Celso Ming
Recessão no radar

O principal efeito esperado da guerra comercial em curso no mundo é uma forte recessão.
As principais indicações disso são a derrubada dos preços do petróleo e dos índices das bolsas. Nos dois dias úteis que se seguiram ao anúncio do tarifaço, o petróleo tipo Brent despencou 11,1%, o que reflete a expectativa de brutal queda do consumo. O índice S&P 500 recuou 10,5% e o Nasdaq 11,4%, o que indica forte queda dos lucros das grandes empresas.
Num primeiro momento, a inflação nos Estados Unidos será inevitável porque refletirá o aumento dos preços dos produtos importados. Mas a recessão deverá encarregar-se de derrubar a demanda de bens e de serviços e, a partir daí, comandar novo ajuste dos preços — desta vez, para baixo.
Os grandes bancos centrais, principalmente o Fed, dos Estados Unidos, ficarão entre a bigorna e o martelo. Terão de decidir entre elevar os juros para enfrentar a inflação ou esperar que a recessão faça o serviço principal. Essa incerteza mexerá com a remuneração dos títulos públicos, com o câmbio e com o comportamento da economia global.
Insegurança e incerteza continuam muito acentuadas e deverão dificultar as grandes tomadas de decisão. Não se sabe quais são os principais objetivos do presidente Trump, uma vez que ele já enunciou uma fieira deles: esmagar a China; desmantelar o aparato global que permitiu o “roubo” sistemático de riquezas e de empregos dos Estados Unidos; aumentar a receita e, assim, reduzir a carga tributária; estancar o fluxo migratório ilegal; impor sanções a governos que contrariem a nova política; forçar o alargamento do prazo de vencimento da dívida dos Estados Unidos; e por aí vai.
Como as principais potências econômicas já providenciaram revides, como a China, ou preparam ações para contrapor Trump, teremos mais chacoalhadas neste tsunami.
E tem a esperada disposição de negociar. As novas tarifas foram estabelecidas com base em um cálculo arbitrário, destituído de bases técnicas: o déficit comercial dos Estados Unidos com cada país foi dividido pelo valor das importações desses mesmos países. O resultado foi, então, dividido por dois — o que, segundo Trump, refletiria sua “generosidade”. Mas nada é definitivo. Dependerá das reações e de eventuais proteções não aduaneiras em vigor.
A imposição de tarifa adicional de 10% sobre as exportações do Brasil parece baixa. Mas, se prevalecesse o critério adotado, o superávit dos Estados Unidos (e não o déficit que é tomado como dividendo), resultaria em tarifa negativa. Portanto, a adotada acaba por ser alta demais.
A única certeza é a de que tudo piorou.
Celso Ming é comentarista de economia.