Press Enter and then Control plus Dot for Audio
Sorocaba, Quarta-feira, 2 de Abril de 2025

Buscar no Cruzeiro

Buscar

Editorial

Páscoa (quase) sem chocolate

29 de Março de 2025 às 20:00
placeholder
placeholder

Pesquisa da Universidade de Sorocaba (Uniso), que foi notícia da edição de ontem deste jornal, compara os preços de ovos de Páscoa praticados em seis supermercados de Sorocaba e mostra uma variação de até 244% em 14 tipos do produto oferecidos por marcas tradicionais do mercado.

Há ovos de Páscoa vendidos a R$ 622,60 o quilo, mas também produtos que custam R$ 180,54 o quilo. Na comparação com o ano passado, os pesquisadores observaram um aumento médio de 20,57%, em média, no preço praticado neste ano. Mas há produtos que tiveram 45,50% de aumento em relação a 2024.

E quem é o vilão da vez? O aumento do custo do cacau em nível mundial, de cerca de 180% em dois anos, está refletindo no valor dos produtos para a Páscoa e para a produção permanente do setor. A alta da fruta se concentrou no segundo semestre do ano passado, em decorrência da quebra de safra nos grandes produtores africanos.

A instabilidade no setor deve se manter também nesta temporada, com o maior produtor, Costa do Marfim, ainda enfrentando impacto significativo de ondas de calor e da seca.

Como consequência, o setor de chocolates prevê uma retração de cerca de 20% na quantidade total de ovos de Páscoa produzidos neste ano, em relação à produção do ano passado, com reflexo na contratação de mão de obra e da cadeia de negócios que envolvem a data comemorativa, já que há muito empreendedor individual que espera, na Páscoa, a oportunidade de vender a sua produção caseira.

Para lidar com o aumento de custos, o setor usa como estratégia a diversificação de portfólio, com produtos menores e mais variados. Como o chocolate não é um produto essencial, como o arroz ou uma proteína (ovo, carne ou equivalente vegetal) seu consumo pode ser diminuído ou evitado mais facilmente. Com isso o preço tem um limite, a partir do qual a demanda começa a cair.

Todo esse movimento econômico em torno do preço do ovo de Páscoa tem um reflexo político no âmbito do governo federal. Embora seja fruto de uma situação global em torno do cacau, há exemplo do preço do ovo de galinha, do tomate, do café — e de outros produtos básicos para a alimentação do brasileiro, o custo final do chocolate ao consumidor final — principalmente para quem tem filhos pequenos e para os chocólatras, de forma geral, tem sim um impacto negativo no governo Lula, a ponto de auxiliares do presidente demostrarem um incômodo com essa situação sazonal que envolve o preço do ovo de Páscoa.

O consumidor, indignado com a alta dos preços de outros produtos acaba colocando a dificuldade em comprar chocolate na conta do governo Lula. É quase inevitável essa relação, principalmente para quem sente no bolso o custo dos produtos aumentarem a cada dia, enquanto o governo, aparentemente não faz nada a não ser promessas de que os preços irão cair em algum momento assim como a popularidade de Lula vem despencando.

No Brasil, a perspectiva é de aumento de safra, após quedas sucessivas. O País é atualmente o sexto maior produtor mundial de cacau, com mais de 90% da produção nos Estados do Pará e Bahia, com uma produção anual de 300 mil toneladas por ano.

São Paulo e o norte de Minas são outras possibilidades de áreas de cultivo. Outra tendência é o aumento do processamento do cacau no país, gerando produtos com maior valor agregado tanto para o mercado externo quanto para o interno.

Há, no entanto, ainda muita volatilidade e incerteza dentro do mercado, tanto em relação à oferta, quanto em relação à demanda e principalmente aos preços que esses produtos serão ofertados. Isso pega toda a cadeia de valor, não só na amêndoa de cacau, mas nas indústrias moageiras, indústrias de derivação e também na disponibilização desses produtos ao consumidor.

A crise na oferta mundial de cacau levou à criação da Cacau Brasileiro, uma iniciativa da indústria brasileira para promover a imagem do produto em mercados estratégicos, como Estados Unidos e Europa. Recentemente, dirigentes da Associação Nacional dos Produtores de Cacau afirmaram que a cadeia produtiva na prática “tem sido boicotada” pelo governo e pediram que governo valorize o cacau brasileiro.