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Marcelo Augusto Paiva Pereira

Uma embaraçosa megacidade

01 de Abril de 2025 às 21:30
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. (Crédito: ILUSTRAÇÃO DE MARCELO AUGUSTO PAIVA PEREIRA)

Ao redor do mundo tem surgido cidades com o “status” de megacidades, as quais têm sido objeto de incertezas e preocupações pelos administradores públicos, habitantes e por vários profissionais devido ao caótico trânsito urbano, dentre tantas outras causas e embaraços. A malha urbana de São Paulo é uma delas, em relação à qual seguem abaixo alguns comentários.

A nossa capital estadual tem sido deformada desde a comemoração do terceiro centenário (1854) e seu crescimento não a exime das dificuldades atuais nem futuras. O confuso trânsito urbano teve início em 1900 quando da instalação das linhas de bondes elétricos, da criação de bairros planejados (jardim América e outros) e dos sucessivos agravamentos na locomoção junto à especulação imobiliária. O Plano de Avenidas (1930) de Francisco Prestes Maia, quando secretário municipal de Obras e Viação, também colaborou para dificultar o trânsito ao entender indispensáveis os veículos ao transporte urbano.

Em 1947 foi criada a Companhia Metropolitana de Transporte Coletivo (CMTC), que operou na capital a partir de 1949 e, ao fim da década de 50 do século XX, surgiram empresas privadas de transporte público para suprir a demanda, que caminhava ao amálgama dos dias atuais. O surgimento da indústria nacional de veículos (1956) foi ao encontro das classes mais favorecidas, mas não às populares (a estas estava destinado o transporte público).

Os efeitos desses projetos se protraem até o presente, acentuados pelo descompasso da urbanização ao longo da expansão urbana e sob influência do poder econômico (a renovação das tipologias imobiliárias, por exemplo). Este conjunto de interesses interfere no tecido urbano, cria divergências na votação dos e nos planos diretores, modifica acidentes geográficos e avança em áreas impróprias à edificação de comércios, habitações, indústrias e outras tipologias.

Esse é o sombrio espectro da capital paulista, que enfrenta variados gravames, muitos sem solução apropriada à finalidade pretendida e movimentam diversos profissionais a propor vários planos de urbanização ou a desenhar muitos projetos de intervenção em benefício da fluidez urbana, dos quais alguns de orçamentos inviáveis aos cofres públicos.

Conclusivamente, assim como em outras megacidades, são antigos os desafios enfrentados na cidade de São Paulo, ensejam diversos estudos técnicos pelos órgãos públicos, universidades e vários profissionais, os quais também deverão apresentar soluções que eliminem os nebulosos embaraços ao trânsito urbano. Mas, as incertezas e preocupações continuam a assombrar a dúvida que ainda persiste: o trânsito urbano da megacidade paulista tem, de fato, alguma solução?

Marcelo Augusto Paiva Pereira é arquiteto e urbanista.