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João Alvarenga

Lembranças da seleção canarinho

05 de Abril de 2025 às 21:46
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. (Crédito: REPRODUÇÃO)

Neste artigo, vou cometer um desatino, falar sobre algo que não domino: futebol. Mas, quando o assunto é seleção brasileira, todo mundo tem um palpite pronto. Então, resolvi me aventurar por esse terreno arenoso. Espero que os comentarias esportivos perdoem os deslizes. Na verdade, a ideia, aqui, é falar mais do passado do que do presente, porque tenho pouca familiaridade com a escalação de agora. Aliás, por falta de tempo, nem sequer acompanho os campeonatos regionais. Na verdade, fico atento apenas à luta do São Bento contra rebaixamento da série A2.

O fato é que, enquanto assistia à fatídica derrota do Brasil por 4x1 para a Argentina, pelas eliminatórias da Copa, lembrei-me de 1970, um ano glorioso para a nossa seleção, pois não só conquistamos o tricampeonato no México, como ganhamos respeito mundial no quesito “futebol arte”. Compartilho esses fatos memoráveis, para que as novas gerações conheçam, um pouco, como era a vida de antigamente.

Naquela época, morava com meus pais e irmãos, em Itapetininga, vivíamos em uma casa simples; porém, confortável. A vizinhança era tranquila e, a cada meia hora, passava um carro pela rua. Por ser cidade do interior, estávamos longe dos burburinhos que envolviam questões políticas daquele tempo. Estava com quase 10 anos, mas me lembro como se fosse hoje, porque aquele ano foi muito especial para minha família. Meu pai fez de tudo para comprar uma TV para que pudéssemos assistir aos jogos da Copa.

Era um aparelho da antiga marca Telefunken, que nem tem mais no mercado. Porém, naqueles tempos analógicos, tal aquisição era um sinal de que a família melhorou o poder aquisitivo. Na verdade, tal compra só foi passível porque meu pai economizou mais do que pôde, pois não havia crediário. Detalhe: a Copa de 70 foi a primeira transmissão colorida da história das Copas. Por isso, foi uma alegria imensa, quando a novidade chegou a nossa casa, trazida, pasme leitor, por uma charrete. Aliás, esse era único veículo que a loja dispunha para fazer as entregas. Outro dado curioso: nós, crianças, não podíamos por a mão naquele tubão esquisito, porque “dava choque”.

Sempre que me lembro disso, um saudoso filme vem a minha mente, com imagens amareladas, do valente “esquadrão de ouro” dos anos 70, acompanhadas de uma música que não sai dos meus ouvidos. Posso parecer saudosista, mas dava gosto ver o quanto jogavam por amor à camisa. Naquele tempo, não existiam as mordomias de que os jogadores dispõem, atualmente, nem essa história de transferências de equipes com cifras estratosféricas. Todos, indistintamente, entregavam-se ao jogo e davam o melhor de si. Os passes, os dribles, as finalizações. Cada gol mais bonito que o outro. Gol de bicicleta, agora, é coisa rara de se ver. Enfim, tudo encantava. Tanto que até mesmo a torcida mexicana, entusiasmada, gritava: “olé”.

Também, pudera, estavam em campo: Félix; Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gérson e Rivellino; Jairzinho, Pelé e Tostão. Todos sob o comando do incansável Zagallo. Embora o time contasse com a genialidade de Pelé, o elenco não ficava na sua “cola”. Cada um fazia a sua parte para atingir um só resultado: a vitória. Assim, motivada pela música “Pra frente Brasil” (de Braguinha), a seleção trouxe o “caneco” dos gramados mexicanos. Foi um feito e tanto que encheu de orgulho a Nação brasileira. Foram tempos de glória que a nova geração, infelizmente, pouco sabe.

Por isso, amigo, não dá para comparar a seleção canarinho de 70 com a equipe escalada por Dorival Júnior, cuja atuação, segundo o comentarista esportivo, Neto, da Band, foi vergonhosa. Quem viu o jogo, teve a impressão de que a seleção estava caindo ladeira abaixo. Não acertava um passe. Diante do fiasco, vem uma pergunta que não quer calar: o que falta à nossa seleção? Como não sou especialista, não tenho essa resposta, que vale um milhão de dólares. Quem tiver, passe à CBF. Bom domingo!

João Alvarenga é professor de redação