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Sorocaba

Corte de árvores nos corredores do BRT e forma de compensação são polêmicas

Engenheiro sorocabano cita exemplo de Munique, na Alemanha, como maneira eficiente de reposição ambiental

05 de Dezembro de 2021 às 00:01
Ana Claudia Martins [email protected]
Mais de 130 árvores já foram cortadas para viabilizar as obras do BRT Sorocaba nas avenidas Itavuvu, Ipanema e Armando Pannunzio.
Mais de 130 árvores já foram cortadas para viabilizar as obras do BRT Sorocaba nas avenidas Itavuvu, Ipanema e Armando Pannunzio. (Crédito: FÁBIO ROGÉRIO (22/10/2021))

Um dos assuntos polêmicos da cidade, as obras dos corredores do BRT Sorocaba já causaram o corte de mais de 130 árvores das avenidas Itavuvu, Ipanema e Armando Pannunzio. Somente para a implantação dos dois primeiros corredores do BRT (Itavuvu e Ipanema), que já estão em funcionamento, foram cortadas 134 árvores adultas.

Já para as obras do corredor Oeste, que estão em andamento, a autorização da Prefeitura prevê o corte de até 261 árvores no trecho que inclui as avenidas General Carneiro e Armando Pannunzio. A questão é que a atual legislação municipal (Lei nº 10.060, de 3/5/2012) que dispõe sobre a política de meio ambiente de Sorocaba é genérica no que diz respeito à compensação ambiental. Embora seja regulamentada pelo decreto 20.366, de 28/12/2012, tanto a lei quanto o decreto focam mais na questão da proporcionalidade de compensação no caso do corte de árvores isoladas do que na melhor maneira de efetivamente compensar o meio ambiente.

Na avenida Armando Pannunzio, os cortes de árvores chamaram a atenção de moradores. Eles fizeram fotos e vídeos que viralizaram nas redes sociais. Somente em outubro, pelo menos 14 árvores adultas foram cortadas no canteiro central por conta das obras.

Questionada, a Prefeitura informa que o corte de árvores na avenida Armando Pannunzio foi autorizada pela gestão anterior, em 2019, para a implantação dos corredores do BRT. “Essa autorização ambiental (nº 055/2019) prevê a supressão de um limite de até 261 (podendo ser menor) árvores no trecho do corredor Oeste, com a compensação ambiental, via plantio de mudas, de 2.397 árvores em áreas públicas”, diz a Prefeitura.

Estrutura do BRT na avenida Itavuvu já está em operação. - VINÍCIUS FONSECA / ARQUIVO JCS (27/8/2020)
Estrutura do BRT na avenida Itavuvu já está em operação. (crédito: VINÍCIUS FONSECA / ARQUIVO JCS (27/8/2020))

Ao citar que a obra foi aprovada na gestão anterior a atual administração indica que está isenta de responsabilidade, esquecendo-se, porém, que poderia tentar atuar nesse tema. Já concessionária BRT Sorocaba informa que só haverá intervenção (cortes) nos casos de real necessidade para a implantação do sistema e que a intenção é sempre manter intacto o maior número possível de árvores.

A Prefeitura diz ainda que, com relação à implantação de estruturas do BRT nas avenidas Ipanema e Itavuvu, do total de 205 supressões autorizadas, 134 unidades foram retiradas, sendo 56 na Ipanema e 78 na Itavuvu, e 71 árvores foram preservadas.

Ainda conforme a Prefeitura, como compensação ambiental, a concessionária BRT realizou, nos últimos meses, o plantio de 613 mudas de árvores e, em breve, será feito o plantio de mais 1.500 exemplares, prosseguindo os plantios até que toda a compensação ambiental determinada seja concluída.

Porém, apesar de questionadas, nem a Prefeitura nem a empresa informaram quando esse plantio de 613 mudas ocorreu, os locais onde foram plantadas, nem de quais espécies e muito menos o estágio das mudas. “Conforme a Política Municipal do Meio Ambiente (Lei 10.060/2012), a compensação ambiental é considerada um instrumento que visa à reparação e/ou à diminuição do dano ambiental”, diz a Prefeitura. Um dos pontos a serem discutidos é a questão da compensação ser feita somente com o plantio de mudas, e não de árvores adultas, já crescidas. Há uma enorme diferença entre as duas situações.

