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Editorial

Um erro imperdoável

De forma absurda, dois bebês receberam, em Sorocaba, doses da vacina da Pfizer contra a Covid no lugar da vacina pentavalente

05 de Dezembro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil)

No meio de casos policiais e das discussões em torno da nova variante ômicron, um episódio ocorrido em Sorocaba chamou a atenção pela fatalidade, infelicidade e indignação. De forma absurda, quase inacreditável, dois bebês -- uma menina de dois meses e um menino de quatro meses de idade -- receberam doses da vacina da Pfizer contra a Covid-19 no lugar da vacina pentavalente, que protege contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e contra uma bactéria responsável por infecções no nariz, meninge e garganta.

As duas mães levaram seus respectivos bebês na quarta-feira (1) para serem vacinados com a pentavalente na UBS (Unidade Básica de Saúde) do bairro Nova Sorocaba, na zona norte. Após receberem as doses, os bebês apresentaram febre alta, vômito e não conseguiam mais tomar leite. Enquanto as mães buscavam atendimento médico por conta dos sintomas, elas foram avisadas diretamente pelo secretário de Saúde, Vinícius Rodrigues, que havia ocorrido uma falha em relação à vacinação.

Devido ao quadro médico das duas crianças, foi dada às mães a opção de fazer o acompanhamento em casa ou em uma instituição de saúde. Ambas optaram pela segunda sugestão. Dessa forma, os dois bebês foram levados ao Hospital do Gpaci -- Grupo de Pesquisa e Assistência ao Câncer Infantil -- onde estão internados desde a noite de quinta (2). O hospital é referência em Sorocaba, e onde a prefeitura tem contrato para manter leitos infantis. Após a internação, as duas crianças felizmente não tiveram sintomas agudos. Até o momento não precisaram de remédio específico, mas receberam soro e, na manhã de anteontem conseguiram tomar leite normalmente. Os bebês passarão por um teste de sorologia e, em seguida, receberão a dose correta da pentavalente.

De acordo com relato dos médicos para as mães, uma das preocupações é com relação a possíveis sequelas que as crianças possam apresentar.

Para efeito de informação, a Pfizer já anunciou que pretende pedir autorização para o uso da vacina em bebês acima dos seis meses nos EUA. No Brasil, a empresa é a única autorizada pela Anvisa para ser usada nos adolescentes a partir dos 12 anos.

Um elogio à postura da prefeitura e da secretaria de Saúde, que chamou para si a responsabilidade e destacou o próprio secretário para atender as duas mães e comunicá-las do fato. Infelizmente, porém, a postura correta e corajosa da administração municipal não atenua a fatalidade dessa quase tragédia.

O erro da atendente que aplicou a vacina é absurdo, injustificável e inaceitável. O secretário de Saúde explicou que a falha foi descoberta no dia seguinte à aplicação, durante a checagem do estoque de vacinas. A técnica de enfermagem responsável pela lambança alegou que confundiu os frascos, pois ambos são parecidos. Ela foi afastada dos procedimentos injetáveis e deslocada para uma área interna da UBS. Enquanto isso, foi instaurado um procedimento administrativo para definir quais medidas devem ser tomadas.

Logo após ter sido acionado pela equipe da UBS, o secretário entrou em contato com o Ministério da Saúde e com a farmacêutica responsável pela fabricação da vacina contra a Covid-19, sendo informado de que outros casos semelhantes já foram registrados no País e que as crianças tiveram febre por dois dias, mas depois ficaram bem. Os órgãos também recomendaram que os bebês fiquem em observação por um período de dez a 15 dias.

Certamente os fatos serão apurados e as penalidades, aplicadas. O correto é o profissional conferir o frasco antes da administração, isso certamente não foi feito. Porém, não podemos condenar toda uma classe por um erro de um profissional. Pelo contrário. Devemos agradecer aos profissionais de saúde que dedicaram corpo e alma na batalha contra a Covid.

Além da profunda lamentação e indignação com o ocorrido, a lição que fica é que os pais devem abusar do direito de saber o que está sendo aplicado ou ministrado aos filhos. Infelizmente, não dá para confiar cegamente nos outros. Que o episódio sirva de alerta.