Incêndios em imóveis residenciais e comerciais continuam sendo uma grande preocupação no Brasil, especialmente após o aumento da demanda por equipamentos elétricos e gás de cozinha no pós-pandemia. Segundo o engenheiro eletricista e de segurança do trabalho Almir Buganza, a principal causa de incêndios em imóveis está relacionada a falhas elétricas, seguidas pelo uso inadequado de aquecedores, cigarros acesos, instalações de gás mal planejadas e fatores humanos.

Muitas dessas ocorrências poderiam ser evitadas com medidas simples. Buganza alerta que um dos erros mais recorrentes é a sobrecarga dos circuitos elétricos. “É muito comum vermos o uso excessivo de benjamins e extensões para conectar vários aparelhos em uma única tomada. Isso gera um aquecimento dos fios e pode levar a curto-circuito e incêndios”, explica. Além disso, a falta de manutenção em instalações elétricas e de gás também representa um risco significativo. “Botijões de GLP devem ser mantidos em locais ventilados e longe de fontes de calor. Muitos incêndios começam em cozinhas devido a descuidos com essas instalações”, acrescenta o engenheiro.

Para evitar tragédias, algumas precauções são essenciais. “Todo imóvel deve contar com instalações elétricas seguras, equipamentos de combate a incêndio, como extintores e mangueiras certificadas pelo INMETRO. Além disso, é fundamental manter o gás bem armazenado e evitar o acúmulo de produtos inflamáveis próximos a fontes de calor”, orienta Buganza. A escolha de equipamentos e materiais certificados é outro fator essencial. “Reguladores de gás, fiação e tomadas devem seguir as normas técnicas. Qualquer adaptação improvisada pode ser um perigo”, reforça o especialista.

O Brasil possui normas rigorosas para segurança contra incêndios, mas a interpretação dessas regras pode ser complexa para os proprietários de imóveis. “Minha recomendação é que se busque sempre uma empresa habilitada para auxiliar nesse processo”, orienta Buganza. Ele cita o Decreto nº 69.118, de 9 de dezembro de 2024, e as Instruções Técnicas do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo (ITs) como referências fundamentais para garantir que um imóvel esteja de acordo com as exigências de segurança. “Na região de Sorocaba, há diversas empresas especializadas que podem ajudar. O importante é escolher uma empresa idônea, devidamente registrada em órgãos fiscalizadores como CREA e CAU”, enfatiza.

Além de atuar na área de segurança, Buganza é proprietário da patente de Modelo de Utilidade nº MU8001196-9, que corresponde a uma “Disposição Aplicada em Pista de Segurança para Treinamento no Combate a Incêndios”. O sistema tem como objetivo aprimorar a capacitação de profissionais e cidadãos para lidar com incêndios de maneira mais eficiente. “Criamos um ambiente controlado e realista para que as pessoas possam aprender, na prática, como agir diante de um incêndio, utilizando extintores e outros equipamentos de forma correta”, explica o engenheiro. Segundo ele, a iniciativa busca reduzir o despreparo da população e evitar que erros comuns sejam cometidos em momentos críticos.

Se um incêndio ocorrer, agir rapidamente pode salvar vidas e minimizar danos. Buganza destaca a importância de manter a calma, avaliar a situação e identificar a origem do fogo antes de tentar contê-lo. “Alerte as pessoas no local, acione o alarme de incêndio em prédios comerciais, desligue equipamentos elétricos no quadro geral e feche os registros de gás imediatamente. Se for possível, utilize extintores adequados conforme a classe do incêndio e evacue o local com segurança. Caso fique preso, vá para um cômodo com janelas, vede as portas com toalhas molhadas para evitar a entrada de fumaça e chame o Corpo de Bombeiros pelo telefone 193”, orienta.

Mesmo com leis e normas de segurança, a prevenção contra incêndios ainda enfrenta desafios no Brasil. “Há muitos estados e municípios que investem na conscientização desde cedo, mas isso ainda é insuficiente. Existe um mercado paralelo que tenta burlar o sistema, com treinamentos irregulares e até certificações falsas”, critica Buganza. Apesar disso, ele reconhece o esforço de muitos profissionais sérios que trabalham para garantir a segurança das edificações. “Felizmente, há especialistas comprometidos com boas práticas e normas técnicas, promovendo treinamentos de qualidade e projetos eficazes de prevenção”, ressalta.

Guilherme Henrique Villar, técnico de segurança do trabalho e meio ambiente, viveu uma situação de risco em dezembro de 2024, durante uma confraternização no sítio de seu tio, em Porto Feliz. Enquanto assavam uma leitoa em um forno, o óleo da assadeira pegou fogo ao entrar em contato com a chama da lenha. “A bandeja começou a queimar rapidamente e poderia ter se espalhado para outros pontos da cozinha”, relata. Ele sabia que se tratava de um incêndio classe K, característico de óleos e gorduras de cozinha, e que jogar água poderia causar uma explosão. “Na hora, pedimos panos úmidos e abafamos o fogo, conseguindo apagá-lo rapidamente. Felizmente, os danos ficaram restritos à assadeira”, conta. O episódio reforça a importância do conhecimento sobre prevenção e combate a incêndios, mostrando como atitudes corretas podem evitar que um incidente se transforme em tragédia.