Precisa ser melhorada

Nas obras, em andamento, do corredor Oeste estão autorizadas o corte de até 261 árvores. - FÁBIO ROGÉRIO (22/10/2021)
Nas obras, em andamento, do corredor Oeste estão autorizadas o corte de até 261 árvores. (crédito: FÁBIO ROGÉRIO (22/10/2021))

A lei municipal de Sorocaba sobre compensação ambiental estabelece as seguintes medidas: a compensação pela supressão de árvores isoladas será firmada por meio da assinatura de Termo de Compensação de Recuperação Ambiental (TCRA), sendo exigido o plantio de mudas nativas, conforme as condições e critérios de proporcionalidade de compensação estabelecidos no Art. 8º da Resolução SMA 18/2007, orientados e monitorados pela Secretaria de Meio Ambiente (Sema).

Já o artigo 8º da Resolução SMA 18/2007, citado acima, prevê que a reposição será calculada de acordo com o número de exemplares arbóreos cujo corte for autorizado, na seguinte proporção: plantio de 25 mudas para cada exemplar autorizado, quando o total de árvores com corte autorizado na propriedade for inferior ou igual a 500; plantio de 30 mudas para cada exemplar autorizado, quando o total de árvores com corte autorizado for superior a 500 e inferior ou igual a 1.000; plantio de 40 mudas para cada exemplar autorizado, quando o total de árvores com corte autorizado for superior a 1.000.

A questão é que a lei municipal cita somente o plantio de mudas, não árvores adultas. A lei também define a quantidade, além do local, entre outros detalhes, e para alguns casos há uma lista definida pela Sema de quais mudas de árvores devem ser plantadas como forma de compensação ambiental.

Exemplo de Munique

Engenheiro sorocabano Paulo Ivan de Mello mora em Munique. - ARQUIVO PESSOAL
Engenheiro sorocabano Paulo Ivan de Mello mora em Munique. (crédito: ARQUIVO PESSOAL)

O engenheiro sorocabano Paulo Ivan de Mello mora em Munique, na Alemanha, e contou para a reportagem do Cruzeiro do Sul uma maneira mais eficiente de compensação ambiental que é feita na cidade europeia e que poderia ser adotado por cidades brasileiras, como Sorocaba.

Paulo explicou que, no caso de corte de árvores adultas, por exemplo, o Departamento de Planejamento Urbano e Regulamentos de Construção de Munique faz a compensação com árvores já crescidas, não com pequenas mudas, como está sendo feito em Sorocaba.

Ele afirma que em Munique as árvores plantadas já têm tamanho suficiente para que rapidamente a região tenha as mesmas características e benefícios que tinha antes do corte. Dessa forma, não é necessário esperar décadas para que uma muda, por exemplo, se torne uma árvore adulta.

“Entendo que não devemos impedir o desenvolvimento da cidade, mas sim pensar na melhor forma de fazê-lo pensando de uma forma ampla. Foi feita a autorização, tornando o processo legal, mas também entendo que é dever da sociedade civil questionar e avaliar se é a melhor solução. Nem sempre o que é legal é moral ou correto”, afirma Paulo Ivan.

O engenheiro disse ainda que chegou a questionar a Secretaria do Meio Ambiente de Sorocaba para saber mais detalhes sobre a compensação ambiental no caso do corte de árvores para as obras do BRT Sorocaba, mas não obteve resposta.

“Seria importante apresentar onde e como serão plantadas as 2.397 mudas. Qual será o tamanho delas? Teremos árvores com tamanho suficiente para realmente compensar as árvores? Como será o monitoramento sobre o crescimento? Onde serão plantadas? Quando?”, questiona.

Para Paulo Ivan, a compensação pela supressão de árvores por conta das obras do BRT Sorocaba poderia ser feita de uma forma mais eficiente. “Fica aqui a minha pergunta: a compensação do BRT realmente não poderia ser feita na própria avenida, nas suas calçadas, com árvores repostas com porte razoável (mínimo 3 metros) de forma a promover uma transformação sustentável? Acho que vale abrir essa discussão na cidade”, disse. (Ana Cláudia Martins)

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