Não ao tabaco, sim à saúde
Éric Diego Barioni
No último dia 29 de agosto celebramos no Brasil o Dia Nacional de Combate ao Fumo, e a temática da campanha de 2019 foi sobre o uso do narguilé. O narguilé é um dispositivo para uso de tabaco e outras drogas, que possibilita ao usuário, entre outras coisas, sessões de uso compartilhadas que variam de 20 a 80 minutos.
Nessas sessões, o usuário poderá inalar de 0,5 até 1 litro de fumaça por baforada. Além disso, o narguilé carrega consigo uma série de mitos que precisam ser desmitificados. Muitos usuários acreditam que a água do dispositivo filtre as impurezas geradas pela queima do carvão e tabaco, no entanto, a literatura científica mostra justamente o oposto: que a água do dispositivo, que muitas vezes tem sido substituída por bebidas alcoólicas, não filtra a nicotina e as demais substâncias tóxicas.
Na contramão dos resultados que no Brasil demonstram que o número de usuários de cigarros comuns tem diminuído -- e isso graças às ações do Programa Nacional de Controle do Tabaco juntamente com o Ministério da Saúde (MS) e o Instituto Nacional do Câncer (Inca) e orientadas pela Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT) da Organização Mundial da Saúde (OMS) --, propagandas de marketing irresponsáveis tentam atrair a atenção dos jovens para o narguilé, e o número de tabacarias e bares especializados na oferta tem aumentado.
Enquanto o uso de um cigarro comum propicia ao usuário um total de 0,5 a 0,6 litros de fumaça, o usuário de narguilé irá obter aproximadamente 1 litro por baforada. Fica claro que, ainda que não seja utilizado diariamente, as consequências do uso do narguilé a médio e longo prazo serão mais devastadoras que as do cigarro comum, como pelo desenvolvimento ainda mais precoce de doenças crônicas, tais como o infarto agudo do miocárdio, os mais variados tipos de câncer, entre outros.
O tabagismo é uma doença, e o indivíduo dependente de nicotina necessita de tratamento médico. Nesta mão, muitos usuários de cigarro comum tentam obter êxito em deixar de fumar por conta própria, e para isso utilizam ferramentas não recomendadas ou impróprias para este fim. Em nossa cidade, o número de usuários de cigarro eletrônico tem aumentado, e muitos relatam o uso como parte de seus objetivos para deixar de fumar.
O tratamento disponibilizado pelo MS para a dependência da nicotina envolve o uso e a indicação médica para o uso de adesivos e gomas de mascar para reposição de nicotina e medicamentos. A OMS não recomenda o uso de cigarro eletrônico para o tratamento da dependência à nicotina, e os dados na literatura ainda não deixam claros os benefícios trazidos pelo uso deste dispositivo.
Por último, ainda que o cigarro eletrônico não exponha o ambiente à fumaça do cigarro comum, que gera muitos fumantes passivos, que no futuro sofrerão as consequências do uso passivo do cigarro, como pelo desenvolvimento de doenças crônicas, o vapor produzido pelo dispositivo cigarro eletrônico é o resultado da vaporização de duas substâncias químicas: a glicerina e o propilenoglicol.
Para que o dispositivo produza o vapor, estas substâncias são aquecidas, e este aquecimento pode chegar até 350°C, decompondo o propilenoglicol em substâncias como o formaldeído, acetaldeído, acroleína e acetona. Ainda que estas substâncias no cigarro eletrônico estejam presentes em baixas concentrações, estes produtos são altamente tóxicos e cancerígenos, e exposições repetidas poderão incrementar o risco de desenvolvimento de câncer e outras doenças.
Éric Diego Barioni é professor e coordenador do curso de Biomedicina da Universidade de Sorocaba (Uniso).