Movimentos pela vida na prevenção do suicídio
Artigo escrito por Tatiana Doval Amador
O que te faz bem?
O que te faz feliz?
O que faz a tua vida valer a pena?
Falar da vida é trazer à superfície temáticas que se entrelaçam no cotidiano. Dimensões que vão além da condição de saúde individual e extrapolam para um coletivo, considerando os aspectos do ambiente e do contexto sociopolítico. Neste sentido, o que nos faz feliz tem relação com aquilo que pode afetar diretamente a vida cotidiana.
O desemprego ou o medo de perder o emprego, a insegurança sobre a aposentadoria, as violências estruturais, as incertezas com relação ao futuro, as questões de moradia e alimentação, dentre outras, nos remetem aos marcadores sociais de raça, gênero e classe, considerando suas interseccionalidades, nos atravessamentos da vida humana.
O convite para a conversa “Movimentos pela vida na prevenção do suicídio” chama a atenção para o lugar das vozes, no sentido de um compartilhamento daquilo que faz sofrer.
Porém, como falar de algo que talvez não tenha escuta? Será que na nossa rede social -- real e virtual --, temos espaços para isso? Será que nossa sociedade, que produz sofrimento, consegue acolher esses mesmos sofrimentos? Há interesses ocultos na produção do sofrimento? Por quê?
No campo da terapia ocupacional, o trabalho com pacientes/usuários/sujeitos vai muito além da funcionalidade e atinge um outro plano na grandiosidade do cuidado em saúde, a vivacidade! Falar da vivacidade é se referir àquilo que o faz sentir-se vivo, que traz entusiasmo, potência, desejos, planos e produz vida.
A problemática do suicídio é complexa e ampla, com evidências do problema como um fenômeno com importantes determinações sociais. Trata-se de uma questão não exclusiva do campo da saúde, mas transversal a todos os setores da sociedade, como: meio ambiente, educação, assistência social, cultura, esporte, desenvolvimento, dentre outros.
A ideia aqui não é trazer prescrições, mas sim chamamentos. Compartilho alguns convites aos movimentos pela vida:
1º. Convite à coletivização: à medida que compartilhamos o que nos faz sofrer dividimos o peso do problema. Então, buscar grupos, não necessariamente de tratamento, mas grupos que acolham as nossas inquietações, resultando em possibilidades de encontros, de “estar junto” e construir estratégias de enfrentamentos coletivos.
2º. Convite à escuta: de si e do outro. Será que eu me escuto? Será que eu escuto as pessoas que convivem comigo? Será que eu consigo entrar em contato com a dor do outro? Será que eu me sensibilizo com a dor do outro?
3º. Convite à espiritualidade: diz respeito a uma dimensão humana. Como um processo individual de busca e expressão sobre o significado da vida, as relações com aquilo que transcende a materialidade e as experimentações das suas conexões consigo, com o outro, a natureza, o sagrado e com o que traz significado.
4º. Convite à participação social: envolvimento em espaços que possam pautar as políticas públicas de redução de desigualdades e transformação dos cotidianos.
Parafraseando Merhy (2012), a vida é um bem público que vale a pena ser vivida em suas singularidades e (a)diversidades. Nós temos o direito à vida e o dever coletivo de um comprometimento com a vida de cada um de nós!
Viver é um ato político de resistência!
Tatiana Doval Amador ([email protected]) é terapeuta ocupacional, professora dos cursos da Saúde da Uniso, mestra em Educação e doutoranda em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal de São Carlos.