Impunidade
Caso 'Carol Pascuin' completa dois anos com acusado foragido
Eduardo de Freitas Santos, acusado de matar Carol, continua solto e é suspeito de abusar de uma criança de dois anos

Em um apartamento, há dois anos, a vida de Anna Carolina Pascuin Nicoletti, afetuosamente chamada de Carol, foi brutalmente interrompida. A impunidade diante do caso rasga uma ferida permanente no peito de Elaine Pascuin, a mãe de Carol. Isso porque Eduardo de Freitas Santos, acusado pelo crime, segue foragido da Justiça.
Elaine e Eduardo viveram em união estável por 15 anos e estavam separados na época do assassinato da jovem, de 24 anos. Para a mãe da vítima, a imagem de Eduardo é como um fantasma: "foragido e inalcançável". Enquanto isso, ela tenta encontrar um pouco da filha nos olhos de Lucky, um Spitz Alemão que deu à Carol em seu aniversário de 22 anos.

Os quadros pintados pela vítima ainda estão pendurados na parede, assim como uma grade de fotos que guardam os melhores momentos de sua vida. É entesourando essas lembranças que ela encontra forças para continuar a sua luta incansável, a Justiça. “Minha vida sem a Carol é vazia. Não sobrou nada sem ela”, desabafa.
Com o tempo, Elaine conseguiu se desprender de outras coisas de Carol e as doou para a associação Lar São Francisco de Assis, que atua sem fins lucrativos na área de saúde e assistência social. Ela, que é psicólogca, diz enfrentar a ausência da filha como uma batalha diária de aceitação. No entanto, afirma não ter digerido o fato de Eduardo ainda estar solto e “viver uma vida normal”.

O algoz de Carol foi preso temporariamente no dia 24 de novembro de 2021, em Pilar do Sul. Contudo, ele foi solto dois meses depois, em 24 de janeiro de 2022. A liberdade foi oportuna para Eduardo, que agora é suspeito de outro crime. Em 17 de julho deste ano, ele supostamente teria abusado sexualmente de uma criança de dois anos. Diante desse novo caso, a Justiça expediu um pedido de prisão preventiva, em 21 de julho. Ele, contudo, fugiu antes que pudesse ser capturado.
“Aquele feminicida está lá na Baixada Santista, vivendo a vida dele... enquanto minha filha está numa sepultura”, lamenta Elaine. “As pessoas vão se afastando, vão tocando as vidas delas e só sobra a mãe, mesmo. Julgam a vítima, julgam a família, mas se esquecem do assassino”, continuou.
Depois da morte da Carol, Elaine iniciou uma cruzada em auxílio a outras mulheres emaranhadas nas teias da violência doméstica. Ela se uniu a um coletivo de mulheres que trabalham na perspectiva de gênero e auxiliam as vítimas. Nas redes sociais, mais de 36 mil pessoas acompanham o perfil @advogoparaelas, coadministrado por Elaine, onde ela atua como assistente técnica forense. Paralelamente, Elaine empreende esforços no perfil @justicaporcarolpascuin, dedicado a atualizações sobre o caso de Carol e suporte para mulheres que buscam escapar das garras de relações abusivas, aprendendo a reconhecer os sinais de um predador.

O caso
O caso de Carol chocou o País inteiro, mas não se trata de um caso isolado. Elaine conta que muitas outras vítimas sofrem em silêncio com os abusos cometidos por seus padrastos. “Atendi uma pessoa que falou pra mim que se identificava muito com as questões da Carol e com as minhas. O padrasto abusou dela. E ela até hoje tem que conviver com o padrasto, porque a cidade é pequena, ela não quer expor a família, não quer expor a mãe, nem se sujeitar aos julgamentos. Porque todo mundo fala assim: ‘Ah, se estava aguentando é porque estava gostando ou é porque tinha algum tipo de interesse’”, disse.
Carol foi assassinada pelo seu ex-padrasto, Eduardo de Freitas Santos, dentro do seu apartamento em Sorocaba, com um tiro na cabeça, no dia 13 de novembro de 2021. Eduardo é advogado e já havia sido preso em 2017 por estuprar e divulgar vídeos íntimos de uma adolescente na internet.
“Minha vida sem a Carol é vazia. Não sobrou nada sem ela. Só restaram as idas ao cemitério, o choro, o arrependimento, as culpas. Sempre me pego pensando: ’se eu tivesse feito diferente’, ’se eu tivesse feito assim’, ’se eu tivesse feito desse jeito’. É todo dia procurar uma razão para viver. Nenhuma mãe devia passar pela perda de um filho, não é biologicamente correto”, desabafou Elaine. (Wilma Antunes)
Galeria
Confira a galeria de fotos