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Editorial

A aguda deterioração do trabalho de Haddad

20 de Março de 2025 às 21:30
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A avaliação do mercado financeiro sobre o trabalho do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, teve aguda deterioração entre o levantamento anterior da pesquisa conduzida pela Genial/Quaest, em dezembro, e o de março, divulgado na quarta-feira (19). O porcentual de avaliações negativas subiu de 24% para 58% no intervalo, com as avaliações positivas retrocedendo de 41% para 10%. A avaliação regular passou de 35% para 32%.

Foram feitas 106 entrevistas com fundos de investimentos em São Paulo e no Rio de Janeiro, por meio de questionários on-line entre os dias 12 e 17 de março. Participaram gestores, economistas, analistas e tomadores de decisão.

Para 85% do mercado, houve enfraquecimento do ministro Haddad, comparado a 61% da pesquisa anterior. O porcentual de que ele continua com o mesmo grau de força passou de 35% em dezembro para 14% em março, enquanto o de fortalecimento declinou de 4% para 1%.

Para 93%, a política econômica do governo Lula está na direção errada, em comparação a 96% em dezembro. E, para 92% dos ouvidos, Lula é o principal responsável pela política econômica, comparado a 5% que a atribuem a Haddad.

Para os próximos 12 meses, 83% do mercado aguarda piora econômica, comparado a 88% no levantamento de dezembro. E, para 58%, há risco de o Brasil entrar em recessão em 2025.

Segundo a mesma pesquisa, a avaliação do governo Lula pelo mercado financeiro foi considerada negativa por 88% dos entrevistados. O resultado do levantamento anterior, em dezembro, mostrava insatisfação ainda maior, correspondente a 90%.

A avaliação positiva do governo Lula passou de 3% para 4%, entre dezembro e março, enquanto a percepção de que a administração é regular foi de 7% para 8% no mesmo intervalo, aponta a Genial/Quaest.

Para 64%, a alta de preços dos alimentos é o principal motivo para a perda de popularidade de Lula, enquanto 56% consideram ser os equívocos na política econômica e 41%, o aumento de impostos.

Como resposta à realidade trazida pela pesquisa, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse ontem (20) que o levantamento da Genial/Quaest que mostrou a aprovação do seu trabalho pelo mercado financeiro derretendo de 41% em dezembro para 10% em março não pode ser considerado uma pesquisa, porque não tem base amostral.

“Dizer que isso é uma pesquisa é dar um nome muito pomposo para uma coisa que deve ter sido feita em 15 minutos ali, num bairro”, disse Haddad, no programa “Bom Dia, Ministro”, da EBC, empresa pública de radiodifusão controlada pelo governo federal. “Uma pesquisa com 100 pessoas, não dá para dar o nome de pesquisa. Isso você faz em uma mesa de bar”, desmereceu o ministro derretido.

O levantamento da Genial ouviu 106 fundos de investimento com sede em São Paulo e no Rio de Janeiro entre 12 e 17 de março, tendo como público-alvo gestores, economistas e analistas. Segundo a pesquisa, 88% desse público avalia o governo Lula negativamente, e apenas 4% têm visão positiva.

Segundo Haddad, uma pesquisa como essa teria mais peso se realizada no Congresso Nacional, por exemplo, já que são pessoas com mandato.

O ministro disse que, na vida pública, há “altos e baixos” e que “consertar o País é difícil”. Ele argumentou que é difícil fazer com que diferentes pessoas convirjam para um mesmo projeto, e que a solução para a economia brasileira é fortalecer as instituições e chegar a um acordo dos poderes da República.

Ora, um pouco de aceitação às críticas vindas do mercado financeiro deveria ser, ao menos, considerada como um alerta e para reorientar o norte a seguir. O menosprezo é a pior das opções.

Afinal, de forma quase unânime, o mercado financeiro considera que a popularidade de Lula é um fator de alerta ao governo. Na pesquisa da Genial/Quaest, 99% dos ouvidos apontaram este fator como preocupante para o governo, ante 86% que deram a mesma resposta no levantamento anterior, em dezembro.

Para 80% dos ouvidos, a taxa de juros é outro fator que preocupa o governo — em dezembro, eram 70% os que assim pensavam. E para 76% do mercado, a alta do dólar é outro ponto de preocupação para o governo Lula, enquanto, em dezembro, eram 58% os que avaliavam este fator da mesma forma.

Ainda bem que a percepção do mercado financeiro não atingiu 100%, se não os governistas iriam evocar Nelson Rodrigues, que afirmou outrora: “Toda a unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar”. Quem rodeia Lula precisa parar de concordar com tudo o que ele faz, pensa ou diz, principalmente na direção da economia do País. Afinal, o dramaturgo já avisou que não é por aí.