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André Tolentino

Do Brasil que temos para o Brasil que podemos ter

04 de Abril de 2025 às 22:27
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. (Crédito: REPRODUÇÃO / REDES SOCIAIS)

O Brasil já demonstrou, em diversos momentos da história, que tem potencial para ser uma grande potência industrial e econômica. Com o mesmo povo, a mesma diversidade cultural, o mesmo solo fértil e o mesmo sol brilhando sobre nós, o País já figurou entre as economias que mais cresceram no mundo. Basta lembrar do período Vargas e da era Juscelino Kubitschek, quando o nacional-desenvolvimentismo foi capaz de impulsionar a indústria nacional e criar uma base sólida para o desenvolvimento. No entanto, hoje, nos vemos presos em um modelo econômico frágil, sustentado quase exclusivamente pelo agronegócio, enquanto a indústria definha e os salários permanecem baixos.

Infelizmente, o Brasil que temos está longe do Brasil que podemos construir.

No livro História da Riqueza no Brasil, Jorge Caldeira demonstra como o País, em diversos momentos, adotou estratégias bem definidas para crescer. O período de Vargas, por exemplo, trouxe a criação de empresas estatais fundamentais para a industrialização, como a Companhia Siderúrgica Nacional e a Petrobras. Juscelino Kubitschek, por sua vez, implementou o Plano de Metas, que transformou a economia brasileira e atraiu investimentos para setores estratégicos.

Tudo isso foi resultado de planejamento, visão de longo prazo e compromisso com o desenvolvimento nacional. Não havia espaço para disputas políticas vazias ou moralismos superficiais; havia um objetivo claro: construir um Brasil industrial e moderno.

Hoje, no entanto, o País parece ter perdido esse rumo. Em vez de políticas estratégicas, temos governos que se preocupam mais com embates ideológicos do que com o futuro do Brasil. Enquanto países como China e Coreia do Sul traçaram planos para se tornarem potências industriais e tecnológicas, o Brasil ficou refém de um modelo primário-exportador, dependendo excessivamente da venda de commodities agrícolas e minerais. É inegável que o agronegócio tem um papel essencial na economia, mas ele não pode ser a única base de sustentação do País. Um país forte precisa de uma indústria robusta, que gere empregos de qualidade e ofereça salários dignos à população.

O nacional-desenvolvimentismo precisa renascer, mas não como um simples discurso político, e sim como um plano de ação concreto. O Brasil não pode continuar exportando riquezas brutas enquanto importa produtos industrializados a preços elevados. Precisamos transformar nossa produção interna, agregar valor aos nossos recursos naturais e investir em ciência, tecnologia e inovação. Somente assim garantiremos crescimento sustentável e distribuição de renda. Isso significa resgatar o espírito empreendedor e visionário dos anos de Vargas e Juscelino, adaptando-o aos desafios do século XXI.

Jorge Caldeira, ao analisar os ciclos econômicos do País, demonstra que os períodos de maior crescimento ocorreram quando houve estratégias bem definidas, e não quando nos rendemos a modelos frágeis baseados apenas em exportação de commodities. O Brasil não pode continuar sendo apenas um celeiro do mundo; temos capacidade para ser um grande produtor industrial e tecnológico. Para isso, precisamos de políticas públicas eficazes, investimentos em infraestrutura e um compromisso real com o desenvolvimento.

O Brasil será aquilo que fizermos dele. Se aceitarmos o conformismo e as disputas políticas vazias, continuaremos estagnados, à mercê dos interesses externos e sem perspectiva de crescimento real. Mas se tivermos coragem de resgatar a visão desenvolvimentista e trabalharmos por um projeto nacional sólido, poderemos transformar nossa realidade e construir um País mais próspero e justo. O futuro do Brasil está em nossas mãos.

André Tolentino é advogado.