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Editorial

Juros a 43,7% ao ano

09 de Abril de 2025 às 21:30
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O Brasil vive um paradoxo econômico: enquanto o País busca o crescimento e a estabilidade, os altos juros cobrados no sistema financeiro se tornam um entrave quase intransponível. A taxa Selic, que serve como referência para os juros no País, frequentemente se mantém em patamares elevados, refletindo uma política monetária que, embora tenha como objetivo controlar a inflação, acaba por sufocar tanto as pessoas físicas quanto as jurídicas.

Para as famílias brasileiras, os altos juros significam um cotidiano marcado por dívidas crescentes e um orçamento familiar cada vez mais apertado. O crédito, que deveria ser uma ferramenta de alavancagem e realização de sonhos, transforma-se em um fardo. Além disso, muitos se veem obrigados a recorrer a empréstimos para quitar dívidas anteriores, criando um ciclo vicioso que leva à inadimplência e à insegurança financeira.

Para as empresas, especialmente as pequenas e médias, a situação também não é nada confortável. O acesso ao crédito se torna um desafio monumental, com juros que inviabilizam investimentos e inovações. Em um País onde a maioria das empresas opera com margens de lucro já estreitas, a alta carga de juros pode ser a diferença entre a sobrevivência e a falência. Isso não apenas prejudica o crescimento econômico, mas também resulta em desestímulo ao empreendedorismo, elementos essenciais para a recuperação econômica.

Além disso, a alta taxa de juros perpetua a desigualdade social. As classes mais baixas, que já enfrentam dificuldades para acessar serviços básicos, são as mais afetadas. Enquanto os grandes conglomerados podem negociar melhores condições de crédito, as pequenas empresas e as famílias vulneráveis ficam à mercê de um sistema que parece ignorar suas necessidades. Essa disparidade mina a confiança na política econômica.

É preciso questionar: até quando o Brasil continuará a aceitar essa realidade? A política monetária deve ser revista com urgência. O foco não pode ser apenas o controle da inflação, mas também a promoção do crescimento econômico e a inclusão social.

É preciso criar um ambiente onde o crédito seja acessível e justo, permitindo que as famílias possam sonhar e as empresas possam prosperar. O Brasil não pode se dar ao luxo de continuar a sufocar seu potencial com juros exorbitantes. A hora de agir é agora, antes que o custo da inação se torne insustentável.

Os motivos para essa preocupação total são palpáveis e vistos a olho nu por qualquer brasileiro, que sente na pele os efeitos da política econômica imposta. Uma das consequências dos juros altos é a dificuldade das pessoas — e até mesmo de algumas empresas — de honrar os empréstimos. Assim, o inevitável acontece: o endividamento.

A taxa média de juros para as famílias e as empresas chegou, em fevereiro, a 43,7% ao ano nas concessões de empréstimos no crédito livre, quando os bancos têm autonomia para emprestar o dinheiro captado no mercado e definir as taxas de juros cobradas dos clientes. O resultado representa um aumento de 1,5 ponto percentual (pp) em um mês e de 3,4 pp em 12 meses, segundo as Estatísticas Monetárias e de Crédito, divulgadas ontem (9) pelo Banco Central.

A elevação dos juros bancários acompanha um momento de alta da taxa básica de juros da economia, a Selic, definida em 14,25% ao ano pelo Comitê de Política Monetária. A Selic é o principal instrumento usado pelo Banco Central para controlar a inflação. A justificativa para o aumento da taxa é a necessidade de esfriar a demanda e conter a inflação, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança, fazendo com que as pessoas consumam menos e os preços caiam.

As estatísticas mostram que a taxa de captação de recursos livres dos bancos (o quanto é pago pelo crédito) subiu 0,6 pp no mês e 0,7 pp em 12 meses, chegando a 32,3% em fevereiro. Até o fim do ano, a previsão dos analistas é de que a Selic suba para 15% e como consequência o crédito fique ainda mais caro.

Já no crédito direcionado, que tem regras definidas pelo governo e é destinado basicamente aos setores habitacional, rural, de infraestrutura e ao microcrédito, a taxa para pessoas físicas ficou em 10,5% ao ano em fevereiro. Para empresas, fechou em 13,5% ao ano. Mesmo assim, o estoque de todos os empréstimos concedidos pelos bancos do Sistema Financeiro Nacional ficou em R$ 6,486 trilhões em fevereiro.