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Habitação

Imóveis acessíveis: quem precisa encontra o que busca?

Demanda por moradias adaptadas cresce com o envelhecimento da população, mas mercado ainda oferece soluções limitadas

10 de Abril de 2025 às 16:16
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. (Crédito: Divulgação)

O envelhecimento da população e a luta por inclusão social têm aumentado a demanda por imóveis com acessibilidade. Segundo projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até 2030 o número de pessoas com mais de 60 anos deve superar o de crianças e adolescentes no Brasil. Paralelamente, o Censo 2022 apontou que mais de 18 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência, o que reforça a importância de moradias planejadas com acessibilidade desde a planta.

Apesar das exigências legais, o setor imobiliário ainda responde de forma tímida a essas necessidades, limitando-se ao mínimo previsto em lei. Para o arquiteto Guilherme Bissoli, da Guedes & Bissoli – Arquitetos Associados, é preciso repensar a forma como as residências são projetadas. “Uma casa não é pensada exclusivamente para um único morador. O mercado tenta ampliar o leque de compradores, mas isso raramente se traduz em iniciativas reais de acessibilidade”, avalia.

A acessibilidade habitacional, segundo ele, deveria ser tratada como planejamento de vida. “Todos vamos envelhecer. A praticidade da casa está em todas as suas dimensões. Morar bem significa evitar obstáculos. Uma escada hoje pode parecer comum, mas será um desafio no futuro”, diz.

Além de rampas e barras de apoio, ele alerta para detalhes que passam despercebidos, como a largura de corredores, a organização de armários e o tamanho dos banheiros. “Os lançamentos têm privilegiado múltiplos banheiros pequenos, quando o ideal seria ao menos um com espaço suficiente para mobilidade.”

A vendedora Beatriz Vitória, de 22 anos, morava com a avó de 80 anos e precisou adaptar a casa para garantir mais conforto e segurança. “Instalamos apoios nos cômodos e proteção na cama dela, mas ainda falta muita estrutura. Seria importante ter mais rampas em todos os lugares”, afirma.
Ainda, segundo o arquiteto, essa é uma visão ainda ausente nos projetos habitacionais. “As casas acompanham o ciclo da vida, da juventude à velhice. Mas a maioria dos imóveis não é flexível. Poucas plantas permitem adaptações futuras. Falta visão de longo prazo.”

Outro ponto levantado por Bissoli é a chamada “acessibilidade financeira”. Ele lembra que, além de adaptar os espaços fisicamente, é preciso pensar na viabilidade econômica. “Em cidades de alta densidade, o metro quadrado é caro e muitos recorrem a imóveis menores, sem estrutura. Um imóvel barato, mas longe de serviços básicos e com calçadas intransitáveis, deixa de ser acessível.”

Apesar das dificuldades, ele acredita que a conscientização tende a crescer. “Muitos ainda vão passar por casas-laboratório, até entenderem que um lar não se mede em metros, mas em adaptabilidade”, conclui.