João Alvarenga
Mercado do golpe

Você já caiu em algum golpe? Quem foi vítima de alguma trapaça financeira sabe a sensação horrível que isso provoca. O medo, a insegurança e angústia de ter seus dados pessoais utilizados indevidamente por estranhos. Isso mexe com os nervos de qualquer um. Quem já teve o cartão de crédito clonado, ou a conta do Instagram invadida, sabe o perrengue que enfrenta, para se livrar do imbróglio. Meu amigo, é uma dor de cabeça danada. Até você provar que “focinho de porco não é tomada”, muita água rola por debaixo da ponte. Isso sem falar da perda de tempo em procurar pelos órgãos oficiais, a fim de provar que você é a vítima da história. Afinal, nem sempre o cidadão comum encontra boa vontade nas repartições públicas ou tem seus pedidos atendidos pelos representantes das plataformas digitais.
Por isso, nem dá nem para imaginar o desespero da pessoa que perde tudo o que acumulou — após anos de árduo trabalho — para espertalhões de plantão. Fica a triste impressão de que esses bandidos quase nunca são presos. A audiência de custódia, que parecia uma forma de se evitar injustiças, passou a ser vista, por alguns especialistas, como um benefício para o mundo do crime. Além disso, dificilmente o lesado recupera o que foi desviado. A criminalidade cresceu tanto, que 90% das notícias policiais focam a ação de golpistas. Como os bandidos são muito criativos, a cada semana, surge, na praça, uma nova modalidade de golpe. Os mais lesados são os idosos.
Na internet, há extensa lista deles. Veja os mais comuns: “golpe da maquininha”, “golpe do motoboy”, “golpe da central telefônica” “golpe da pirâmide financeira”, “golpe do Pix”. Temos, ainda, “golpe do falso boleto”, “golpe do falso anúncio de venda”, “golpe do amor”, “golpe do falso sequestro”, além de invasões de sites oficiais e sequestro de dados.
Agora, está em curso uma nova artimanha, o “golpe do Mercado Livre”. Como isso funciona? Preste atenção: um casal de motoqueiros vai até sua casa e diz que você foi contemplado pelo Mercado Livre para receber uma bonificação. Mas, para isso, precisam tirar uma foto sua, além de sua assinatura, para comprovar que recebeu o tal “prêmio”. Segundo a Polícia, após a foto, a assinatura e, com o seu CPF, os criminosos abrem uma conta num banco virtual para fazer um empréstimo no seu nome. Advinha quem paga a conta?
São tantos golpistas agindo ao mesmo tempo, que temos a sensação de que há um “mercado do golpe” operando livremente em nosso País. Aliás, o editorial do Cruzeiro do Sul, do último domingo, não deixa dúvida quanto a isso. Tanto que há uma discussão, entre juristas, para mudar o Código Penal, com o propósito de endurecer a legislação contra os crimes virtuais.
Assim, não é exagero afirmar que os golpistas se tornaram o “bicho-papão” da sociedade, nestes tempos de Inteligência Artificial, em que tal ferramenta se tornou uma aliada dos criminosos. Parece que aplicar golpe virou “moda”, pois muita gente quer ganhar dinheiro de forma fácil. Há quem justifique: o desemprego gera a bandidagem. Será? Com a palavra os especialistas. Uma coisa é fato, precisamos despertar na juventude o amor aos estudos e o sonho de uma profissão íntegra.
Pois, lamentavelmente, a prática criminosa se tornou uma opção para quem é adepto da “lei do mínimo esforço”. O que mais aborrece é saber que, além de lesar inocentes, os caras ainda postam o feito, nas redes sociais, como se trapacear fosse a coisa mais natural do mundo. Esse tipo de comportamento serve de mau exemplo às crianças. O que elas vão pensar disso tudo? Será que vão querer fazer igual?
Para finalizar, um lembrete: no sentido literal, a palavra “golpe”, entre outras acepções, significa “impacto violento”. Ou seja, um sentido bem adverso do emprego atual. Talvez, sejam os novos tempos. Afinal, outrora, o assaltante abordava a vítima armado; hoje, basta um click na tela do celular, para lesar a sociedade. Bom domingo!
João Alvarenga é professor de redação.