Paixão
Criadores de gatos exóticos compartilham experiências
Para eles, criação é mais que um hobby ou uma profissão, é um estilo de vida

Em casas repletas de arranhadores, prateleiras estrategicamente posicionadas e camas aconchegantes, vivem gatos de pelagens únicas e comportamentos encantadores. Criar raças de gatos exóticos vai muito além de um hobby ou uma profissão: é um estilo de vida. Os criadores dedicam tempo, cuidado e carinho para garantir que seus felinos não apenas tenham saúde e beleza, mas também uma vida confortável e cheia de estímulos. Para esses apaixonados, cada gato é mais que um animal de estimação: é parte da família e um companheiro para todos os momentos.
No domingo (23), um evento, realizado no Shopping Iguatemi Esplanada, em Votorantim, reuniu diversas raças exóticas de gatos, entre elas devon rex, maine coon, somali, siberiano, neva-masquerade, sphynx, lykoi, exótico, persa e kurilian-bobtail. Os criadores receberam o público e compartilharam as suas experiências sobre os felinos.
Um deles é Rômulo Garcia, engenheiro de profissão, criador da Federação Internacional Felina, e pioneiro na criação de gatos da raça devon rex no Brasil, há quatro anos. Tudo começou quando a sua vida tomou um novo rumo após a perda da esposa, vítima de um câncer. Em meio à dor, o filho e ele encontraram conforto nos gatos. A paixão por essa raça foi despertada na Espanha, onde morou por um tempo e de onde trouxe os primeiros devon rex. Hoje, Rômulo mantém um gatil com gatos vindos também da Bulgária, Rússia e Suíça.
“Meu filho pequeno tinha uns três anos quando descobrimos o câncer na minha esposa. Aí eu vi ele pequenininho ali, a mãe dele tratando, e eu falei, ‘eu preciso ter alguma coisa para estar junto com meu filho, fazer alguma coisa em comum’, e aí nós tínhamos a paixão nos gatos. Adquirimos primeiro o Manie Coon, que também tenho, e conheci o devon rex na Espanha, onde morei há muitos anos. Conheci a raça lá fora, e pensei: ‘Vou ter que trazer essa raça para o Brasil’”.
Inspirou até filme
O devon-rex é um gato de porte médio, de pelo encaracolado e brincalhão — o que dá para perceber pelo Lion, um dos gatinhos do Rômulo, que participou da exposição. As suas características já serviram também como referência no cinema. Segundo o criador, o personagem E.T., do filme de Steven Spielberg, foi inspirado no devon-rex. “O Steven Spielberg tinha um devon-rex. Ele [o gato] o inspirou a fazer o ET. O Gremlin também é uma inspiração do devon-rex. A Dama e o Vagabundo — os dois gatos que correm lá é um devon-rex também, na última versão.”
Rômulo conta que, atualmente, há cerca de 30 raças de gatos exóticos com criadores brasileiros, divididos por grupos: alguns possuem pelos curtos, outros longo ou, ainda, semi-longos. Há gatos orientais, pelados, enfim, diversos deles. Mônica Sanchéz é criadora especializada em maine coon azul. Os felinos são importados da Itália, Polônia, Alemanha, Espanha, Holanda e França para garantir a pureza da raça.
Gato gigante
Mônica mora em Cotia e cria maine-coon — a maior raça de gato doméstico do mundo — desde 2011. Atualmente, ela tem 18 gatos. Na exposição, estava Malik, um jovem gigante, com apenas um ano e meio e 12 quilos. Ela conta que para criar um maine-coon é preciso investir em alimentação, com ração superpremium e, claro, disponibilizar conforto e muito carinho. “Eles são muito carinhosos e companheiros. Você passeia com ele, joga bolinha, é um gato/cachorro”, brinca.
Para administrar tantos felinos em casa, é preciso setorizar os cômodos. “Tem a parte onde as fêmeas convivem, os machos em outro lugar, porque você tem de controlar, senão é da natureza do gato, eles vão acasalar. Então, esse é o controle, mas é uma delícia. A casa acaba virando a casa dos gatos”, conta Mônica.
Tem 16 em casa
Quem também é gateira, apaixonada pelos felinos, é a médica-veterinária e criadora de ragdolll, Júlia Torello. A especialista conheceu a raça em um atendimento. Logo, trouxe um casal do Canadá. Atualmente, moram com ela 16 gatinhos — 13 fêmeas e três machos. “Quando segurei ele no colo [ragdoll] de barriga para cima, ele ‘derreteu’. Como o próprio nome diz, ele é um gato que relaxa no colo das pessoas, como uma boneca de pano. Muito bonzinho”, comenta.
Criar gatos não é fácil, pois é preciso disponibilizar tempo, dinheiro e dedicação. Um desafio que para Júlia vale a pena ser enfrentado. “Eu vejo muitos criadores desistindo. Raramente você vai ver um criador com mais de 20 anos criando, porque é bem complicado. Antigamente, havia muito preconceito. As pessoas viam o criador como uma pessoa que explora a vida do animal, mas hoje em dia, com a internet, conseguimos divulgar. No meu Instagram você vê diariamente o meu cuidado com os gatos”, explica.
É preciso cuidado e responsabilidade
Não importa se você tem um ou dezenas de gatos em casa, é preciso ter responsabilidade e cuidado com o animal. Antes de receber o felino na residência, primeiro é necessário “gatificar” o imóvel. Telas de proteção nas janelas são essenciais, principalmente em apartamentos.
Nas residências, é importante evitar que o animal saia para a rua, pois pode contrair doenças. Ele precisa de arranhador para afiar as unhas, afinal, isso faz parte da sua natureza. Brinquedinhos são boas opções e também é preciso ter cuidado com a fiação do imóvel.
A saúde do animal é essencial. Por isso, ele deve receber as vacinas e fazer visitas ao veterinário. “É importante procurar um veterinário especialista em felinos. Isso faz muita diferença e as pessoas negligenciam isso”, comenta a veterinária Júlia Torello.
Diferente do cachorro, o gato também não sente necessidade de passear. “O gato não pode ficar dando voltinha, ele vai viver muito mais se for um gato indoor e também por conta de acidentes, saúde pública. Eles podem transmitir doença e vice-versa”, acrescenta a especialista.
Outras informações sobre criadores estão disponíveis nas redes sociais: @devonrexbrasil.oficial; @alesblau_mainecoon; @astennugatil; @gennetos_gatil_sphynx; @gatilwintersoul; @kurileanbobtailbr; @ragburt.
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