Diagnóstico rápido
Químico sorocabano desenvolve sensores de doenças que dispensam laboratório

O químico sorocabano Lucas Felipe de Lima desenvolveu testes capazes de diagnosticar diversas doenças sem a necessidade de exames laboratoriais. Pesquisador do Instituto de Química (IQ) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ele diz que os dispositivos são mais rápidos, baratos, de fácil acesso, possíveis de serem produzidos em larga escala e precisos.
Lucas iniciou esse trabalho em 2021, com a criação de testes para detecção da Covid-19, quando estava na Faculdade de Medicina da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Na mesma época, ele também produziu biosensores para identificar herpes. Quando voltou para o Brasil, o pesquisador elaborou cinco novos sensores que diagnosticam mpox, infarto agudo do miocárdio e biomarcadores salivares, além do Sars-CoV-2 e herpes.
Um deles mostra, ainda, os níveis de glicose, ácido úrico, nitrito e tiocianato no organismo das crianças. Alterações nesses biomarcadores podem indicar, respectivamente, diabetes, má nutrição, infecção gengival e câncer ou fibrose cística. Por isso, pode-se dizer que o recurso ajuda na descoberta desses problemas também.
Os testes funcionam da seguinte forma: primeiro, a saliva, o sangue ou outros fluidos corporais são colocados no biosensor. Em seguida, ele converte a reação bioquímica em um sinal elétrico e, posteriormente, gera uma informação. Para analisar essa informação, o sensor é conectado a um equipamento ligado a um smartphone. Um aplicativo realiza a leitura e apresenta os resultados em forma de gráficos.
Para explicar todo esse processo, Lucas faz um comparativo com o glicosímetro — dispositivo para medir o nível de glicose. Nesse exame, uma gota de sangue é extraída — geralmente, de um dos dedos — e colocada no dispostivo portátil. Ele analisa o material e, no visor, indica o valor da concentração do marcador metabólico no corpo. “O que eu fiz é muito similar ao glicosímetro, mas, em vez de detectar glicose, eu detecto patógenos ou biomarcadores. São proteínas — ou de vírus ou do nosso próprio organismo”, detalha.
Vantagens
Embora não sejam autotestes, os biosensores possuem diversas vantagens. Segundo o pesquisador, os resultados dos exames têm acima de 90% de precisão e saem na hora. Isso porque médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e outros profissonais de saúde podem efetuá-los nas próprias unidades de atendimento. Para o pesquisador, essa pronta resposta ajuda os especialistas a agir de forma mais rápida e adequada. “A própria enfermeira pode fazer o teste antes do paciente entrar na consulta, montando um caso preliminar. Assim, (na consulta), o médico já poderia dar algum tipo de diagnóstico”.
Além disso, por não demandar estrutura laboratorial, nem pessoas especializadas para manuseá-lo, o recurso é mais barato. Essas facilidades, aliadas à possibilidade de produção em larga escala, também favorecem a logística para a realização dos exames e testagens em massa. “Se tem uma região remota — vamos imaginar uma tribo na Amazônia —, em que as pessoas precisam ser testadas, em vez de coletar amostras de todos eles — membros da tribo —, levar para um laboratório, fazer análise, ter um resultado, depois passar o resultado para eles, os testes que eu desenvolvo fazem tudo na hora”, exemplifica Lucas.
Como não demandam coleta de sangue — podendo ser feitos com saliva e suor, por exemplo —, os testes ainda são menos invasivos. Conforme o pesquisador, esse é um aspecto positivo principalmente para crianças.
Futuro
Lucas Lima quer tornar os dispositivos cada vez mais acessíveis e, para isso, está empenhado em aumentar a sua estabilidade. O objetivo é tornar possível o armazenamento por períodos maiores. Ele também trabalha no desenvolvimento de biossensores eletroquímicos para detectar dengue, zika e chikungunya, simultaneamente, assim como leucemia.