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Exemplo

Diana Tannos, 93 anos de vida, sendo 57 dedicados à medicina

Médica aposentada, aluna da 1ª turma da PUC, recebeu honraria do Cremesp

23 de Abril de 2022 às 23:01
Marcel Scinocca [email protected]
Natural de Boituva, Diana Tannos trabalhou até os 84 anos e pretender ser voluntária do Museu da PUC.
Natural de Boituva, Diana Tannos trabalhou até os 84 anos e pretender ser voluntária do Museu da PUC. (Crédito: MARCEL SCINOCCA (22/4/2022))

A médica aposentada Diana Tannos recebeu a Honraria Maria Augusta Generoso Estrela -- que foi a primeira médica a atuar no Brasil, formada em 1881. A homenagem, criada pelo Conselho Regional Medicina Estado São Paulo (Cremesp), teve 14 médicas indicadas, por suas atuações no exercício da medicina, na ciência e no cuidado de pacientes. Elas foram homenageadas em evento híbrido presencial-online, realizado em 11 de abril, na sede do Conselho, que contou com a interação por meio de telões de algumas indicadas, que estavam na Itália, Benim, Brasília e Sorocaba.

Natural de Boituva, Diana Tannos ingressou na primeira turma de médicos da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade (PUC) de Sorocaba, onde também trabalhou por 57 anos. Trabalhou até os 84 anos e pretende atuar como voluntária no Museu da PUC.

Durante a cerimônia, estava em uma extensão do evento na Delegacia Regional do Cremesp, em Sorocaba. “Não fiz tudo que devia; fiz tudo que pude”, com essa citação do cientista francês Louis Pasteur, Diana Tannos iniciou seu agradecimento pelo prêmio. “Quanto mais grato nos sentimos, mais felizes somos. Isso porque a gratidão nos ajuda a perceber que estamos todos conectados”, destacou.

Diana sempre gostou da área de medicina e, desde os 15 anos, sabia o que queria. Boa com datas, conta que começou o curso em 16 de fevereiro de 1951. Terminou em 22 de dezembro de 1956. Ao se formar, recebeu um conselho do pai, que dizia que na profissão é preciso fazer o nome e não fazer dinheiro. E foi isso que ela fez. “É na família que a gente recebe os valores principais da vida”, disse.

“Era muito tranquila, mas muito firme. Nunca dei moleza sempre tratei os alunos com muito respeito, do jeito que aprendi em casa. Nunca tive medo de dizer a verdade”, comentou ao lembrar que sempre respeitou a individualidade de cada um.

A escolha de Diana Tannos, que recebeu foi feita por meio de votação on-line, disponibilizada pelo Cremesp e restrita aos médicos do Brasil, sendo permitido apenas um voto por CRM.

A presidente do Cremesp, Irene Abramovich, que também é professora de medicina, destacou que atualmente as mulheres são maioria nas faculdades. De acordo com ela, em uma de suas turmas de alunos, praticamente 80% são mulheres. “Para esta homenagem tivemos que selecionar 14 médicas, mas, na verdade, mais de 50 mereciam estar aqui”, ressaltou Abramovich. “Todos sabem o que cada uma das homenageadas representa no movimento médico. Todas elas têm um papel fundamental, não apenas como mulheres, mas como médicas, que estão na linha frente. Nenhuma delas foi protegida por ser mulher; e, às vezes, foram até discriminadas”, afirmou.

Muito a ensinar

A prataria impecável à mesa, o café servido com todo o requinte e tradição árabe, as esfirras, incluindo uma com coalhada, acompanham a série de cuidado e carinho que não se vê, se sente. E a paisagem na cozinha do apartamento, no Centro de Sorocaba, inclui uma simpática, sorridente e acolhedora senhora. Ao receber a reportagem do Cruzeiro do Sul, Diana Tannos mostrou todo o vigor de quem respeita o passado, mas sabe viver o presente. Fez a massa da esfirra e também preparou a zátar, uma mistura de temperos do Oriente Médio, que deixa o salgado típico muito mais gostoso. A massa do macarrão e o molho, a coalha, enfim, quase tudo que há na casa passa pelas mãos dela.

Apesar de dedicar a maior parte da vida para ensinar, ela continua aprendendo. Espirituosa e de encantamento fácil, leva à diante um sem-número de ensinamentos, provérbios e reflexões. Ela mantém uma rotina que começa, geralmente, às 7h. Quando não está cozinhando, se dedica à leitura. E daí que subtrai e leva adiante o conhecimento adquirido. Um dos caminhos, até como forma de manter proximidade com os amigos, é o uso de um aplicativo de mensagem. Nas mãos, um livro que retrata a Páscoa como um mistério de alegria.

Não dito por ela, mas parece que ao exaltar “Homem algum é uma ilha”, de Thomas Merton, tenta justificar a necessidade do ensinamento que ocupou parte de sua vida. Ao dizer que “o hóspede é mandado de Deus”, parece destacar sua hospitalidade. Quando repete que o médico nem sempre cura, mas sempre alivia e que, às vezes, só a presença dele já alivia a pessoa, destaca, sem sombras, a filosofia que carrega desde quando aprendia a medicina. “É um conselho de vida”. Quando lembra do jornalista e escritor Otto Lara Resende, dizendo que “a biblioteca é a alma da casa e a mesa é coração da família”, parece se render aos conhecimentos e aos valores familiares.

Quando o assunto é saúde, ela não vacila. Aliás, como sempre, em especial, nos 57 anos de medicina. A água vem do filtro de barro. A manteiga consumida é feita em casa, com leite comprado em fazenda. Outros itens da cozinha são encomendados, vindo até de outras cidades. Será esse o segredo da longevidade? Lúcida como nunca, ela fala sobre a irmã -- a professora Diva --, que morreu aos 96 anos. Não esquece também dos pais, Elias e Francisca Tannos.

Entre as dicas para manter-se longeva e ativa, o otimismo. “Aprendi com a minha mãe a nunca reclamar de nada na vida. Quanto mais reclama, mais fica pesado”, disse. Mas não é só isso. “Tenham boas conversas, boas leituras e bons amigos. Ainda tem que ter fé e lembrar que existe um Deus que nos ama e que está sempre conosco”. Ela também faz questão de lembrar do filósofo chinês Chuang Tzu, que viveu cerca de 600 anos antes de Cristo. Foram quase seis décadas de dedicação à medicina, milhares de pessoas atendidas e alunos formados e uma sensação que parece se sobressair às outras, a do dever cumprindo. (Marcel Scinocca)