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Número de morte no trânsito de Sorocaba supera homicídios e delegado alerta: ‘carro não é arma’

Só em janeiro foram 11 acidentes fatais em vias urbanas e rodovias da cidade; redução de casos esbarra na conscientização dos motoristas

15 de Março de 2025 às 20:22
Artigo 28 do CTB indica o que um condutor habilitado deve fazer para se manter seguro
Artigo 28 do CTB indica o que um condutor habilitado deve fazer para se manter seguro (Crédito: FÁBIO ROGÉRIO)

O número de mortos no trânsito de Sorocaba está superando os casos de homicídio há alguns anos. Em 2024, por exemplo, houve 133 acidentes fatais nas ruas, avenidas e estradas da cidade contra 55 homicídios registrados no mesmo período — diferença de 141,81%. Os dados são do Sistema de Informações Gerenciais de Sinistros de Trânsito (Infosiga) e da Secretaria de Segurança Pública do Estado.

Só em janeiro deste ano, foram 11 acidentes fatais em vias urbanas e rodovias de Sorocaba, contra dois homicídios. As autoridades ainda compilam dados de fevereiro. No entanto, o Cruzeiro do Sul já noticiou três acidentes fatais recentemente. “Carro não é arma. As pessoas estão nervosas. Isso gera consequências no trânsito. Temos de baixar este índice que não orgulha ninguém”, afirma o delegado titular do 8º Distrito Policial (DP) de Sorocaba, Acácio Aparecido Leite.

Recentemente, ele comandou uma campanha de mais segurança no trânsito. “A conduta é tudo que importa”, enfatiza. “O grande problema é atingir todos os condutores existentes [carro, moto, caminhão e ônibus]. Mais difícil ainda os pedestres. Todos têm de ser conscientizados e isso é trabalhoso. Por isso, que fazemos campanhas.”

Acácio entende que o Poder Público deve constantemente estudar as melhores maneiras de gerir suas ruas. “E mirar no bolso que parece que é só assim que funciona”, aponta o delegado.

Doutora em psicologia da educação, Sonia Chébel Mercado Sparti, orienta as pessoas a dirigirem com atenção, cautela, sem vingança e buscando diminuir o estresse. “Controlar a si mesmo é até mais difícil do que controlar a máquina (carro, moto, caminhão, ônibus etc.)”, admite a autora do livro Jovens ao Volante: uma proposta de educação para o trânsito (Labrador, 2024).

De olho no CTB

Especialista em trânsito, o advogado Renato Campestrini, destaca que o artigo 28 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) basicamente diz tudo o que um condutor devidamente habilitado deve fazer para se manter seguro no trânsito. “O condutor deverá, a todo momento, conduzir com atenção e cuidados indispensáveis à segurança no trânsito. Essa regra básica minimiza as chances de o condutor se envolver em um sinistro (acidente e/ou incidente) de trânsito. E tal regra compreende o respeito ao limite de velocidade, sendo ela um dos principais fatores de riscos no trânsito”, explica.

Ainda conforme ele, é necessária uma série de atitudes para garantir mais segurança. “Não manusear o celular ao conduzir, ato que aumenta em 23 vezes o risco de o condutor se envolver ou causar um sinistro, e respeito ao sinal vermelho do semáforo, independentemente do horário, já que as estatísticas estão aí para comprovar que o risco de ser vítima de um delito armado é bem menor do que o de se envolver em um sinistro de trânsito”, comenta.

Uma dica de Renato Campestrini é reduzir a marcha e, ao se aproximar do semáforo, a luz já estará verde. “Lembrando que o trânsito abrange pedestres e ciclistas e que adotar comportamentos seguros é essencial também para esses públicos.”

Sônia Chébel completa: “É preciso considerar as outras pessoas no espaço compartilhado da circulação humana, a que chamamos trânsito, como parceiras, isto é, como companheiras de jornada, com o mesmo direito de uso das vias públicas e sujeitas às mesmas situações adversas do percurso, como congestionamentos, alagamentos, vias interrompidas, desvios de pistas, comando policial, dentre outras, e não como adversárias, consideradas obstáculos ao seu caminho, simplesmente por estar em sua frente ou ter realizado uma ultrapassagem”.

Para a psicóloga, as pessoas não devem ser vistas como competidoras, que devem ser vencidas, por terem um carro mais possante, ou como inimigas que precisam ser punidas, por terem feito uma manobra indevida. “Pesquisas psicológicas indicam que a violência ou a cordialidade no trânsito dependem, fundamentalmente, do modo como os/as condutores percebem as outras pessoas no trânsito”, assinala.

Leitos hospitalares

Os efeitos nocivos do trânsito são sentidos diretamente pelas pessoas, em especial àquelas que precisam dos serviços de saúde e assistência social. “No Brasil, praticamente 60% dos leitos hospitalares estão ocupados por vítimas do trânsito, 50% da utilização dos centros cirúrgicos são para atender vitimas do trânsito, o que prejudica sensivelmente o atendimento de pessoas que por motivos de doença precisam de tratamento”, revela Renato Campestrini.

Além disso, continua ele, há a assistência social que precisa dar suporte para pessoas que têm sua condição de vida alterada pelos acidentes. “Muitos chamados arrimos de família acabam precisando de amparo de outros familiares ou do Poder Público para a manutenção de condições mínimas de subsistência e para utilizar medicamentos, alguns com preços elevados”, afirma.

Setores impactados

Mais pessoas no trânsito impactam todos os setores da sociedade: comércio, indústria, serviços, meios de comunicação, escolas, igrejas, instituições de saúde etc., prega Sonia Chébel. “No entanto, não é o aumento da quantidade de pessoas e de veículos que tornará o trânsito menos seguro e mais perigoso, mas o modo (respeitoso e responsável ou não) como as pessoas se comportam nesse espaço compartilhado”, observa. (Tom Rocha)

TRÂNSITO X HOMICÍDIO

2024 - 133 mortes no trânsito x 55 homicídios
2023 - 91 mortes no trânsito x 45 homicídios
2022 - 92 mortes no trânsito x 40 homicídios

Fontes: Infosiga e SSP-SP

 

 

 

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