A matéria publicada aos 22 de março neste jornal mostrou a situação indefinida das obras de restauração do edifício que abriga o Mosteiro de São Bento, cujas incertezas o extrapolam e atingem o patrimônio cultural do município e da sociedade. Seguem alguns comentários.

A Ordem de São Bento (ou Ordem Beneditina) é a mais antiga ordem religiosa católica monástica, tomou corpo após a publicação da “Regula Benedicti” (529), por São Bento de Núrsia, e é fundada nos preceitos de convivência social. Dentre estes, estavam a promoção do ensino, a oração e o trabalho (“Ora et Labora”); ao lado de cada mosteiro sempre havia uma escola, que a tornou um dos centros culturais da Idade Média.

No Concílio de Vaison (529) a Igreja Católica tinha interesse na alfabetização e a criação de escolas em áreas rurais foi defendida por vários bispos. Durante o império (768-814) de Carlos Magno os católicos iniciaram a primeira política escolar na Europa, da qual a Igreja organizou as escolas nos níveis primário, secundário e superior (Universidade de Bologna, por exemplo). Da religião nasceram a ciência e quase todas as instituições sociais.

O Mosteiro de São Bento foi fundado em 21/04/1660 pelos monges beneditinos após a doação do terreno por Baltazar Fernandes; desde então faz parte da história da cidade e da Igreja. A Ordem de São Bento é uma das mais antigas com edifício original ainda existente, um signo que, acrescido de importância, torna-se um símbolo e seu significado é a representação (material) que possui.

Ainda que o Mosteiro tenha quase 365 anos de construção, traz ao presente quinze séculos de existência da ordem religiosa a que pertence. À luz da história representa um período inexistente da nossa civilização e, deixá-lo sem a devida restauração, conduzi-lo-á à ruína e dele sobrarão somente desenhos, fotografias, ilustrações, testemunhos e vídeos.

A representação preenche um vazio através da ideia ou pensamento que podemos ter do objeto ou ser que ficou para trás, encoberto pela poeira do tempo. Se o edifício do Mosteiro de São Bento for à ruína e desaparecer, a representação material dele será reduzida em textual, numa narrativa histórica fundada apenas nos vestígios deixados (fotografias e testemunhos, por exemplo).

Conclusivamente, o edifício do Mosteiro de São Bento é mais do que um símbolo da cidade de Sorocaba; também representa a história da Ordem Beneditina e das primeiras escolas, criadas pela Igreja Católica para desenvolver a ciência e o conhecimento, como ainda temos e aprendemos. Se for arruinado, perderá seu significado e deixará para trás os quinze séculos de existência da ordem religiosa que fez e ainda faz a História, inclusive desta cidade. Nada a mais.

Marcelo Augusto Paiva Pereira é arquiteto e urbanista.