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Editorial

Tudo está interligado

A notícia, que num primeiro momento parece boa, pode prejudicar as exportações e o faturamento do agronegócio nacional

05 de Janeiro de 2024 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Batata foi um dos itens que sofreu com o aumento da inflação
Batata foi um dos itens que sofreu com o aumento da inflação (Crédito: Fábio Rogério )

O Brasil busca, desde o fim da pandemia, reduzir os índices inflacionários e, com isso, permitir o corte nos juros e facilitar a liberação de crédito. Os mais de dois anos que a Covid 19 desorganizou as cadeias produtivas e de logística no planeta inteiro começam a ficar para trás e a previsibilidade dos negócios aumenta.

A retomada só não foi mais rápida por causa das disputas territoriais que estão em andamento. O enfrentamento entre Rússia e Ucrânia está prestes a completar dois anos, sem uma perspectiva de solução, e, desde de outubro, as coisas se acirraram no Oriente Médio com os ataques do grupo terrorista Hamas a Israel.


Nesse cenário de muitas incertezas, fica difícil adivinhar, e acertar, o que vai acontecer até o final de 2024. O que se sabe, por enquanto, é que os preços dos alimentos no mundo começaram a cair. A notícia, que num primeiro momento parece boa, pode prejudicar as exportações e o faturamento do agronegócio nacional. Com a arrecadação de impostos menor, vinda desse setor, o governo também pode ter dificuldade para cumprir suas metas orçamentárias.

O vai e vem dos preços no mercado interno pode ser exemplificado pela situação vivida aqui em Sorocaba. Os dados coletados pelo Laboratório de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade de Sorocaba (Uniso) mostram que, no ano passado, tivemos seis meses de altas nos preços da cesta básica e seis meses de retração. No acumulado, o custo da cesta básica sorocabana fechou em queda de 1,87%. Um resultado melhor que o computado no fim de 2022 que apontava para uma alta de 6,6% num país que acabava de passar por eleições gerais acirradas e ainda sentia os efeitos maléficos da pandemia.

Ao contrário do Brasil, e de Sorocaba, o ano de 2023 terminou com uma redução no preço de boa parte dos produtos agrícolas. O Índice de Preços de Alimentos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), teve queda de 1,5% em dezembro em comparação com o mês anterior. A FAO atribuiu esse resultado às baixas nos índices de preços dos óleos vegetais, do açúcar e da carne, que mais do que compensaram as altas nos índices de cereais e produtos lácteos. Em comparação com o mesmo mês em 2022, o índice recuou 13,3 pontos (10,1%). No conjunto de 2023, o índice registrou 124 pontos, 19,7 pontos (13,7%) abaixo do valor médio do ano anterior.

O dado preocupante é que os alimentos que mais tiveram recuo nos preços são exatamente aqueles em que o Brasil responde por grande parte das exportações globais. O agronegócio do país, além de ter que lidar com essa queda de preço, ainda precisa enfrentas as intempéries climáticas que estão afetando as lavouras de vários estados. Queda de preço somada a queda de produtividade pode resultar num problemão para quem vive de plantar e colher.

O mesmo estudo da FAO aponta alta no preço dos cereais, principalmente o trigo, cuja produção é amplamente dificultada pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia. No mês de dezembro, os preços de exportação do trigo subiram bastante com as perturbações logísticas relacionadas ao clima em países exportadores e as tensões no Mar Negro.

Todo esse emaranhado que envolve geopolítica, climatologia e agricultura parece distante da vida da população brasileira, mas é essa equação que vai determinar os índices inflacionários e o crescimento econômico do País. Nada chega à mesa do consumidor sem passar pelos cálculos matemáticos de quem opera nesse setor. O preço da cesta básica que você vai comprar na feira ou no supermercado reflete a situação de momento no Brasil e no mundo, tudo está interligado.