Press Enter and then Control plus Dot for Audio
Sorocaba, Segunda-feira, 28 de Abril de 2025

Buscar no Cruzeiro

Buscar

Celso Ming

A corrida pelas terras raras

14 de Abril de 2025 às 21:30
.
. (Crédito: DIVULGAÇÃO)

Uma das respostas ao tarifaço de Donald Trump foi a imposição pela China de novas restrições à exportação de terras raras. Foi uma decisão que contribuiu para intensificar a guerra comercial.

Não custa passar um espanador na memória: terras raras são um conjunto de elementos químicos — como o neodímio, túlio, cério, e ítrio. São componentes essenciais na construção de turbinas de energia eólica, baterias de carros elétricos, cabos de fibra óptica, aparelhos eletrônicos, sensores, painéis solares, sistemas de mísseis e radares.

Por se tratar de um recurso estratégico, o controle sobre as terras raras tornou-se alvo de disputas geopolíticas, sendo uma das razões por trás da cobiça de Trump pela Groenlândia. Em troca de apoio militar na guerra contra a Rússia, o ex-presidente norte-americano também demonstrou interesse em que a Ucrânia permitisse a exploração de suas jazidas minerais.

Além de possuir a maior reserva mineral catalogada, a China domina todos os segmentos da indústria mundial do setor: mineração, refino e produção de ímãs de terras raras.

Como detém a segunda maior reserva do mundo, o Brasil está em condições de liderar o processo de transição energética e alavancar a economia nessa guinada verde. Minas Gerais, Goiás e Bahia são os Estados com os maiores depósitos em prospecção. Mas há reservas mapeadas também nos Estados da região norte.

Em relatório, a consultoria Deloitte pontua que o País poderia adicionar até R$ 243 bilhões ao PIB nos próximos 25 anos apenas com o desenvolvimento do setor. Mas há gargalos a enfrentar para que o País se transforme em polo de produção e refino desses minerais. Entre eles estão: a falta de um marco legal para atrair investimentos; desenvolvimento de pesquisas e soluções de processamento; o insuficiente mapeamento do real potencial mineral; e a irrelevante contribuição para a atual produção mundial, que é de menos de 1%. Apenas uma planta produz terras raras, a de Serra Verde, no Estado de Goiás (foto).

Na avaliação de André Luis Pimenta, coordenador do Instituto Senai de Inovação em Processamento Mineral, é preciso desenvolver no País essa cadeia produtiva de forma acelerada. As prioridades são o fortalecimento do mapeamento de reservas, em parcerias público-privadas, para estudos geológicos e fornecimento de dados para atrair investimentos e soluções para beneficiamento. Como a mineração dos depósitos de terras raras é mais curta, em torno de 20 a 30 anos, dominar o processamento é essencial para evitar que o Brasil se torne mero exportador da commodity.

No início deste mês, o Serviço Geológico do Brasil anunciou investimentos de R$ 10,2 milhões ao longo de cinco anos destinados a impulsionar o desenvolvimento de materiais inovadores à base de terras raras.

É passo importante, mas precisa vir acompanhado de políticas integradas que sustentem o crescimento do setor. Enfim, entusiasmo e vontade política para chegar lá. (Com Pablo Santana)

Celso Ming é comentarista de economia.