Celso Ming
Reviravolta no tarifaço

Novo cavalo de pau no tarifaço do presidente Trump. Na quarta-feira (9), ele aumentou a taxa sobre as importações da China de 104% para 125%, reduziu todas as demais para 10% e decretou uma pausa de 90 dias para a entrada em vigor das tarifas recíprocas já anunciadas.
A justificativa alegada foi a de que o castigo à China deveu-se às represálias contra as importações dos Estados Unidos determinadas pelo governo de Pequim. O nivelamento das demais tarifas recíprocas em 10% e a tal pausa de três meses para o início do tarifaço foi para os países que não revidaram ao tarifaço original.
Há importantes razões para acreditar em que Trump foi pressionado pelos fatos a esse importante recuo.
Houve um grande racha dentro da Casa Branca, revelado pela manifestação do empresário Elon Musk — figura influente no governo —, que chamou de “imbecil” o principal assessor de comércio dos EUA, Peter Navarro, o grande mentor do tarifaço. Musk não falou apenas por si: com ele estão inúmeros empresários e montadoras de veículos americanas, que passaram a enfrentar forte aumento nos custos de produção.
Mas houve outras fontes de pressão. Trump parece ter entendido que poderia começar um despejo de títulos do Tesouro dos EUA no mercado. Caso isso ocorresse, a rolagem da dívida do país correria perigo.
Diante da impressionante queda nas ações de alguns bancos americanos, o mercado financeiro já temia o impacto do tarifaço. A maioria dos bancos opera, na concessão de créditos, com garantias de ativos cujos preços de mercado mergulharam. Como aconteceu com o Lehman Brothers em 2008, bastaria que um banco médio quebrasse para que a crise mudasse de patamar.
E tem o impacto da baixa do petróleo. As cotações do tipo Brent para entrega em maio chegaram a ser negociadas na quarta-feira a US$ 58,40 por barril ou 7% abaixo dos preços de fechamento do dia anterior. Até que ponto aguentariam os produtores que operam a custos mais altos? Grande número de petroleiras passaria a enfrentar prejuízos, especialmente os produtores de óleo de xisto dos Estados Unidos.
As incertezas continuam. Afinal, as tarifas são para valer? Nenhuma empresa está em condições de decidir se deve investir, desinvestir, ou onde e quando fazê-lo.
Se tudo é negociável, qual seria, então, o limite, conhecendo-se melhor agora as vulnerabilidades da economia dos Estados Unidos?
Antes de uma decisão, o governo Lula vem esperando para ver o que acontece, no que age com pragmatismo.
Celso Ming é comentarista de economia