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Uniso comenta: Para não esquecer da COP26
A próxima conferência climática da ONU acontecerá no Egito, em novembro
A última Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudança Climática, também chamada de COP26 (do inglês, Conference of the Parties, ou Conferência das Partes, sigla acrescida do número 26 por essa ser a 26ª conferência desse tipo) aconteceu no fim do ano passado, depois de muita polêmica. O evento é definitivamente a maior e mais importante conferência sobre o clima do mundo e essa última edição, particularmente, vinha gerando bastante expectativa por acontecer após a divulgação de preocupantes projeções do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Essas projeções mostraram a necessidade, ainda mais urgente do que se pensava, de controlar o aumento da temperatura média do planeta — sendo que o ideal, ainda que bastante improvável, é limitar o aumento a +1,5ºC em relação à temperatura média do século XIX (pré-revolução industrial).
Os resultados das negociações entre os 197 países participantes dividiram opiniões: boa parte dos especialistas e ativistas entendeu que, apesar dos avanços, os resultados estiveram aquém das expectativas. Confira, na sequência, os comentários de dois especialistas da Uniso.
O professor doutor Daniel Bertoli Gonçalves, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Processos Tecnológicos e Ambientais da Uniso, é bastante crítico em relação ao papel de conferências como a COP, bem como em relação ao papel da universidade como instituição: “O problema da poluição do ar pela queima de combustíveis fósseis não é nem de longe um problema acidental, ele é a consequência de uma opção tecnológica imposta por um acordo entre aqueles que produzem o combustível, aqueles que fabricam os motores e aqueles que financiam os negócios, protegido pelos governos de seus respectivos países. É por isso que propostas mais simples para a redução das emissões, que envolvem impor limites a esse tipo de acordo, têm sido infrutíferas desde a primeira conferência do clima.” Ele defende, ainda, que são as motivações financeiras — e não as ambientais — que motivam decisões como a do mercado de créditos de carbono. “Esse é um mercado que já movimentou as bolsas de valores nas duas últimas décadas e é por isso que ele foi prontamente implementado, porque representa novas oportunidades de negócios para aqueles que de fato tomam as decisões. Para essas pessoas, os problemas são chamados de ‘desafios’, que, por sua vez, são transformados em oportunidades para novos negócios, discutidos nos bastidores, bem longe dos holofotes. Nesse grande cenário, é papel da Universidade provocar reflexões, desmistificar os discursos e contribuir com a construção do conhecimento por meio de pesquisa, ao mesmo tempo em que prepara os profissionais que estarão atuando no mercado neste futuro próximo.”
O professor doutor Nobel Penteado de Freitas, coordenador do curso de graduação em Ciências Biológicas e coordenador do Núcleo de Estudos Ambientais (NEAS) da Uniso, tem uma longa trajetória quando o assunto é meio ambiente: desde o começo da década de 1980, quando ainda cursava Biologia, ele esteve envolvido com educação ambiental, o que o levou a estudar a fisiologia da germinação de sementes tanto no mestrado quanto no doutorado; em 1995, esteve diretamente envolvido na criação do Comitê de Bacias Hidrográficas do Rio Sorocaba e Médio Tietê, bem como na criação da Área de Proteção Ambiental (APA) de Itupararanga, em 1998, cujo objetivo é proteger os recursos hídricos que abastecem Sorocaba e municípios adjacentes. Em relação à COP26, ele pondera que, mesmo longe de perfeitos, os resultados podem ser considerados interessantes, especialmente se considerarmos que a conferência foi seguida da pandemia de Covid-19, que causou muitos prejuízos econômicos aos países. Entre os ganhos, ele destaca as iniciativas para a regulação do mercado de carbono: “Esse é o ponto de maior interesse para o Brasil. O mecanismo prevê a venda de créditos por parte de países com menores taxas de emissão, ou que atinjam as metas de redução, os quais poderão negociar esses créditos com os países que não consigam cumprir as suas metas. O Brasil, como um país que já possui uma matriz energética de baixas emissões, quando comparada aos países desenvolvidos, e que possui grandes extensões de florestas como a Amazônia, é forte candidato a receber boa parte desses créditos de carbono, os quais podem gerar até US$1 trilhão nas próximas décadas.” Ele destaca também as posições oficiais tomadas pelo Brasil no evento: “Apesar de alguns posicionamentos do governo federal, o país se comprometeu em mitigar 50% de suas emissões de gases de efeito estufa até 2030 (tendo o ano de 2005 como referência) e também em zerar o desmatamento ilegal até 2028.” Por fim, ele exalta a participação da sociedade civil, incluindo representantes de ONGs, grupos indígenas e empresários de vários setores, os quais conseguiram firmar acordos paralelos durante a conferência.
Para saber mais: Os principais resultados da COP26
Os países participantes assinaram um acordo para acelerar a transição para fontes renováveis de energia, incluindo a perspectiva de destinação de nada menos do que US$ 1 trilhão, por parte dos países mais ricos, para auxiliar os países mais pobres nesse processo. O principal resultado foi certamente o compromisso de reduzir o uso de carvão (ainda que o mais adequado fosse eliminá-lo completamente). Foi estabelecido, também, o mercado global de carbono, de modo a permitir aos países comercializar créditos de carbono entre si. Dos 197 países participantes, 100 concordaram em reduzir em 30% as emissões de metano (também causador do efeito estufa, como o CO2) até 2030. A mesma quantidade concordou em interromper o desmatamento nesse mesmo período.
A COP27, próxima conferência climática da ONU, acontecerá no Egito, em novembro.
Texto: Guilherme Profeta