Artigo
No bolso

Acho que foi na semana passada que ouvi uma coisa interessante: atualmente os celulares são agências bancárias em miniatura. Não tinha me dado conta disso. Aí, já viu, a cabeça não para e eu fui pensando numas coisas que eu acho que cabem nesta crônica.
Basicamente o que eu pensei foi o seguinte: se tem uma coisa que ilustra bem o ritmo vertiginoso dos avanços tecnológicos nos últimos anos é o telefone celular. Talvez a memória falhe aqui e eu erre nas datas. Só sei que, quando olho pra trás, o celular do final dos anos 90 era de uma simplicidade comovente. Tirava umas fotos simplinhas, fazia chamadas, mandava mensagens, tinha uns joguinhos. E estava muito bom.
Calhou de ontem mesmo, conversando com um aluno, a gente pensar em como era o mundo sem o celular turbinado dos dias de hoje. Ele não era nascido no final dos anos 90 e então eu tive de bancar o ancião sábio, o cara que mostra pra juventude como eram os tempos de outrora.
Quer dizer, sábio naquelas, porque esses dias mesmo eu esqueci o celular em casa e só me dei conta no carro, quando não dava tempo de voltar, e eu fiquei aflito. Portanto, que fique claro: o celular faz, sim, e com força, parte da minha vida. Seria desonesto bancar o desprendido aqui.
Feita a ressalva, tive de dizer pro meu aluno que, sim, queríamos ter um celular legal. Que, sim, os lançamentos eram aguardados com ansiedade. Tudo verdade, mas a coisa ficava num nível mais elementar mesmo, priorizando o objeto. Sei lá, o celular era meio que uma joia. Ninguém falava em vício no celular. Quem, com a cabeça em ordem, ficaria mais que alguns minutos jogando uns joguinhos que faziam a gente enjoar rápido? Sem contar que não rolava mensagem de áudio. Escrever uma mensagem era um parto.
Não tinha rede social, não tinha muito aplicativo, não tinha YouTube, não tinha influencer, não tinha... melhor parar aqui, do contrário, eu vou chorar pelo passado que não volta mais, e não quero ser o tiozão saudosista aqui. Voltemos ao final dos anos 90, sem chororô.
Quando eu saía à noite, pegava o celular do meu pai emprestado. Ele (o celular) ficava o tempo inteiro no bolso. Acho que, naquele tempo, ainda bem, não precisei usar o telefone uma vez sequer. Aquilo era mais pra garantir praticidade caso algo desse errado. Se a gente parar pra pensar, o celular, naqueles moldes, foi uma baita criação.
O problema sempre é o drible a mais. Sei que é ingênuo pra caramba dizer, mas não daria pra coisa parar ali? Quando muito, que as pesquisas resultassem em aparelhos mais leves, mais bonitos, que fizessem chamadas que não fossem interrompidas. Vá lá, com câmeras legais. Naquela época as pessoas tiravam fotos e armazenavam nos computadores. Até que era bom. Não era tão bacana assim perceber, bem no meio da festinha, que o filme da máquina tinha acabado.
Mas não, o diabo veio até nós e disse: junte celular, câmera e redes sociais. A gente ficou contente, achando o máximo, e ele, o diabo, foi embora rindo.