No entanto, segundo Vera Vaz, especialista em Pessoas & Negócios, preencher essas vagas é um desafio constante e está relacionado a várias questões.
Uma delas é a dificuldade em identificar candidatos com o perfil ideal: pessoas comunicativas, empáticas, com habilidades para construir relacionamento com o cliente e comprometidas com metas de vendas. Além disso, de acordo com a especialista, há uma lacuna significativa na qualificação técnica de muitos candidatos.
“Problemas como comunicação pouco clara, postura profissional inadequada e desconhecimento sobre o papel do vendedor como representante direto da marca ainda são recorrentes. Isso torna o processo seletivo mais complexo e exige das empresas um maior investimento em treinamento e desenvolvimento de equipe”, explicou.
Outra questão é o horário estendido, que está entre os principais motivos de recusa por parte dos trabalhadores. “Sem dúvida, a exigência de trabalhar em horários estendidos, incluindo noites, fins de semana e feriados, é um fator relevante de recusa. Para muitas mulheres — especialmente mães — a falta de apoio familiar inviabiliza a adesão a esses turnos, já que a responsabilidade com os filhos recai, em grande parte, sobre elas”.
Há ainda mudanças no perfil das gerações. Vera diz que jovens da Geração Millennial e da Geração Z buscam cada vez mais flexibilidade e autonomia no trabalho. “Muitos encontram no empreendedorismo digital, em trabalhos freelancers ou em plataformas on-line uma alternativa com maior retorno financeiro e liberdade de tempo, em comparação ao regime tradicional do varejo”.
Para superar esses desafios, a consulta de RH propõe estratégias às empresas. A dica é capacitar gestores, promovendo uma liderança mais empática e alinhada com metas claras e capaz de engajar a equipe. Também é importante criar um ambiente de trabalho saudável e uma cultura organizacional bem definida.
“Como consultora de RH, observo que muitas empresas ainda encaram o processo de contratação como algo imediato e sem planejamento. Porém, contratar bem exige preparo: uma descrição de função clara, processos seletivos estruturados, programas de integração e desenvolvimento contínuo. Não se forma uma equipe qualificada em quinze dias. Além disso, investir em tecnologia pode reduzir a dependência da mão de obra operacional, permitindo foco na qualificação dos profissionais que realmente agregam valor no atendimento ao cliente. Por fim, é fundamental ouvir os colaboradores e entender suas necessidades, promovendo equilíbrio entre vida pessoal e profissional”, conclui Vera Vaz.
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