Agro
Reflexão sobre novos defensivos agrícolas
Aumentar o número de registros não necessariamente significa aumentar o consumo deles
O Brasil pode até ser conhecido como o país do futebol, mas em tempos de ânimo político exaltado o esporte favorito de muitos é criticar o agronegócio.
Quando alguém quer se “gabar” do País em que vive, é comum dizer frases de efeito exaltando a força que vem do campo, nossa importância como celeiro do mundo e a responsabilidade que o produtor carrega nas costas para levar alimento à mesa das famílias.
Por outro lado, quando quer expressar seu descontentamento político, econômico ou ideológico, é também o agronegócio a bola da vez. Nessa hora, somos responsáveis pelos problemas ambientais, culpados pelo aquecimento global e vilões da mudança climática.
O que quase ninguém lembra é que nossa produção agrícola é eficiente e conseguimos, com a mesma área de terra cultivada, produzir mais alimentos do que anos atrás.
Nossa pecuária também se modernizou e, sem aumentar um palmo de pasto, somos capazes de produzir mais carne por hectare em menos tempo, apenas melhorando a eficiência genética do rebanho.
Essa mudança de opinião de acordo com a conveniência me deixa em dúvida se as pessoas “amam odiar” ou “odeiam amar” o agronegócio.
Nos últimos dois anos, além de especialistas em pandemia, parece também que arrumamos muitos experts em defensivos agrícolas. Cada vez que surge uma notícia sobre o registro de novos produtos, aparece alguém para dizer que o “agro é tóxico”. A maioria desses “especialistas” nunca produziu nada no campo, mas se acha capaz de opinar.
É como se o produtor rural brasileiro, além de irresponsável, não soubesse fazer contas. O uso de defensivos é necessário, mas utilizado na medida certa. Muitos daqueles que gritam aos quatro cantos que o aumento no número de registros de defensivos no País é um risco à saúde da população não sabem que esses produtos representam quase 1/3 do custo de produção da lavoura.
Por que o produtor iria aumentar sua despesa dessa maneira sem motivos? O Brasil exporta para mais de 150 países, se os resíduos estivessem acima do limite, será que eles ainda comprariam de nós?!
Alguns números são importantes e precisam ser analisados. De 2016 para 2017, o número de registros de defensivos agrícolas subiu de 277 para 405, segundo dados do Ministério da Agricultura (Mapa). Porém, nesse mesmo período, a venda dos ingredientes ativos caiu!
Nos seis primeiros meses de 2019, o número de registros de defensivos agrícolas chegou a 211, o que representou a média dos últimos anos. Em 2018, no primeiro semestre, foram registrados 208 produtos. Em 2017, no mesmo período, tivemos 171 registos, segundo dados da coordenação-geral de Agrotóxicos e Afins da Secretaria de Defesa Agropecuária.
Em 2020 o País bateu recorde no registro de defensivos agrícolas, fechando o ano com 95 novos registros de produtos de baixo impacto (sendo quatro de princípios ativos novos -- todos os outros foram variações de princípios ativos já utilizados). Boa parte deles pode ser utilizada na agricultura orgânica, deixando nossa produção agrícola ainda mais sustentável. Lembram do barulho que isso causou?
Na semana passada o Mapa anunciou o registro de mais 64 defensivos, sendo 12 de baixo impacto e um de princípio ativo inédito no país. Com esses 12, já temos 39 produtos de baixo impacto para o controle de pragas (biopesticidas) registrados em 2021, totalizando 450 produtos de baixo impacto disponíveis para o produtor.
Você certamente já deve ter ouvido críticas a respeito. Mas será que elas fazem sentido? O fato de termos mais remédios hoje nas farmácias, do que tínhamos há uma década, também é um problema? Ou é simplesmente a evolução da medicina como um todo?
O que determina o uso de defensivos é a existência de pragas, doenças e plantas daninhas, não a quantidade de produtos disponíveis. Aumentar o número de registros não necessariamente significa aumentar o consumo. O que acontece, na verdade, é que surgem novas marcas, com produtos mais eficientes e modernos, dando assim mais opções ao produtor e, consequentemente, diminuindo o volume de defensivos utilizados (mais eficiência, menos consumo).
É inegável que a população mundial está preocupada com a qualidade dos alimentos e com a forma como eles são produzidos, e não poderia ser diferente.
Os mercados internacionais são exigentes e comitivas de todas as partes do mundo observam nosso sistema de produção como se estivessem com uma lupa, de maneira intensa e extremamente detalhada.
Todos nós sabemos que o mundo precisa estar atento às questões ambientais e que medidas urgentes devem ser adotadas para reverter as mudanças climáticas e diminuir o impacto ambiental causado pelo estilo de vida moderno que temos nos dias de hoje. Porém, não podemos jogar toda essa conta na fatura do produtor!
Assim como não podemos absorver para o Brasil toda a responsabilidade desse desafio. Afinal, nós ainda temos a Amazônia; a maior reserva de água potável do mundo; e uma das maiores fontes de sequestro de carbono do planeta. Bem diferente do que resta na maioria dos países desenvolvidos.
Já ouviu dizer que a vida imita a arte? Parece que somos personagens daquela animação que conta a história de um dos vilões mais bonzinhos e queridos do cinema: Meu malvado favorito.
Denis Deli é jornalista especializado em agronegócio, pós-graduado em produção e reprodução animal.