Press Enter and then Control plus Dot for Audio
Sorocaba, Quinta-feira, 27 de Março de 2025

Buscar no Cruzeiro

Buscar

Editorial

O "empréstimo do Lula"

25 de Março de 2025 às 21:50
placeholder
placeholder

Na semana passada, momentos antes de viajar ao Japão, todo eufórico, o presidente brasileiro usou suas redes sociais para anunciar “a redescoberta da pólvora ou da roda”. Ironia à parte, no vídeo Lula disse mais ou menos assim: “você que é CLT, empregado e empregada de MEI, trabalhador e trabalhadora doméstica ou assalariado rural: a partir de hoje já está disponível o #CréditoDoTrabalhador no seu aplicativo oficial da Carteira de Trabalho digital. 47 milhões de pessoas já podem acessar crédito consignado para reforma, comprar geladeira, fogão...”.

Pois bem, ao que parece, o governo achou que com essa ideia iria recuperar rapidamente a popularidade de Lula. Afinal, os brasileiros não estão conseguindo nem comprar ovos. Essa fixação de que encontraram a saída para agradar a plateia, levou a agora ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais do governo, Gleisi Hoffmann, a gravar um vídeo, no sábado, anunciando o “empréstimo do Lula”, numa flagrante propaganda do “crédito do trabalhador”. “Apertou o orçamento? O juro tá alto? Pega o empréstimo do Lula”, disse a ministra, como se o presidente fosse uma financeira a quem devedores desesperados recorrem. Resultado, teve que apagar o “anúncio” devido a uma onda de críticas, especialmente do partido Novo, que acionou o Tribunal de Contas da União (TCU). O partido alegou que a ministra estava utilizando a plataforma para fazer promoção pessoal do presidente Lula, o que gerou um debate acalorado sobre a legalidade da ação.

Fato é que o governo está (ou estava) tentando surfar na onda negativa que se tornou a vida financeira do brasileiro, devido a dificuldade de comprar comida e pagar as contas básicas, já que a inflação não dá trégua e o Copom do Banco Central precisou elevar a taxa básica de juros a 14,25% ao ano.

O que atesta que o brasileiro está desesperado para sair do buraco é que, em apenas três dias, 40,1 milhões de trabalhadores com carteira assinada realizaram simulações sobre a nova modalidade de crédito lançada pelo governo. Desse total, 4,5 milhões efetivamente solicitaram o empréstimo consignado e 11 mil contratos já foram formalizados, segundo o Ministério do Trabalho. Os números evidenciam o interesse dos brasileiros e o filão que o governo deverá explorar na campanha eleitoral.

O público-alvo da medida são trabalhadores do setor privado com carteira assinada, empregados domésticos, trabalhadores rurais, assalariados e microempreendedores individuais (MEIs), que pagam, de fato, taxas bem mais altas do que as cobradas de aposentados, pensionistas e funcionários públicos em empréstimos consignados. A nova linha permitirá usar como garantia até 10% do saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e 100% da multa rescisória em caso de demissão.

Aí que entra uma informação que o governo não deu a devida atenção ou até mesmo fez questão de esconder. O dinheiro a ser emprestado ao trabalhador já é de propriedade do trabalhador, só que é administrado pelo governo. Ou seja: o trabalhador vai emprestar o seu próprio dinheiro a ele mesmo, mas o juros que ele vai pagar por isso vai se reverter em lucro para alguém, menos para ele. Parece até pegadinha...

Se o governo realmente quisesse ajuda o trabalhador a ter um alívio financeiro e a pagar menos juros ao emprestar dinheiro, deveria, sim, liberar os recursos do FGTS aos seus verdadeiros donos e não tentar lucrar e lacrar em cima do desespero do trabalhador endividado. E por qual motivo não libera os recursos? O dinheiro do FGTS é usado pelo governo para aplicações em investimentos, como títulos públicos federais, habitação, saneamento e infraestrutura.

Então, fica claro que o foco de Lula, nesse momento, é criar soluções para tentar parar o desmoronamento de sua popularidade, como atestam seguidas pesquisas de opinião, de olho na campanha à reeleição do presidente, e não ampliar as possibilidades de uso dos recursos do FGTS. Hoje, o trabalhador pode sacar o FGTS em algumas situações, como demissão, doenças graves, aposentadoria, financiamento habitacional, por exemplo.

O que se espera de um governo realmente preocupado com o País e seus moradores é a busca por soluções que melhorem a vida de todos de forma significativa. Uma dessas soluções passa sem dúvida em gastar o dinheiro público de forma honesta e com critérios. Somente essa atitude já traria reflexos que culminariam na redução da taxa de juros e menos inflação.

Mas Lula não pensa assim e só foca o poder pelo simples poder. Se “o empréstimo do Lula” realmente fosse “salvar” a vida do trabalhador, o próprio ministro do Trabalho e Emprego dele, Luiz Marinho, não teria aconselhado os trabalhadores a não terem pressa. “Busquem o máximo possível de propostas, compare todas, e só feche negócio após análise criteriosa. Tenha paciência, só tome [empréstimo] em caso de extrema necessidade”, avisou.