Editorial
Dia Nacional do Brega

A música brega pode ser considerada como um dos gêneros mais emblemáticos e controversos da cultura musical brasileira. Com suas letras românticas, melodias marcantes e uma estética que muitas vezes desafia as normas do que é considerado “bom gosto”, o brega conquistou um espaço significativo na cena musical do País. Este texto analisa a origem da música brega, suas influências e sua evolução ao longo das décadas, destacando como esse gênero se tornou uma expressão autêntica da cultura popular brasileira.
A origem da música brega remonta à década de 1960, no contexto da Música Popular Brasileira (MPB) e da influência de diversos gêneros musicais, como a música romântica, o rock, a música sertaneja e o forró. O termo brega inicialmente era utilizado de forma pejorativa para descrever músicas consideradas de mau gosto ou de baixa qualidade. No entanto, essa conotação negativa não impediu que o gênero se desenvolvesse e se tornasse uma forma de expressão popular.
Os primeiros artistas a serem associados ao brega foram influenciados por estilos como a música romântica e a música de raiz. Nomes como Reginaldo Rossi, que se destacou na década de 1970, e outros artistas do nordeste começaram a popularizar letras que falavam de amor, desilusão e cotidiano, utilizando uma linguagem simples e direta que ressoava com o público.
Durante as décadas de 1970 e 1980, o brega começou a se consolidar como um gênero musical próprio, especialmente no nordeste do Brasil. A influência de ritmos regionais, como o forró e o axé, contribuiu para a formação de uma identidade brega que se distanciava das produções mais sofisticadas da MPB. Artistas como Falcão e Amado Batista ganharam notoriedade, trazendo letras que abordavam temas universais de amor e sofrimento, mas com uma abordagem que muitas vezes beirava o exagero e o kitsch.
Casos como o de Odair José, que começou sua carreira sendo tachado de brega e hoje é chic e cult, sendo cultuado nos meios intelectuais, são exceção.
A popularidade do brega também foi impulsionada pela ascensão das rádios locais e das festas populares, onde essas músicas eram frequentemente tocadas. O gênero começou a atrair um público fiel, que se identificava com as letras emotivas e as melodias cativantes.
Nos anos 1990 e 2000, o brega passou por uma transformação significativa, incorporando novos elementos e se diversificando. O surgimento de novas tecnologias, como a internet e as redes sociais, permitiu que artistas independentes divulgassem suas músicas de forma mais ampla. O brega eletrônico, por exemplo, surgiu como uma fusão do brega tradicional com ritmos eletrônicos, atraindo um público mais jovem e urbano, trazendo uma estética mais moderna e acessível. O brega, que antes era visto como um estilo marginalizado, começou a ganhar reconhecimento e respeito, sendo incorporado em festivais e eventos de grande porte.
Nos últimos anos, a música brega tem sido cada vez mais aceita e reconhecida como uma parte importante da cultura musical brasileira. O gênero passou a ser estudado em universidades e a ser objeto de análises críticas que buscam entender sua relevância social e cultural. A estética brega, com suas letras emotivas e melodias marcantes, reflete a vivência de milhões de brasileiros, abordando temas que vão desde o amor até as dificuldades do cotidiano.
A importância do brega para a identidade nacional está justamente em sua capacidade de contar o Brasil real, aquele que sofre, que ama intensamente, que sente ciúme, que dança apesar da dor. Há, ainda, a questão econômica favorecida pelo brega, já que movimenta uma cadeia produtiva fundamental para as periferias urbanas e rurais, principalmente nos estados das regiões norte e nordeste, onde o ritmo resistiu e cresceu mesmo diante de preconceitos.
Diante desse contexto histórico e da importância cultural, a Comissão de Educação e Cultura do Senado aprovou nesta terça-feira (1º), em decisão terminativa, o projeto de lei que cria o Dia Nacional do Brega (PL 5.616/2023). A proposta teve origem na Câmara dos Deputados. Agora, caso não haja recurso para votação no Plenário, o texto seguirá para a sanção do presidente da República.
O projeto estabelece que o Dia Nacional do Brega será comemorado anualmente em 14 de fevereiro — data de nascimento do cantor Reginaldo Rossi, conhecido como o Rei do Brega, que faleceu em 2013.
De tudo isso, fica uma questão para a reflexão: “No Brasil, de tantos problemas, nossos deputados preocupados com o brega!”